Vasco Matos: «Tivemos de reerguer os jogadores mentalmente»
Vasco Matos e o Santa Clara permanecem invictos na Liga 2. FOTO: CD Santa Clara

Vasco Matos: «Tivemos de reerguer os jogadores mentalmente»

NACIONAL26.12.202323:00

Vasco Matos, treinador do Santa Clara, em entrevista ao jornal A BOLA

Na sua estreia como treinador principal nos escalões profissionais, Vasco Matos é o timoneiro do atual líder da Liga 2. Em entrevista A BOLA, o técnico de 43 anos vincula que a face do Santa Clara mudou esta temporada em relação à anterior por mérito do staff técnico, mas também devido ao trabalho do departamento de... psicologia. «Fome de vencer» é o segredo para a invencibilidade, registo só acompanhado por 3 equipas nos dois escalões do top-7 europeu.

-Foi apresentando como técnico do Santa Clara no passado dia 20 de junho. Qual é o objetivo para este projeto, que é a sua primeira experiência no comando de uma equipa profissional? 

Quero consolidar o meu trabalho no mundo do futebol. Com o passar dos anos, senti-me cada vez mais preparado para orientar uma equipa a este nível. Quando aceitámos este convite do presidente [Bruno Vicintin], sabíamos que o clube vinha de uma temporada em que desceu de divisão. Portanto, o foco passou pela reestruturação do clube e da equipa para que houvesse um alinhamento entre a direção e a equipa técnica, e penso que os resultados estão à vista.

- Qual foi a maior dificuldade enfrentada quando chegou?

Quando chegámos, os jogadores que transitaram da época passada estavam descrentes. Havia muita frustração devido aos maus resultados. Criámos vários departamentos, nomeadamente o de psicologia. Tivemos de reerguer o jogador mentalmente e emocionalmente. No início, foi complicado porque era preciso dar carinho aos atletas e fazê-los entender que o futebol tem momentos bons e maus e que com trabalho e com a nossa ideia de jogo iríamos dar a volta.

Após a despromoção à Liga 2, Vasco Matos assumiu o comando técnico do Santa Clara. Foto: CD Santa Clara

Em 2023/24, o Santa Clara, o PSV, o Bayer Leverkusen e o St. Pauli são as unícas equipas no top-7 europeu ainda invictas nos respetivos campeonatos...

É a prova de que o trabalho, até ao momento, está a ser bem feito. Sou crente no meu trabalho e na minha ideia de jogo. Somos das poucas equipas europeias ainda invictas e somos a melhor defesa no plano nacional, com apenas 8 oito golos sofridos. Essas marcas deixam-nos orgulhosos e assumimos essa responsabilidade. O nosso segredo passou por incutir aos jogadores a mensagem de que temos de ter fome de vencer e estamos no bom caminho.

-Devido ao sucesso da equipa nesta primeira metade da época está preocupado com a reabertura do mercado de transferências?

Se está a falar de saídas, eu não pedi nenhum esforço ao presidente para segurar algum jogador em particular. Sei que existe cobiça por alguns jogadores, mas vamos apostar na continuidade e garanto que os jogadores estão com a cabeça no Santa Clara. No que toca a entradas, poderá haver alguns ajustes, mas serão jogadores para acrescentar valor e não para fazer apenas número. Os grandes reforços estão dentro do nosso plantel e não estamos em 1.º lugar por acaso...

O Santa Clara lidera a Liga 2 com 33 pontos, mais dois que o Aves SAD. Foto: Website CD Santa Clara

- Quais são os objetivos para esta temporada?

O primeiro está a ser conseguido, que passa pela valorização de jogadores. Posteriormente, foi traçado o objetivo de subir à Liga. Estamos também nos oitavos de final da Taça de Portugal e queremos ir o mais longe possível. Subir de divisão e marcar presença no Jamor era perfeito, mas sabemos que é complicado. O campeonato é o mais importante.

- Que análise faz desta Liga 2?

- Extremamente competitiva! Temos de estar sempre nos limites, se não corremos sérios riscos. Sinceramente, este ano é dos mais difíceis devido à qualidade de várias equipas que lutam pelo mesmo objetivo que nós.

- O presidente Bruno Vicintin afirma ter «grandes sonhos» para o Santa Clara. Como é a sua relação com ele?

O presidente é alguém com muita ambição. O clube está a crescer, até em termos de infra-estuturas, com a criação do centro de estágio a curto prazo. Agora, para sonhar alto no futuro é preciso construir o presente e dar passos sustentados. O dinheiro ajuda, mas não é tudo no futebol.

- Desejos para 2024?

-Ser feliz desportivamente com bons resultados e fazer crescer a equipa individualmente e coletivamente. É para isso que aqui andamos. Ganhar é a chave.

Polémica com Sérgio Conceição

Bem vivo na memória está o polémico jogo no Dragão entre o FC Porto e o Casa Pia na época passada, com vitória dos portistas (2-1). No final do jogo, existiu uma altercação verbal entre Sérgio Conceição, técnico dos azuis e brancos, e Vasco Matos, então técnico-adjunto dos gansos. Questionado sobre o que aconteceu, Vasco Matos é direto na resposta: «A vida encarregar-se-á de colocar toda a gente no seu lugar.»

Saída negociada

Nas três últimas épocas, Vasco Matos foi treinador-adjunto principal no Casa Pia. O agora técnico do Santa Clara «enaltece» o percurso ascendente do emblema de Pina Manique, abordando ainda o motivo da separação com Filipe Martins. «Eu tinha o 2.º nível de treinador e quando fui convidado para integrar a equipa técnica do Filipe, o objetivo era poder passar dois anos no futebol profissional para estar habilitado para o próximo nível. Sempre fui claro com as pessoas e disse que, quando tivesse o 3.º nível, caso surgisse uma oportunidade para orientar uma equipa, eu iria querer seguir o meu caminho. Surgiu o Santa Clara, que se sentou à mesa com o Casa Pia e negociou a minha saída.»

Paulo Fonseca alvo de elogios

Depois de carreira de quase 20 anos como jogador, Vasco Matos elegeu o técnico mais marcante: «Paulo Fonseca no Aves, em 2011/12, mostrou-me coisas que ainda não tinha percebido e a ideia de jogo cativou-me. Contudo, tive sempre bons treinadores, desde o Paulo Sérgio, Vidigal, Vítor Oliveira.»