Recordando o sucesso que teve nos sub-23 da Equipa da Linha e os jogadores que ajudou a projetar, o técnico, que se inspira em José Mourinho e em Julian Nagelsmann, olha para o que reserva o futuro
- Ganhou duas dobradinhas no Estoril sub-23, com vários jogadores que têm alcançado patamares interessantes. Que jogadores dessas equipas mais o impressionaram na altura e que o têm impressionado com a carreira que estão a fazer?
- Como é óbvio eu tenho orgulho em todos eles. O futebol é muito oportunidade e nem sempre as oportunidades aparecem para todos. É fácil de falar de atletas como o Toti Gomes que já jogou na Seleção e joga provavelmente na melhor liga do futebol mundial, temos o Chiquinho que já pisou esses patamares e agora regressou a Portugal… há inúmeros atletas. O caso, por exemplo, do Rodrigo Ramos, que fez agora uma época fantástica com muitos golos. Mas para o Vasco Botelho da Costa e para a sua a equipa técnica terem sucesso, todos os jogadores fizeram parte.
- O que o Vasco está a dizer vai ao encontro do facto de, como treinador, o trabalho que dará mais gosto de fazer é o de projetar jogadores e ter o feedback positivo deles?
- Ninguém pode fugir ao facto de ser avaliado pelo resultado, mas culturalmente, ainda não estamos preparados para saber identificar o mérito daquele que perde, dando o exemplo do trabalho fenomenal que a equipa do Borussia Dortmund fez este ano. Como treinadores, temos de perceber como é que cada foco de avaliação importa. A avaliação dos atletas é-nos muito importante porque eles é que estão connosco todos os dias, ajudamo-los a crescer e sentir essa troca constante de carinho e de feedback deles é muito importante para os treinadores.
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- O Estoril este ano voltou a ganhar a dobradinha no escalão de sub-23 (é a terceira vez que o faz em quatro anos). Acha que o clube tem o melhor projeto em Portugal no que toca à a projeção de jogadores deste escalão?
- Outras equipas também têm sucesso com filosofias diferentes. Não podemos não falar do sucesso do SC Braga, não sós dos três grandes, mas também do Vitória de Guimarães. Há inúmeros clubes que já trabalham bastante bem na formação e o Estoril é um deles, até porque as pessoas passam e o projeto continua a dar frutos. Sem dúvida que podemos colocar o Estoril num patamar de excelência naquilo que é a projeção de jovens atletas.
- E sobre um desses jovens que trabalhou com o Vasco no Estoril, o Tiago Santos, que tem sido associado ao Milan; esperava ver este crescimento tão repentino do jogador, primeiro no Estoril e agora no Lille e acha que teria a capacidade para jogar já numa equipa como de topo como é o Milan?
- O Tiago é um miúdo muito focado, diferenciado na dimensão física e tem muito sucesso devido a essas características. Juntando à experiência adquirida que já atingiu, é tudo uma questão de mentalidade, algo que que eu lhe reconheço. Não vejo porque não esteja preparado para dar essa resposta. Depois de ter a oportunidade e havendo o mindset correto, é uma questão de estar preparado para a agarrar e o Tiago tem-nas aproveitado muito bem e ainda tem, espero eu, uma promissora carreira para continuar.
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- Falando do futuro da sua carreira, já saiu da UD Leira há três meses, recebeu algumas propostas neste período?
- Felizmente o nosso trabalho tem sido reconhecido. Olhamos com ambição para o futuro, mas sem aquela pressa desmedida de ir a correr só para ter trabalho. A minha equipa técnica já deu provas de que podemos trabalhar para a valorização e potencialização de atletas, mas também mostrámos na UD Leiria que podemos ser uma equipa técnica de rendimento. O mais importante não é o patamar em si, mas sim o projeto. Tem havido algumas conversas e abordagens, olhamos para o futuro com ambição e muita tranquilidade.
- Sim. Seria um passinho mais, que não tem de ser dado já, mas se essa oportunidade aparecer, nós sentimo-nos preparados para dar resposta. Mas depende muito do projeto. O que é que podemos oferecer dentro da nossa identidade, que é muito própria, onde gostamos claramente de jogar um futebol ofensivo e de ter muita bola.
- Ainda é um treinador jovem, com 35 anos, mas já treina há praticamente 18 anos. Pergunto-lhe que treinadores mais o inspiraram, ou ainda inspiram, tanto do ponto de vista tático como também do mental e relacional?
- Felizmente, o futebol tem a particularidade de se poder ganhar de qualquer maneira. A quantidade de treinadores com estilos e personalidades completamente diferentes que já tiveram sucesso acaba é o que acaba por abrilhantar. Como treinador português não posso fugir à grande referência de todos nós que é o José Mourinho. Em termos táticos e do que é o jogo, claramente o Pep Guardiola e o Julian Nagelsmann, muito pela forma como veem o jogo. A busca pelas superioridades numéricas, fazer o jogo depender da nossa equipa e não tanto do adversário, são treinadores com os quais me identifico. Mas acho que todo o treinador nos pode ensinar algo e muitas vezes ensinam-nos o que não fazer, não por ser mau, mas porque depois, tem de haver a nossa autocrítica para perceber com o que nos identificamos mais. Há muitos treinadores a aparecer, o fenómeno Xabi Alonso esta época, por exemplo, que se diferencia em algumas nuances de outros. Agora, nós temos uma identidade muito bem definida e vamos continuar a crescer porque acho que estamos muito longe do nosso ideal e vamos aprendendo ano a após ano.
- Qual é o maior objetivo que tem para a sua carreira?
- Nunca fui alguém de ter objetivos a longo prazo. Gostava de chegar à Primeira Liga, é o que me aparece mais à frente, mas vivo muito do imediato. Lá está, depende da oportunidade. Chegar à elite do futebol no país onde cresci, onde é o meu habitat, era algo que gostava que acontecesse. Mas eu sou muito do agora e passo isso aos meus jogadores: não adianta pensar no jogo daqui a duas semanas, quando temos de pensar é no próximo.