«Varane tem razão para estar preocupado. A doença que está a matar jogadores chama-se ETC»
Filho de Nobby Stiles quis alertar futebol inglês para o risco dos cabeceamentos, mas pedido foi recusado: «Não querem que os jogadores saibam»
Depois de Raphael Varane ter vindo a público alertar para os perigos que as pancadas na cabeça podem trazer aos futebolistas, o filho do antigo internacional inglês Nobby Stiles defendeu que o central francês tem razão para estar preocupado, porque é uma doença real, que tira a vida a jogadores, como aconteceu ao seu pai, que morreu em 2020, vítima de encefalopatia traumática crónica.
«Os futebolistas normalmente começam a ter sintomas entre os 50 e os 60 anos. O meu pai teve um período em que sentia uma ansiedade terrível. E muitos jogadores têm os mesmos sintomas, que lhes provocam ansiedade e paranóia. É horrível ver como a doença se apodera de alguém que amas, ver essa pessoa desaparecer à tua frente. Mas é ainda mais horrível ver que os ex-jogadores não recebem ajuda suficiente. E as famílias veem-se obrigadas a vender as casas para pagar os custos dos tratamentos», afirmou ao Sport o também ex-jogador de clubes como o Leeds United.
«[Varane] Tem razão para estar preocupado. A doença que está a matar futebolistas chama-se ETC, encefalopatia traumática crónica. Sempre que sofres um impacto na cabeça, uma proteína chamada tau solta-se do cérebro. Se não tiveres outro impacto, não há problema, mas os futebolistas fazem dezenas de cabeceamentos. Por isso essa proteína fixa-se no cérebro e destrói-o», explicou John Stiles, baseando-se em estudos clínicos.
«Fiquei muito feliz quando o Varane falou do tema porque escrevi aos 92 clubes profissionais de Inglaterra e a todos da Superliga feminina. Disse-lhes que o professor William Stewart - profissional de medicina em Harvard - e eu iríamos falar com os jogadores sobre os perigos dos cabeceamentos. Todos nos recusaram. Não nos deixam falar com os jogadores. Estou convencido de que não sabem. Não querem que os jogadores saibam», acrescentou.
Numa entrevista ao L'Équipe, em abril, Varane pediu mais atenção ao tratamento e prevenção de lesões cerebrais, depois das concussões sofridas ao longo da carreira. «Uma comoção cerebral é um problema de saúde real e pode ser vital reconhecer uma – as coisas vão mudando pouco a pouco, mas ainda há muito a fazer», disse, sublinhando: «No United recomendam não fazer mais que 10 cabeceamentos por treino. O meu filho joga e digo-lhe para não cabecear.»