Infelicidade de Bruno Varela no lance que decidiu o jogo e que coloca o FC Porto na frente da meia-final; Muita intensidade e pouca beleza
Se fosse atletismo, teria sido uma corrida incrível. Se fosse wrestling, teria sido um combate bem interessante. Mas não. Era, por incrível que possa parecer, um mero jogo de futebol. Em que se espera que haja velocidade e luta, sim senhor, mas algo mais, como momentos que, por serem belos, prendem os espectadores. Porém, nada disso apareceu em Guimarães. O que houve, sim, foram jogadores a acharem que as canelas dos adversários tinham crescido anormalmente e se estendiam quase até ao pescoço e, por isso, houve tanta falta e faltinha, tanto e tão intenso corpo a corpo, tanta queixa e queixinha, tanto sorriso irónico na direção do árbitro, como se Nuno Almeida tivesse culpa por algo que os jogadores não conseguiram fazer: futebol bonito ou minimamente interessante.
E tudo ficou decidido, nesta primeira metade da segunda meia-final da Taça de Portugal, por um frango bem tenrinho caído do céu aos trambolhões na noite em que no relvado do Afonso Henriques se foi vendo apenas um combate de wrestling no meio de corridas intensas.
A RAIVA LATENTE
Estava muita coisa em jogo. Para o FC Porto, muito provavelmente, um passo em frente naquela que deverá ser a única possibilidade de ganhar, em 2023/2024, um troféu. Para o V. Guimarães, com um campeonato muito interessante, o desejo de chegar, de novo, a final de taça, algo que não lhe é frequente. Havia ainda uma espécie de raiva latente entre os jogadores portistas por tudo aquilo que, segundo deles, lhes tem acontecido nos últimos dois meses. Tudo conjugado, pois, para 90 minutos nada bonitos, nada técnicos, antes muito rasgadinhos e intensos.
Médio foi o patrão do meio-campo, mas não teve o devido acompanhamento dos colegas guarda-redes evitou a goleada, mas tem culpas no golo de Pepê; Bruno Gaspar esteve em bom nível, mas não pressionou no lance decisivo
O CHOQUE DE CABEÇAS
Até bem pertinho do intervalo, as balizas estiveram de férias, pois só aos 45+3 (Nico González, de cabeça, por cima da barra de Bruno Varela), aos 45+7 (João Mendes ao lado do poste esquerdo da baliza portista) e 45+10 (remate de Gonçalo Borges, quase sem ângulo, para desvio para canto do guarda-redes vitoriano). O único momento de frisson saiu, infelizmente, das cabeças de Sánchez e Mangas: choque fortíssimo e jogo parado durante oito minutos.
Brasileiro 'chegou ao jogo' na segunda parte e fez o golo da vitória, mas construção de grande qualidade pertenceu ao espanhol, que durou toda a partida
FRANGO APÓS PASSE COM AÇÚCAR
Ao intervalo, sim, algo mudou. Nada de esmagadoramente diferente, mas os jogadores colocaram um pouco de lado aquela ânsia de quererem, sobretudo, transformar o relvado numa espécie de arena romana. E logo a abrir a segunda parte, como se tivesse sido o rastilho para bem mais interessantes 45 minutos, surgiu uma espécie de bailado no lado esquerdo do ataque portista: Galeno a temporizar o passe curto para Nico González e este, descortinando potencial entrada de Pepê entre Tomás Ribeiro e Ricardo Mangas, a fazer uma passe imensamente açucarado, que foi parar à cabeça do brasileiro do FC Porto, o qual desviou com direção, mas sem grande força. E aí apareceram as mãos do infeliz Bruno Varela a não segurarem a bola, no tal frango caidinho do céu, que o guarda-redes não merecia.
Seguir-se-iam pouco mais de 40 minutos, nos quais o FC Porto, sem jogar forma brilhante, tal como, aliás, o Vitória, esteve sempre muito mais perto do golo. A Cláudio Ramos bastou-lhe estar atento, enquanto Bruno Varela necessitou de bem mais, sobretudo naquele remate fulgurante e perigoso de Romário Baró. O FC Porto chegará à segunda mão com vantagem merecida num jogo quase sempre intenso, mas nem por isso interessante.