Sporting: o que é preciso é dar tempo ao (João Pereira)... tempo
Três jogos: uma vitória e duas derrotas. Um recorde que não foi batido. Gyokeres que atravessa período de 'seca'. O ciclo sob égide da nova equipa técnica aos olhos de Jorge Silvério, psicólogo especializado em desporto
É preciso dar tempo ao tempo. É um provérbio popular de recorrente utilização, para diversas situações, que talvez seja o mais adequado a aplicar ao momento que vive o Sporting, mais concretamente a João Pereira. O substituto de Ruben Amorim sabia que a herança era pesada, vinha a preparar-se para a passagem de testemunho que, segundo o presidente Frederico Varandas, aconteceu mais cedo do que o previsto, mas ao fim de três jogos, com pouco mais de duas dezenas de dias ao leme da equipa, já se levantam vozes e apontam dedos.
A BOLA falou com o psicólogo Jorge Silvério para perceber de que forma é que as alterações do último mês mexem com o psicológico dos jogadores.
«Há aqui coisas que acho que podem claramente estar a influenciar apesar de o clube ser o mesmo e as condições serem as mesmas. Por mais que o sistema de jogo seja relativamente semelhante, e que já houvesse semelhança entre a equipa principal e a equipa B, é evidente que as pessoas são diferentes. Não só o João, treinador principal, mas também os adjuntos. E isso acaba por influenciar a relação que se vai estabelecer, o próprio João disse que é diferente do Ruben», começou por dizer.
Tudo conta e tudo mexe com a cabeça dos jogadores e é importante que a equipa técnica vá trabalhando isto, no sentido de desmistificar algumas coisas. Estarem atentos a esta quebra na confiança
«Esta adaptação, quer dele aos jogadores, quer dos jogadores a ele, demora sempre algum tempo e enquanto isto se faz nem sempre os resultados são os esperados. Não há, para já, a simbiose que havia com a antiga equipa técnica, até pelo tempo que trabalharam juntos, foram muitos anos, o que nem é muito normal no futebol, mas isso ajuda a cimentar essa relação e, de momento, estamos a falar de meia dúzia de dias, demora sempre o seu tempo», completou.
Depois é a bola que vai ao poste, um penálti não assinalado, uma derrota pesadíssima para a Liga dos Campeões (ante o Arsenal, por 1-5), depois de vitória épica com o Man. City (4-1, no último jogo da era Amorim em Alvalade), a primeira derrota na Liga (0-1, com o Santa Clara) que inviabilizou que fosse batido o recorde de mais vitórias num arranque de campeonato, a seca de Gyokeres (ficou em branco nos últimos dois jogos).
«Tudo conta e tudo mexe com a cabeça dos jogadores e é importante que a equipa técnica vá trabalhando isto, no sentido de desmistificar algumas coisas. Estarem atentos a esta quebra na confiança porque depois, quando os resultados não aparecem, começam a instalar-se dúvidas e é importante não deixar que isso aconteça. Os jogadores são os mesmos, continuam a fazer as mesmas coisas e a ser capazes do mesmo, não desaprenderam de um momento para o outro», realçou.
Não há nenhuma equipa no mundo que esteja sempre a ganhar, haverá uma altura em que surgem derrotas, se o Ruben tivesse continuado ia acontecer isso inevitavelmente
Jorge Silvério deixou um conselho: «É importante dar ouvidos a quem percebe das coisas. Os adeptos querem sempre ganhar, como é óbvio, e quando as coisas não correm bem vão começar a assobiar e a ter comportamentos que não são os mais adequados para o estado anímico em que a equipa está e para aquilo que precisa, mas isso faz parte e jogadores, treinadores e dirigentes têm de saber adaptar-se a isto.»
Ainda sobre a derrota com os açorianos, o psicólogo fez questão de relembrar a valia dos insulares: «Há que olhar também para a época que o Santa Clara está a fazer. Quando são as equipas grandes a perder só olhamos para esse lado, não vemos o mérito do lado de lá. O adversário também tem mérito.»
Sobre o que é que se deve fazer para dar a volta à situação, a resposta foi clara: «Não há nenhuma equipa no mundo que esteja sempre a ganhar, haverá uma altura em que surgem derrotas, se o Ruben tivesse continuado ia acontecer isso inevitavelmente. Há que continuar a trabalhar com naturalidade e, sobretudo, ter confiança. Se foi o treinador escolhido é continuar a dar-lhe confiança, e ele aos jogadores, para que se conheçam cada vez melhor e comecem a cimentar essas relações que são extremamente importantes.»