Sporting e Benfica com rotinas defensivas bem distintas

NACIONAL29.12.202410:35

Muitas (demasiadas?) alterações na sua composição fragilizam a defesa leonina. Do outro lado estará um setor recuado encarnado muito mais rotinado

Uma equipa de futebol constrói-se de trás para a frente, dizem os especialistas. Ou seja, a partir de uma defesa bem montada pode-se então começar a compor o esqueleto de um onze. Claro que as rotinas se adquirem com treino e, em especial, na repetição de competição. Ora os rivais lisboetas que vão entrar para o dérbi eterno separados por um ponto — e com isto o duelo ganha, se preciso fosse, superior emoção e peculiar relevância — apresentam registos muito distintos no que respeita à composição, consistência, utilização e conhecimento mútuo dos respetivos setores recuados.

Se do lado dos encarnados a constituição da defesa para o jogo de Alvalade, salvo contingências de última hora, é a mais vezes utilizada por Bruno Lage, ou seja, Trubin, Bah, Tomás Araújo, Otamendi e Álvaro Carreras, já no reino do leão, e ainda por cima com a chegada de Rui Borges há apenas três dias, as incertezas são muitas.

As duas equipas até apresentam números equivalentes no que respeita aos golos sofridos. O Sporting consentiu 10: cinco nos 11 jogos sob Ruben Amorim com uma sequência de sete clean sheets para uma série de imbatibilidade de 719’ e também cinco consentidos nas apenas quatro jornadas com João Pereira. Já o Benfica, melhor defesa da Liga, leva oito golos sofridos (sofrível registo de três nos quatro jogos de Roger Schmidt que passou para cinco consentidos ao longo das 11 jornadas com o novo técnico da Luz).

As grandes diferenças, isso sim, surgem na utilização das peças que compõem os setores recuados.

Nas águias, para lá do totalista na baliza Anatoliy Trubin, os laterais Bah e Carreras estão de pedra e cal, com o dinamarquês a falhar apenas duas jornadas (e completou 69% das partidas), enquanto o espanhol só ficou de fora num jogo por castigo (jogou os 90’ em 79% dos seus jogos). Os centrais Tomás Araújo (finalizou 11 dos 13 jogos em que foi titular) e Otamendi (cumpriu por inteiro as 11 jornadas que iniciou) têm merecido a preferência — fizeram a dupla inicial em nove jogos —, mas António Silva (sete jogos como titular e sempre em campo) é uma alternativa testada e mais que fiável. A média do total de jogos completados pelos elementos da defesa encarnada é assim bem elevada: 88 por cento.

Já para as bandas de Alvalade a fotografia de conjunto é bem diferente. Na baliza, Kovacevic primeiro e agora Franco Israel têm dividido a guarda das redes. Mas com o modelo 3x4x3 utilizado, as mutações dos três centrais têm sido por demais evidentes, tornando o exercício de adivinhar, de véspera, a constituição da defesa leonina um caso mais próprio para um Sherlock Holmes. Se no início da época o trio Debast-Diomande-Gonçalo Inácio era o que estaria na cabeça de Rúben Amorim, ora a realidade é muito distinta. Por força das muitas (demasiadas?) lesões, fadiga e gestão do plantel, o trio apenas iniciou duas partidas (referentes às 9.ª e 10.ª jornadas, frente a Famalicão e Estrela da Amadora). O costa-marfinense e o belga até têm sido os mais chamados a jogo (só falharam ambos uma jornada) mas qualquer deles, e também Gonçalo Inácio, poucas partidas completaram na totalidade (conforme quadro à parte). E todos os seis jogadores mais utilizados, onde se incluem Eduardo Quaresma, Matheus Reis e Jeremiah St. Juste, completaram apenas uma média de 48 por cento dos jogos, muito abaixo dos números registados pela defesa do rival.