«Sou o maior desperdício da história do futebol e estou bem assim»
Adriano jogou no Inter em 2001 e, mais tarde, entre 2004 e 2009

«Sou o maior desperdício da história do futebol e estou bem assim»

INTERNACIONAL12.11.202417:38

Adriano, o 'Imperador', que passou por Inter, Fiorentina, Roma, Parma, entre outros, recordou o trajeto e todas as dificuldades que encontrou ao longo da vida

Houve uma altura em que a alcunha 'Imperador' resumia o que Adriano significava no futebol. Munido de um potente pé esquerdo, aliado a um poder físico invejável, tudo fazia prever que o Brasil teria um dos melhores avançados do mundo durante muitos anos.

No entanto, tal não se verificou. Várias lesões, juntamente com alguns hábitos menos aconselháveis, encurtaram o auge do ponta de lança, que, agora, em declarações ao The Players Tribune, abordou as dificuldades que enfrentou e que continua a enfrentar: «Bebo a cada dois dias... e nos outros também. Como é que uma pessoa como eu chega ao ponto de beber quase todos os dias? Não gosto de me explicar aos outros, mas não é fácil ser uma promessa falhada. E na minha idade, é ainda pior.»

Adriano foi internacional brasileiro em 50 ocasiões

«A morte do meu pai mudou a minha vida para sempre. Até hoje, é um problema que ainda não consegui resolver. Todas as lições que aprendi com o meu pai foram em gestos. Não tínhamos conversas profundas. A sua integridade quotidiana e o respeito que os outros tinham por ele foi o que mais me impressionou.», revelou, ao falar do pai, assassinado em 2004.

Criado na Vila Cruzeiro, uma das zonas mais perigosas do Brasil, onde diz que «se parasse para contar todas as pessoas que conheço que morreram de forma violenta, estaríamos aqui a falar durante dias e dias», a carreira de Adriano evoluiu rapidamente e mudou-se do país natal para Itália, aos 19 anos, para representar o Inter.

No primeiro Natal que passou sozinho em Milão, o antigo jogador, formado no Flamengo, desabou depois de conversar com a mãe: «Fiquei arrasado. Tomei uma garrafa de vodca. Não estou a exagerar, bebi aquela merda toda sozinho. Chorei a noite toda. Desmaiei no sofá porque bebi demasiado e chorei. O que é que eu podia fazer?»

Jogou na Roma em 2011

«Quando 'fugi' do Inter e saí de Itália, vim esconder-me aqui [Vila Cruzeiro, um lugar onde vê o pai em todos os becos]. Ninguém me encontrou. Não era possível. Regra número um da favela: ficar de boca fechada. Acha que alguém ia me denunciar? Aqui não há bufos. A imprensa italiana ficou louca. A polícia do Rio de Janeiro chegou a fazer uma operação para me 'resgatar'. Disseram que me tinham raptado», contou.

Figuras como Massimo Moratti, presidente do Inter, e José Mourinho, que o treinou em 2009 e que se esforçou para o trazer de volta à melhor forma, foram importantes para tentar relançar a carreira... e a vida do brasileiro: «Queriam internar-me. Disseram-me que deveria passar um tempo numa clínica de reabilitação na Suíça. Eu estava deprimido e não tinha noção das coisas. Eu não entendia o que eles estavam a dizer. 'Que p... de ideia era aquela de me internar? Eu não sou maluco, presidente. Com todo o respeito. Por que querem mandar-me para um manicómio?', disse. Comecei a alterar-me na reunião. Aquela ideia era absurda. Onde já se viu isso? Um jogador internado numa clínica de reabilitação?»

Ainda assim, Adriano viu-se enredado numa espiral de dependências que o fizeram ruir. Terminou a carreira em 2016, depois de uma passagem pelo Miami United.

«O maior desperdício na história do futebol: eu. Gosto dessa palavra, desperdício. Não só pela forma como soa, mas porque sou obcecado por desperdiçar a minha vida. Estou bem assim, num desperdício frenético. Gosto desse estigma», concluiu o brasileiro.