«Se falamos dos que não jogam, entramos na dinâmica errada»

Seleção «Se falamos dos que não jogam, entramos na dinâmica errada»

NACIONAL27.03.202300:04

Roberto Martínez estancou este domingo, com uma frase lapidar, a polémica e desejo, porventura, de muitos adeptos portugueses em ver o avançado Gonçalo Ramos ser titular da Seleção de forma regular e jogar ao lado de Cristiano Ronaldo no ataque, com uma confissão, mas também um aviso à navegação de que pensa pela sua própria cabeça e que não contém com ele para alimentar temas que considera estéreis e que são da sua competência: quem joga e quem não joga na Seleção.

Na conferência de imprensa realizada no Luxemburgo, após a goleada (6-0) de Portugal no Grão Ducado, na 2.ª jornada do Grupo J de apuramento para o Europeu da Alemanha-2024, Roberto Martínez cortou cerce a insistência sobre o assunto de Gonçalo Ramos não ser titular da Seleção desde que assumiu o leme, ou seja, nestes dois jogos com Luxemburgo e Liechtenstein (4-0, quinta-feira).

«Mas é claro Gonçalo Ramos pode jogar ao lado de Cristiano no relvado e na equipa. Mas, e vamos lá ver uma coisa: isto não é um debate, ou estar aqui a ver jogadores. É avaliar o nível da equipa! E a equipa foi muito concentrada, exigente, na forma de parar o Luxemuburgo, que jogava em casa. Se Portugal tem de ser campeão, é porque os jogadores vão dar o nível que a equipa precisa. Mas tenho 35 ou 36 jogadores de alto nível, que podem jogar, todos eles, de início: se falamos dos que não jogam, entramos na dinâmica errada», foi o aviso de Roberto Martínez.

Sobre o conceito de jogo que pretende para a Seleção ser o que se viu nestes dois encontros, o técnico espanhol, de 59 anos, foi pusilânime.

«Sim, a ideia matriz de jogo é esta: poder criar ocasiões de golo, sim. Honestamente, não gostei de 25 minutos da primeira parte com o Liechtenstein, entre os 20’ e os 45’. Mas a atitude, o compromisso, a intensidade do treino dos jogadores na Cidade do Futebol foi… espetacular! Muito melhor do que esperava, confesso», reconheceu Martínez.

«Portugal deve ser variável nos sistemas táticos e de jogo. Na segunda parte, o Luxemburgo mudou o sistema. Eu também gosto de flexibilidade tática nas minhas equipas, são uma parte muito importante. Mas trabalhámos uma semana, há ainda um largo caminho pela frente da Seleção. É apenas um ponto de partida, mas muito positivo, concordo», reconheceu o selecionador nacional aos jornalistas lusos, na conferência de imprensa após o encontro.

Tão encantado está que promete Martínez nem ir estranhar ficar agora sem os jogadores, até aos próximos compromissos de Portugal. «A minha experiência dos últimos sete anos como selecionador [da Bélgica] diz-me que devo trabalhar agora da mesma maneira, mas sem os jogadores. Dentro de nove semanas, há a Bósnia, depois jogamos com a Islândia: o meu trabalho não pára mais, mas é muito diferente ter os jogadores comigo, ou não».

Por último, e por curiosidade, ‘matou’ de uma penada a curiosidade de um jornalista belga, seleção que conduziu às meias-finais de um Europeu e de um Campeonato do Mundo, sobre se continua a acompanhar o que sucede com os ‘diabos vermelhos. E a resposta não deixou dúvidas sobre a satisfação por ver os seus antigos pupilos bem encaminhados.

«Lukaku marcar e Bélgica ganhar [3-0 na Suécia, ‘hat trick’ de Lukaku] deixa-me muito satisfeito, mas estive muito ocupado com o trabalho com a seleção de Portugal», afirmou a propósito, antes de concluir com a – bem mais interessante – observação da importância de Bruno Fernandes e Bernardo Silva na obtenção de espaços para Portugal conseguir criar ocasiões e marcar golos, mesmo se jogando em posições que não as que habitualmente desempenham nos dois ‘gigantes’ de Manchester (United e City).

«Se pedi a Bruno Fernandes para jogar de forma diferente do que faz no Man. United? Sou muito feliz por o ter na Seleção, como ao Bernardo Silva, do Man. City. São dois jogadores que se encaixam bem em qualquer sistema táticos, pois têm muita qualidade. Ambos jogam numa relação conjunta, à procura de espaços, e conseguiram-no neste jogo», concluiu Roberto Martínez.