Saída de Amorim, convite envenenado e recado aos rivais: tudo o que disse o presidente do Sporting
Frederico Varandas foi distinguido como dirigente do ano na gala dos Prémios Stromp e no seu discurso não deixou nada por dizer
Orgulho pela terceiro Prémio Stromp que recebe, Frederico Varandas até brincou com o facto de, agora, tudo ficar equilibrado em sua casa, tendo em conta que a mulher, Katarina Larsson, ganhou o mesmo número de distinções enquanto atleta.
Mas o tom de voz mudou quando o discurso se tornou mais sério. O presidente da SAD leonina começou por elogiar os órgãos sociais, destacanso o Conselho diretivo: «É de inteira justiça que este prémio seja distribuído por todos os órgãos sociais que desde setembro de 2018, reergueram o Sporting Clube de Portugal. Prova disso é a sustentabilidade, o crescimento, degrau a degrau, que o Sporting tem vindo a sofrer, tornando-se saudável, forte, com pujança e futuro. Destaco o meu Conselho Diretivo, alguns de vocês conhecem algumas caras, mas são o escudo invisível do Sporting, são eles que garantem a estabilidade política para fazer as mudanças.»
«O ano de 2024 ficará na história como um dos melhores anos do Sporting, fantástico, que ficará nas mais bonitas páginas da nossa história, é um ano muito encorajador, não só em relação ao que conseguimos como em relação ao nosso futuro. Foi um anos de de sucesso, que acabámos por nos sentir vítimas desse sucesso», acrescentou.
Em novembro o nosso treinador deixa o Sporting e, apartir daqui aconteceu algo que ainda não vi escrito, já vamos quase em um mês, é que o que aconteceu ao Sporting nunca aconteceu em Portugal
Lançando-se, de seguida, para o panorama atual do clube: «O Sporting preparou esta época com um plano, tínhamos um plano bem definido, que era possível de realizar, onde tínhamos o compromisso de todas as pessoas e o nosso ex treinador, um dos melhores treinadores da história do Sporting, no final da época passada informou-me que, ao contrário dos anos anteriores, em que recusou alguns projetos, sentiu que no final desta época era o momento de terminar o ciclo, queria terminar com o bicampeonato. Preparámos o grupo e a equipa para isso, e assim arrancámos a época, uma máquina afinada. Acontece depois o que toda a gente já sabe, um grande clube europeu, com outras capacidades financeiras chegou e o nosso treinador aceitou.»
«A partir daqui tudo o que estava planeado mudou, tínhamos fim de ciclo no final de 2024/2025, sim, fim de um ciclo de um treinador que esteve cinco no clube, éramos candidatos ao título, o Sporting iria proceder a uma modificação, iríamos iniciar um novo ciclo, que já sabemos como é: termina a época, abre-se mercado de transferências, inevitavelmente saiam dois ou três jogadores, entravam cinco ou seis, há a pré-época, outro treinador, dores de crescimento, mas acontece que o Sporting não escolheu o timing da mudança do fim desse ciclo», realçou.
Avançando para a saída de Ruben Amorim do comando técnico dos leões: «Em novembro o nosso treinador deixa o Sporting e, apartir daqui aconteceu algo que ainda não vi escrito, já vamos quase em um mês, é que o que aconteceu ao Sporting nunca aconteceu em Portugal, em nenhum grande, é a primeira vez que um treinador sai por sucesso desportivo a meio de época.»
«Aconteceu com Eriksson, Artur Jorge, Bobby Robson, José Moutinho, Villas-Boas, Leonardo Jardim e Ruben Amorim, todos saíram por sucesso desportivo, mas nunca um clube tinha perdido o seu treinador a meio da época. Por isso, quando se fala o que fazer, como fazer, esta situação nunca tinha acontecido em Portugal», reforçou.
João Pereira não tem tempo, tem uma máquina afinada, onde tem de se adaptar à maquina afinada, é um convite que vou carregar para o resto da vida como sendo o mais ingrato e o presente mais envenenado a um jovem treinador que se está a lançar
E lançou a questão: «Então o que fazer?» Para logo de seguida responder: «O plano A, não, já tinha ido, o plano B antecipar o que tínhamos preparado, era hipótese, sabíamos das contingências como tudo seria diferente, sabíamos o quão era difícil de um momento para o outro substituir o segundo treinador com mais jogos na história do Sporting, um treinador que esteve aqui quase cinco anos, conquistou os adepros e títulos. Tínhamos a hipótese de antecipar o plano e a segunda hipótese era trazer alguém de fora, em que em 26 dias iria fazer sete jogos, não ia fazer pré-época, nem ter tempo para treinar.
Sabíamos que um grupo de atletas de alta competição, que ganhou tudo de forma ímpar em Portugal, ia ter muitas dificuldades em entender alguém que chegasse e quisesse mudar tudo, por isso, a decisão racional entre prós e contras era antecipar o plano que tínhamos previsto. Decisão tomada: João Pereira assume o comando. João Pereira não tem tempo, tem uma máquina afinada, onde tem de se adaptar à maquina afinada, é um convite que vou carregar para o resto da vida como sendo o mais ingrato e o presente mais envenenado a um jovem treinador que se está a lançar. Teve de ser este momento, e entre as decisões indicuduais, mesmo que possam sacrificar um treinador, um jogador, um dirigente ou um presidente, irei sempre fazer o que considero o melhor para o Sporting.»
Derrotas dissecadas
Frederico Varandas entrou então no campo dos resultados negativos, quatro derrotas consecutivas, dissecando os jogos em questão.
«Dez dias antes da saída de Amorim perdemos o Nuno Santos, no último dia do Amorim ao leme, em Braga, perdemos o Pote [Pedro Gonçalves], só nestes dois jogadores têm um acumulado de média por ano de 27 golos e 21 assistências, mas a seguir lesiona-se Morita, depois Bragança, a seguir Gonçalo Inácio, pelo meio tivemos o atual guarda-redes titular [Franco Israel] lesionado, St. Juste e Quaresma também lesionados. O Sporting teve cinco a seis titulares fora. E tenho memória, é importante nunca perdermos a memória, espero que nunca me falte, há dois anos quando terminámos em 4.º lugar, muito pouca gente se lembra que arrancámos com centrais lesionados, perdemos pontos e condicionou a época. O que temos a fazer? Olho para aquela mesa e vejo dois miúdos [Quenda e João Simões] de 17 anos que são hoje titulares no Sporting, ontem estreou-se Mauro Couto, Arreiol», sublinhou.
«Agora peço que façam este exercício comigo: imaginem tirar cinco titulares aos nossos rivais e pensem no vosso consciente se a equipa não vai sofrer, sofre, só que além do choque emocional que houve com a perda do nosso treinador, não só nos nossos adeptos, também no staff, nos jogadores, no clube, nos colaboradores, era inevitável não haver, mas quando se junta esse choque emocional e olhar para este exercico que quase ninguém se quer lembrar, cinco titulares fora! E vejamos o exemplo recente, talvez a melhor equipa do mundo, em que teve onda de lesões, perdeu jogadores nucleares, e a imprensa realçou isso, aqui cinco titulares não tem peso, o que tem peso, e que peso, é o chavão das quatro derrotas seguidas na era João Pereira», acrescentou.
Continuamos a acreditar no Conselho de Arbitragem que está em vigor, que decidiu pôr na jarra os árbitros que apitaram estes jogos, não só nos nossos jogos como no nosso rival
Frederico Varandas passou, então, a enumerar as derrotas, apresentando alguns argumentos: «Primeiro perdemos com clube fraquinho, Arsenal, que tem sete ou oito vezes o nosso orçamento, das melhores equipas em forma do mundo, outra derrota fora, com o Club Brugge, e tenho de ser sério com os meus atletas e quipa técnica, há um ano no melhor Sporting dos últimos 70 anos perdemos em casa com uma Atalanta, há dois anos, muito criticaram o nosso treinador na Champions por não passar a fase de grupos com equipas como o Marselha, Eintracht Frankfurt e Tothenham…
O Sporting não tem como ombrear com estes clubes a nível de orçamento. Vou sempre dizer aquilo que penso, e em Brugge perdmeos um jogo que não merecíamos, perdemos um jogador no aquecimento e outro no decorrer do jogo, depois duas derrotas domésticas, com Santa Clara e Moreirense, vou juntar as duas por uma razão: o Sporting esteve brilhante, não, jogou muito bem, não, mas todos os expert de futebol analisem estatisticamente, tive um professor na faculdade que dizia: 'a estatística não diz tudo, mas não mente', o Sporting não só não merecia empatar como merecia vencer, mas perdemos, mesmo com o choque emocional de termos perdido o treinador, com cinco a seis jogadores titulares fora e como o Conselho de Arbitragem diz, não nós, com arbitragens infelizes. Continuamos a acreditar no Conselho de Arbitragem que está em vigor, que decidiu pôr na jarra os árbitros que apitaram estes jogos, não só nos nossos jogos como no do nosso rival. Há árbitros competentes, uns com mais experiência outros com menos, mas não tenho dúvidas que há alguns contra o Sporting, mas sabemos que vai continuar a haver erros humanos, que vai sempre prejudicar uns e beneficiar outros.»
Há ali um menino, o João Simões, o que se diria deste menino se fosse noutro clube. Um menino de 17 anos que foi chamado, olha vem, 17 anos é menor! Durante 12 anos liderei departamenos clínicos e unidades de performance e nunca tinha visto um jogador correr 16 kms num jogo de futebol
Varandas fez ainda questão de destacar o empenho dos jogadores. «A equipa de futebol hoje apresenta qualidade, está a sofrer por todas as condições e circunstâncias, mas era inevirável. Queremos planear as coisas, mas a vida mostra-nos que não planeamos este jogo. O que fazemos? Lutamos, adaptamo-nos. venho de uma instituição onde em muitas missões mal entrávamos no terreno esquecíamos o plano A, era plano de contingência. O que fazemos? Mãos na cabeça? Chorar? Ficávamos lá todos. Quisemos isto? Não. Vamos ficar a chorar? Não. Olhem para o exemplo dos nossos jogadores em campo, olhem o exemplo do nosso capitão, ele morre em campo, olhem o exemplo do Viktor [Gyokeres]. Não há subtituições, os jogos não se podem adiar.
O Morten [Hjulmand], Trincão, Viktor vão para o sétimo jogo a fazer 90 minutos sempre em campo. Há ali um menino, o João Simões, o que se diria deste menino se fosse noutro clube. Um menino de 17 anos que foi chamado, olha vem, 17 anos é menor! Durante 12 anos liderei departamentos clínicos e unidades de performance e nunca tinha visto um jogador correr 16 kms num jogo de futebol! E nunca vi um menino de 17 anos com maturidade a jogar como um senhor, a sentir as bancadas nervosas, tristes. Olhem para os nossos jogadore, não vêm a frustração de um Pote [Pedro Gonçalves], Nuno Santos, Bragança que não conseguen ajudar a equipa. O Trincão no final do jogo estava morto, mas no domingo há outro jogo, não há tempo para descansar. Olhem para eles, vão lutar até ao fim pelo bicampeonato», afirmou.
«Sofria bullying no mês de dezembro»
O presidente leonino mobilizou as tropas, que é como quem diz os adeptos, quando se pôs na pele deles. «Estamos em dezembro, com quase 45 anos de sócio dezembro era um mês traumático, sofri bullying com este mês, com as piadas do Natal e hoje quando vejo que o drama é se calhar não vamos ser bicampeões, se calhar não vamos ser campeões outra vez, é o que significa, este é o drama de hoje, eu cresci com dezembro a ser mês de se começar a pensar já no próximo ano e hoje, quando penso neste dramático dezembro, vejo a equipa sem cinco titulares, com choque emocional, vejo que lideramos o campeonato português, vejo que nos qualificámos para os quartos de final da Taça de Portugal, temos dez pontos na Champions e estamos muito próximo de chegar à fase seguinte, estamos na final four da Taça da Liga, vejo as modalidades contiunuam com ADN a vencer, a conquistar a Europa, vejo também um clube que detém 90% de uma SAD e acabou o medo da entrega da SAD aos bancos», enumerou.
Sei que seja da forma A, B, C, D, E ou F o Sporting vai continua a lutar por títulos e isso nunca mais volta para trás
Frederico Varandas terminou o seu discurso com uma 'bicada' aos rivais: «Não se iludam, muita das criticas do momento dramático tem um nome: João Pereira, mas não é a ele que são dirigidas grande parte das críticas, e percebo, se estivesse do lado de lá perceberia ainda mais, abriu-se uma brechazinha onde os nosso rivais prensavam que em dezembro o Sporting voltava a ser o clube que pensa que é para o ano é que é, que estamos falidos… Mas não, o Sporting não está falido, apresentou recentemente plano estratégico para 10 anos, com esta Direção ou outra, aquele é o caminho, o rumo de um Sporting sustentável, que investe no património como nunca antes. E vão ficar ainda melhores, para os nossos rivais lamento, pois o Sporting não volta para trás. Eu não sei se vamos ser bicampeões, ou se para o outro ano seremos tricampeões, mas sei que seja da forma A, B, C, D, E ou F o Sporting vai continua a lutar por títulos e isso nunca mais volta para trás. gerações mais novas conhecem o Sporting vencedor, este é o Sporting que vai continua a ser.»