Benfica Roger Schmidt no pós-título: Resposta a Conceição, um desejo por Otamendi e o balanço da época
Horas depois de ter feito a festa do 38.º título de campeão nacional, Roger Schmidt apresentou-se aos jornalistas para um ‘open day’ à imprensa, onde o treinador alemão percorreu vários temas que marcaram a temporada da águia.
Tem orgulho naquilo que a equipa atingiu? «Claro, eu sou o treinador! No início da época falámos dos objetivos e, no Benfica, isso significa títulos. É isso que se espera. Estamos muito orgulhosos e aliviados, foi duro até ao fim. Foi preciso fazer um enorme esforço a nível físico e mental. A dinâmica mudou quando perdemos com o FC Porto e o Chaves, mas acabámos por mostrar que sabemos jogar sob pressão. Merecemos ser campeões.»
Sérgio Conceição disse que o FC Porto foi a melhor equipa, o que tem a dizer? «É a opinião dele. Não vi os jogos todos do FC Porto, mas vi os nossos e estivemos muito bem. Depois de 34 jornadas, a equipa que tem mais pontos, que marcou mais golos e sofreu menos é a que merece ser campeã.»
Conquistou ontem o primeiro título, como se sente? «Nunca tinha visto nada como o que vi ontem. Foi único, uma das maiores festas do futebol europeu. Já tinha visto imagens do Marquês no balneário, mas ver em fotografia e sentir o momento... É diferente. O caminho até lá foi fantástico, estava muita gente. Temos a obrigação de dar alegrias aos adeptos e tentamos sempre devolver-lhes o apoio que nos dão. Foi um dia extraordinário.»
Como avalia o crescimento da equipa ao longo da época? «A temporada foi bastante longa... Nos últimos anos aprendi a não olhar muito em frente, a pensar no aqui e agora. Quando cheguei, o Benfica queria mudar alguma coisa. Precisava de um treinador que alterasse o estilo de jogo e o plantel era enorme, com 39 jogadores e com alguns que sabiam que não ficariam. Era preciso tempo para decidir mas se olhas demasiado para a frente fica complicado. Este clube e este grupo têm uma atitude muito boa, são jogadores que treinam-se a sério e trabalham no máximo. Gostam de jogar futebol e fiquei admirado por jogarmos da forma que eu gosto tão rapidamente. Eu também estava disposto a mudar o estilo de jogo consoante os jogadores e conseguimos encontrar um bom equilíbrio. Já na pré-época defendíamos bem, atacávamos bem, éramos equilibrados. Estávamos confiantes e alcançámos o primeiro objetivo, chegar à Liga dos Campeões. Depois, fomos retocando o plantel. Esta temporada foi feita no dia a dia.»
Quando renovou contrato em março já se sentia campeão? «Não, agora é que o sinto. Quando me propuseram a renovação disse que tinha de mostrar qualidade para estar no Benfica. O clube demonstrou essa confiança em mim, comecei a pensar no assunto e é uma grande honra estar no Benfica. Mas, claro, esperava que fôssemos campeões, caso contrário as coisas poderiam ter sido diferentes.»
Já sabe se Otamendi vai renovar? «Foi um grande capitão, muito experiente, fez uma época extraordinária. Foi campeão do Mundo e em Portugal. Não só o Nico, também o João Mário, Grimaldo, Rafa... Foram os líderes do balneário. Diferentes uns dos outros mas todos influentes. Temos um bom 'mix' de juventude e experiência. Espero que o Otamendi fique, antes do Natal falámos com ele sobre a renovação e ele quis esperar até ao fim da época para decidir. Fizemos tudo para o manter, mas tem 34 ou 35 anos... Se me perguntarem, claro que espero que ele fique.»
Derrota em casa com o FC Porto afetou a equipa? «FC Porto, depois Inter, depois de Chaves... Essa foi a pior fase da época. Estivemos a um nível alto e caímos um pouco, com alguns problemas físicos nos jogadores. Os adversários foram muito eficazes e tivemos de aceitar, não controlámos os jogos como tínhamos feito até então. O que fizemos para mudar desde aí foi super importante para o resto da época.»
Em seis jogos feitos contra FC Porto, Sporting e SC Braga, apenas duas vitórias... «Faz parte, em 34 jogos tens de tentar fazer o máximo de pontos. Vencer os adversários diretos é bom, ganhas pontos e as outras equipas não. Em Portugal, não podes perder muitos para seres campeão. Isso demonstra que as outras equipas também são muito boas, Sporting, FC Porto e SC Braga são equipas de topo. É difícil defrontá-los.»
A eliminação da Champions frente ao Inter foi um golpe duro? Com Enzo Fernández a história podia ter sido outra? «Não sei, não vencemos o Inter mas isso não é vergonha alguma. Em 14 jogos na Champions perdemos apenas um, isto não é uma desilusão. Foi um grande feito dos jogadores, o que o Benfica fez a nível internacional foi extraordinário. O Enzo é um grande jogador, mas ninguém sabe se venceríamos o Inter com ele. Conseguimos substituí-lo bem, mas no mercado de inverno foi um grande jogador que saiu.»
Este título pode ser o início da hegemonia do Benfica? «Fomos campeões, foi ótimo, mas não significa que sejamos campeões para o ano. Vamos começar com zero pontos, estes 87 desaparecem e precisaremos de 85 ou 90 para sermos campeões de novo. Não é por termos ganhado este que, de repente, venceremos os outros facilmente. Começaremos todos do zero e sou muito humilde, sei como será difícil. Vamos ver que jogadores chegarão e o que nós conseguiremos fazer, tal como as outras equipas.»
Momento decisivo da época? «Não tivemos muitas oscilações, o nível foi alto durante muito tempo e isso só foi possível porque estivemos concentrados em todos os jogos. Depois de perdermos alguns pontos e de a vantagemm ter passado de 10 para quatro pontos tivemos de nos concentrar de novo e mostrar que éramos capazes. Os jogos contra SC Braga e Sporting foram decisivos.»
Teve 10 pontos de avanço e foi campeão na última jornada: mudava alguma coisa? «Não. Não penso nisso, quando perdemos um jogo fica para trás e pensamos no seguinte. Tivemos 10 de vantagem e acabámos com dois, mas tudo bem, não tens de ser campeão com 20 de avanço. Só queríamos ser campeões. Podíamos tê-lo sido antes, mas temos de aceitar a capacidade das outras equipas. Estivemos praticamente ao nível da melhor época de sempre do Benfica.»
Que posições quer ver reforçadas no mercado? «Falamos do plantel toda a época e de como o melhorar. Faz parte do nosso trabalho, é um tema muito importante e tens de ter equilíbrio no plantel. Temos de tentar melhorar o nosso onze titular, vamos voltar a jogar de três em três dias no início da época e teremos de estar prontos. Neste momento estamos bem, muitos jogadores mostraram qualidade e o nível a que conseguem jogar. Teremos de substituir Grimaldo, foi um jogador chave, e também o Enzo (Fernández)...»
Kerkez é uma opção? «Não vou falar sobre jogadores que não são do Benfica. Conheço-o, conhecer o mercado faz parte do nosso trabalho. Quando sai um titular tens de conhecer opções para o lugar. O Kerkez é uma opção, mas não faço mais comentários.»
Fala-se em demasia de arbitragem em Portugal? «Quando estava nos Países Baixos e na Alemanha era igual. Discute-se sempre arbitragem, faz parte. Era assim no passado, no futuro será igual. Talvez por causa do VAR haja mais conversa... No início tínhamos um árbitro e dois fiscais de linha, depois apareceu o quarto árbitro, depois o VAR... Aumentam os árbitros, aumenta a discussão, mas não é só cá que se fala deles.»
Está preparado para ver Gonçalo Ramos sair? «Espero que fique, ainda é novo o suficiente para ficar mais um ano no Benfica. Fez uma grande temporada, é um ponta de lança super talentoso e não há muitos assim no mercado. Talvez seja possível mantê-lo, mas a decisão também é dele. Gostava de contar com ele mais uma temporada.»