Três golos em 15 minutos contra o Feyenoord, na Eusébio Cup, deliciaram os adeptos. Em 1972, o Benfica também marcou três contra os neerlandeses no quarto de hora final, qualificando-se para as meias-finais da Taça dos Campeões Europeus. A BOLA falou com António Simões, que recorda esse encontro e a origem da expressão
A vitória do Benfica contra o Feyenoord por 5-0, na última edição da Eusébio Cup, este domingo, galvanizou os adeptos de uma forma que há muito não era vista ou sentida. As águias entraram no jogo com um poderio ofensivo deslumbrante e, aos 15 minutos, já ganhavam por 3-0, fruto de um golaço de Prestianni e bis de Pavlidis. ’Quinze minutos à Benfica’, poder-se-á dizer.
Curiosamente, a famosa expressão, ouvida tantas vezes no quotidiano, tem a sua origem associada a um jogo frente ao... Feyenoord.
Foi, de facto, uma primeira parte avassaladora, mas quando, enfim, regressar Di Maria, pode o Benfica continuar a ter este ritmo, este galope, esta mesma intensidade de jogo?
Benfica 5 -1 Feyenoord
O ano era 1972 e os encarnados, após terem perdido por 1-0 na primeira mão, em Roterdão, precisavam de uma vitória por dois ou mais golos na Luz para passarem às meias-finais da Taça dos Campeões Europeus.
As águias começaram a segunda mão da melhor forma, com Nené a inaugurar o marcador e Rui Jordão a fazer o segundo à passagem da meia hora de jogo. O resultado permitia a qualificação para as meias, mas Wim van Hanegem, médio dos neerlandeses, tinha outros planos e marcou aos 75’. A precisar de mais um golo, o Benfica meteu a quinta, carregou pedal a fundo e rubricou um quarto de hora final de alta qualidade, com Nené a ser o herói ao marcar o tento necessário aos 82’ e a completar o hat-trick aos 89’. Pelo meio, Jordão também bisou, aos 87’. Nascia, diz-se, os 'quinze minutos à Benfica'.
António Simões, campeão europeu pelo Benfica em 1961/1962, lembra-se bem da partida. O atacante havia partido o braço dias antes e, como tal, não pôde entrar em campo para ajudar os encarnados a virar a eliminatória. «Foi um desgosto extraordinário, estava num momento de forma fantástico. Toda essa época, as coisas correram de feição», começou por dizer a lenda do clube.
O ambiente que se criou pelos adeptos no Estádio da Luz e nos jogos europeus era tal que quase que jogávamos com o vento a nosso favor
Ao recordar esses 15 minutos em que as águias marcaram três, Simões confessa não ter ficado surpreendido, tal era a qualidade do Benfica: «Quando temos o Nené e o Jordão, Jaime Graça no meio, Eusébio…. quem está a ver o jogo nunca pode perder a esperança de que os golos podem surgir, porque tem na frente grande talento. Naquele tempo, com aquele ambiente e jogadores desta qualidade, não se podia deixar de pensar que se pode fazer golos, tem é de se pensar que se consegue. Nené estava muito inspirado nesse jogo. Assim que faz o 3-1, o Feyenoord percebe que está eliminado. E aí, o que faz? Destapa-se e sofre o quarto e o quinto. As pessoas lembram-se muitos dos últimos 15 minutos em que fizemos três golos, mas até ali a equipa teve dificuldades em superiorizar-se à que era a segunda melhor equipa da Holanda [n.d.r. hoje Países Baixos].»
O Inferno da Luz e os quinze minutos
Ainda assim, António Simões discorda que os ‘quinze minutos à Benfica’ tenham surgido com esse encontro. «É verdade que esse jogo ficou marcado pelos último quarto de hora, mas os 15 minutos que ficaram famosos do Benfica eram os primeiros 15 minutos de cada jogo», diz, rebobinando a cassete até à década de 60. O campeão europeu faz a ponte com a expressão Inferno da Luz que, recorda, «nasceu nos anos 60, num jogo contra o Nurnberg, o campeão da Alemanha». E explica: «Perdemos 3-1 lá e na Luz demos 6-0. É nesse jogo com o Nurnberg que nasce o espírito do Inferno da Luz, porque aos 20 minutos já tínhamos marcado uns três ou quatro golos. Depois, na final contra o Real Madrid, ganhámos 5-3. É aí que nasce o Inferno da Luz, porque um associado disse que vir jogar à Luz era um inferno, e a expressão pegou.»
E qual a relação com os ‘quinze minutos à Benfica’? «Quando se fala de 15 minutos à Benfica, é impossível não associar ao Inferno da Luz», sublinha. «As duas expressões podem não ter nascido no mesmo dia, mas nasceram na mesma época. A expressão nasce porque o Benfica marcava muitos golos, muito cedo e em muito pouco tempo. O ambiente que se criou pelos adeptos no Estádio da Luz e nos jogos europeus era tal que quase que jogávamos com o vento a nosso favor», conta-nos, lembrando que «era uma barulheira, houve momentos em que o árbitro apitava e não ouvíamos».
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Simões termina, recordando-se de ainda ser um «miúdo no Benfica» que «ia no autocarro e, ao chegar à entrada», ouvia os adeptos gritarem: «Simões, hoje é 15 minutos à Benfica, eles levam cinco!»