Há muito que não se via esta águia voar tão alto: a crónica da Eusébio Cup
Benfica vence Feyenoord na Eusébio Cup (Miguel Nunes/A BOLA)

Benfica-Feyenoord Há muito que não se via esta águia voar tão alto: a crónica da Eusébio Cup

FUTEBOL28.07.202422:08

Foi, de facto, uma primeira parte avassaladora, mas quando, enfim, regressar Di Maria, pode o Benfica continuar a ter este ritmo, este galope, esta mesma intensidade de jogo?

Avassaladora entrada do Benfica no jogo. Quatro golos em vinte minutos e um futebol vibrante, alegre, intenso, que levou os adeptos a um natural estado de euforia, tornando esta edição da Eusébio Cup numa festa pintada de vermelho.

E, de facto, há muito, muito tempo que não se via esta águia voar tão alto. O que coloca uma natural interrogação que é a de se tentar perceber o que tanto pode ter mudado no Benfica adormecido, às vezes indolente, cansado, desiludido que tornou a época passada penosa? Pode tanto ter mudado, apenas porque entraram alguns novos jogadores, verdadeiros reforços que, claramente, agradam aos adeptos? Pode esta diferença enorme ser assinada pelo mesmo homem que, na época passada, chegou a ver tantos lenços brancos a pedir a despedida?

O futebol continua a ser um fenómeno complexo, difícil de entender e, na verdade, ao contrário do que alguns querem fazer crer, não existem verdades absolutas.

O certo é que, depois do que viram ontem ao Benfica, no jogo com o histórico Feyenoord, os adeptos só têm olhos para o futuro e cabeça para o sonho do regresso a uma época de glória.

SEIS DIFERENÇAS DECISIVAS

Procuremos os factos. Há seis enormes diferenças entre este Benfica e o Benfica da época passada. Falemos delas:

1 – grande intensidade na recuperação de bola e, em especial, na reação à perda, quando a equipa está adiantada no campo. Trata-se, mais do que uma diferente atitude, uma convicção de que uma equipa de topo não pode agir de outra maneira.

2 – Enfim, a existência de verdadeiros defesas laterais. Uma equipa que joga na defesa com uma linha de quatro precisa de defesas laterais de grande capacidade de entender o jogo e de se relacionar com os seus centrais e, também, com a estrutura ofensiva de que não podem deixar de fazer parte. A presença de Bah na direita e a chegada de Beste para o lado esquerdo tornou-se fundamental.

3 – Um meio campo musculado e com mais presença na área do adversário. Algo que se tornou possível com o adiantamento de Aursnes e com a chegada de Leandro Barreiro, um jogador que acrescenta, e muito.

4 – Velocidade, rigor e qualidade na circulação da bola. Um fator essencial no futebol moderno e, sobretudo, numa equipa que joga quase todo o período competitivo, em Portugal, com uma obrigação atacante perante adversários tendencialmente defensivos.

5 – Uma atração global pela baliza, o que implica médios que assistem, mas que também se implicam na conclusão atacante.

6 – Finalmente, um avançado com uma insaciável fome de golo. Pavlidis já é uma estrela na Luz e deixa a vida muito difícil a uma concorrência que tem mesmo de trabalhar muito para ser uma alternativa à altura.

Se juntarmos a estas diferenças esse fenómeno argentino que já é Prestianni (grande golo!) e a afirmação de outro talento como Marcos Leonardo, percebe-se que Schmidt tem, enfim, razões para sorrir.

E UMA PEDRINHA DE GELO

Aquece, pois, e com razão, o entusiasmo dos adeptos do Benfica. Viram, ontem, uma primeira parte de grande classe e uma equipa comprometida com um futebol rejuvenescido, cheio de vigor e de poder. Uma equipa que, mesmo quase inteiramente mudada na segunda parte, continuou a dar excelentes sinais, o que a levou a chegar a uns impensáveis cinco-a-zero, tendo em conta o currículo do adversário.

No calor do entusiasmo, a maldade de uma pedrinha de gelo. E quando, enfim, regressar Di Maria, poderá este Benfica ter este galope, este ritmo, esta mesma intensidade de jogo, sem pausas, sem sombras de descanso no jogo? É uma inquietação legítima, mas a questão tem mais de ser respondida pelo argentino do que pela equipa.