Quantas vidas tem João Félix?

INTERNACIONAL05.02.202511:20

Jogador de 25 anos terá no Milan a 4.ª tentativa de renascimento, desta vez com regresso às origens e à camisola 79, a mesma do Benfica. Amizade com Rodrigo, filho de Sérgio Conceição, poderá facilitar adaptação, depois de Chelsea, duas vezes, e Barcelona

É ainda hoje a transferência mais cara da história do futebol português. João Félix tinha só 19 anos e, depois de grande época no Benfica, o Atlético Madrid contratou-o no verão de 2019 por 126 milhões de euros! As expectativas eram elevadíssimas, a gestão das mesmas acabou por revelar-se, aqui e ali, um desastre e a frustração impôs-se mais vezes do que a alegria que se via no futebol do menino que brilhou com a camisola 79 das águias, contribuindo como poucos para a conquista do 37.º título de campeão nacional pelos encarnados.

É em busca dessa luz intensa, que dele emanou naquela temporada 2018/2019 em que, com a camisola do Benfica e orientado primeiro por Rui Vitória e depois por Bruno Lage, disputou 43 partidas, somando 20 golos e 8 assistências, que João Félix, agora com 25 anos, tenta renascer novamente, desta vez no AC Milan, mais um gigante na carreira, depois de Atlético Madrid, Chelsea e Barcelona.

No caso do talentoso atacante – seja na posição que mais se adequa às suas sublimes qualidades, a de segundo avançado, seja como extremo —, os rossoneri, de Sérgio Conceição, representam a quarta oportunidade de voltar à vida e de ultrapassar os traumas que possam ter ficado da relação quase sempre conflituosa com Diego Simeone.

Em 2019, João Félix assinou pelo Atlético Madrid, a troco de 126 milhões de euros. Um sonho... (foto A BOLA)

Com o treinador do Atl. Madrid, Félix trabalhou entre junho de 2019 e janeiro de 2022, período ao longo do qual, já agora, disputou 131 jogos (em todas as competições), marcou 34 golos (média de 0,25/jogo) e protagonizou 16 assistências, números relevantes, mas que nunca se sobrepuseram à deceção de nunca se ter imposto claramente como titular indiscutível.

Algo que aconteceu, depois, na segunda metade de 2022/2023, na primeira passagem pelo Chelsea (20 jogos, 4 golos, 0 assistências); na época seguinte, no empréstimo ao Barcelona (44J, 10G, 6A); e, por fim, na primeira metade da presente temporada, na segunda aventura no Chelsea (20J, 7G, 2A), agora em definitivo e que rendeu ao Atleti 52 milhões de euros.

João Félix já se treinou com os companheiros em Appiano Gentile, no centro de estágios do Milan (foto AC Milan)

O Milan apresenta-se, assim, como mais uma prova de fogo para o que realmente pode esperar-se de João Félix nesta fase decisiva da carreira. Talento não falta ao internacional português, portanto esse não é, nunca foi, o problema. Haverá no atacante algo diferente, nem que seja a decisão, com simbolismo relevante, de ter escolhido a camisola 79, precisamente o número que usou no Benfica. Sinal de que nesta tentativa de renascimento há uma vontade de apagar o que ficou para trás nos últimos seis anos e voltar à estaca zero, ao ponto em que se encontrava no começo de tudo?

No Benfica em 2018/2019, com a camisola 79, número a que regressa no AC Milan. Simbólico... (foto A BOLA)

Os próximos tempos revelarão que João Félix é este que chega agora ao clube por onde passaram outros representantes da nossa bandeira, como Paulo Futre, Rui Costa, Diogo Dalot, André Silva e o agora novo companheiro Rafael Leão.

Mas mais relevante no futuro próximo de Félix será, decerto, o papel de Sérgio Conceição. E a disposição do jogador para trabalhar nos limites que o técnico sempre impõe nos seus treinos e jogos. A favor do atacante poderá estar o facto de ser amigo há muitos anos de Rodrigo, filho do treinador do Milan, e de, por isso, ser visita de casa da família Conceição...

Sérgio Conceição, fora das quatro linhas
Sérgio Conceição falou em 2019 da amizade do filho Rodrigo com João Félix (Imago)

Dessa relação falou Sérgio em 2019, após um FC Porto-Benfica que as águias venceram por 2-1, com um dos golos marcado por João Félix. No fim, Conceição e Félix desentenderam-se, mas, na conferência de imprensa de antevisão do jogo seguinte, o treinador esclareceu o momento em que deixou o jogador de mão estendida...

«Falou-se muito de um não cumprimento entre treinador e jogador. É ridículo. Ali estou a defender o FC Porto e os meus jogadores. Ou tenho de ser hipócrita? Sou o que sou, ponto. O jogador [João Félix] esteve o ano passado em minha casa a passar férias. Pode voltar outra vez. Só tem de pagar a viagem. O pequeno almoço e almoço ofereço eu», disse o então técnico dos dragões.

Agora, após seis anos, partilham o balneário. E, hoje, o Milan defronta a Roma em duelo dos quartos de final da Taça de Itália. Oportunidade para ver já em ação João Félix? Tem a palavra Sérgio Conceição.

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