Os episódios de tensão em seis anos de inconformismo

FC Porto Os episódios de tensão em seis anos de inconformismo

NACIONAL23.03.202309:36

Agitador ou inconformado, a classificação depende do valor e peso que se dá aos vários episódios de tensão protagonizados por Sérgio Conceição ao longo dos quase seis anos que leva no comando do FC Porto. Uma coisa é certa: a sua voz (mesmo quando está em silêncio, como agora) cria abalo e gera forte preocupação interna, valendo, na circunstância, a ação de Pinto da Costa para sossegar o vulcão. Já se viu este filme no passado.


A pouca apetência em aceitar, por exemplo, estar ainda a pagar a fatura do 'fair-play' financeiro da UEFA, depois de ter ajudado com nove títulos e muitos milhões ganhos nas provas europeias o FC Porto a libertar-se do regime de contenção económica, está na origem de muita frustração. Um dos atingidos pela acidez de Conceição foi Fernando Gomes, administrador e responsável pela área financeira, que a 11 de outubro de 2022, depois de anunciar lucro da SAD de € 20,76 milhões, ouviu o treinador considerar que o lado financeiro «não tem correspondido ao sucesso desportivo.»


Não é a primeira vez que se agita a bandeira da saída de Conceição. A 25 de janeiro de 2020, depois de perder a Taça da Liga frente ao SC Braga, colocou o lugar à disposição por descortinar défice de união dentro do clube. «É preciso responsabilidade coletiva, a começar por mim. Não estou a falar do grupo de trabalho, mas de toda a gente. Porque é difícil trabalhar em determinadas condições. No primeiro ano, sem reforços e sem dinheiro. No segundo, com falta de verdade desportiva. Este ano sem união dentro do clube. Assim, fica difícil… Neste momento o meu lugar está à disposição do presidente», disparou. Pinto da Costa interveio e no dia seguinte o fogo estava em fase de rescaldo.


O CAMINHO DAS PEDRAS


Dois anos depois, a venda inesperada de Luis Díaz no mercado de inverno de 2022 tirou Sérgio Conceição do sério. «Nas grandes empresas e grandes clubes o planeamento é feito em função dos objetivos. Quando existe pouco planeamento ou não o há, temos de rever os objetivos e pensar no futuro próximo. Sou exigente e neste momento a verdade é que está mais difícil. É olhar para o futuro e perceber que os nossos objetivos poderão ficar mais difíceis de concretizar», disse o treinador portista à Sport TV, após vitória por 2-1 sobre o Marítimo. Apesar disso, o FC Porto celebrou a dobradinha no final dessa época. Novo incêndio extinto.


O ano passado foi generoso em episódios que criaram agitação no FC Porto. A começar pela saída do filho Francisco Conceição para o Ajax, que motivou comentários azedos de Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões. «Filho meu nunca jogaria no Benfica! Filho meu nunca prejudicaria o Porto Se o FC Porto anda há quase um ano a querer renovar com o filho do treinador, a culpa é de quem?», atacou Madureira, nas redes sociais, para mais tarde pedir «perdão» a Conceição.

Não é oficial, mas a intervenção de Pinto da Costa terá acelerado o pedido de desculpas, não sendo líquido que Conceição tenha perdoado Madureira. Muito grave foi o apedrejamento do veículo da esposa de Conceição, na noite de 13 de setembro de 2022 após derrota em casa com o Club Brugge, por 0-4, na Liga dos Campeões.

No carro seguiam os filhos do treinador, Rodrigo e Moisés, e as respetivas namoradas. Não estivesse o vidro fechado e as consequências teriam sido nefastas. O FC Porto reagiu energicamente e sabe-se hoje que estão constituídos dois arguidos, havendo um terceiro por localizar. Contudo, a Polícia suspeita que o grupo que apedrejou o carro de Liliana Conceição era constituído por pelo menos cinco ou seis indivíduos. Temeram os portistas que Sérgio Conceição batesse com a porta, mas esse cenário nunca foi colocado pelo treinador. Contudo, depois de vencer os belgas por 4-0, vingando a humilhação no Dragão, foi claro: «Posso viver 300 anos, mas nunca vou esquecer aquilo que aconteceu à minha família, daí lhe dedicar este jogo. Não há motivos para atirar flores ao treinador, como no Dragão não havia motivo para atirarem pedras à minha família.»