O mistério das máscaras (artigo de José Manuel Delgado)

CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO O mistério das máscaras (artigo de José Manuel Delgado)

NACIONAL01.04.202012:14

O Real Madrid jogou a 3 de março em Milão para a Liga Europeia de Basquetebol. Os jogadores merengues não queriam viajar para Itália, então já muito afetada pelo surto de Covid-19, mas tiveram de se deslocar, com a promessa de que não haveria problema, uma vez que o jogo seria disputado à porta fechada. Em protesto, o norte-americano da formação de Madrid, Trey Thompkins, apresentou-se de óculos, luvas e máscara e assim se manteve até ao regresso à capital espanhola.

Desta digressão acabou por resultar um infetado com Covid-19: Trey Thompkins, o que veio dar força à tese da Organização Mundial de Saúde, perfilhada pela Direção Geral de Saúde portuguesa, de que as máscaras só deviam ser usadas por quem tem sintomas do vírus, ou está em contacto com pessoas infetadas.

Acontece que, nesta pandemia onde as dúvidas superam em muito as certezas, o Mundo tem respondido de forma diversa ao uso das máscaras: no Extremo Oriente são absolutamente indispensáveis para se andar na rua sem censurabilidade social, e em algumas jurisdições a falta de uso dá até prisão; na maior parte dos países da Europa e nos Estados Unidos, a doutrina divide-se e há quem use, até pelo efeito psicológico, e quem prefira não usar. Mas, no Velho Continente, começa a emergir uma tendência, por explicar cientificamente, no sentido do uso obrigatório. Essa medida já vinha a ser aplicada na República Checa e na Eslováquia (onde as taxas de propagação são muito baixas), a Áustria decretou que as máscaras passam a ser de uso obrigatório nas idas aos supermercados ou às farmácias e o município de Jena, na Alemanha (antiga RDA) tornou imperativa a colocação de máscara a quem sair de casa.

Perante esta discrepância, em que ficamos? Mantemos fidelidade às orientações da OMS e da DGS, ou enveredamos pelas novas tendências que vão fazendo escola não só na Ásia, mas também no centro da Europa?

Uma dúvida, porém, subsiste: quando o Covid-19 atacou em força no Velho Continente, nenhum país estava logisticamente preparado para enfrentar o monstro e havia uma notória escassez de máscaras (a França comprou ontem mil milhões!). Terá sido também por isso, e para evitar uma inevitável convulsão social, que o uso de máscaras foi desvalorizado e agora, à medida que os stocks vão ficando mais compostos, vai sendo introduzida essa medida, que pode ajudar na luta contra a propagação do vírus?