O menino-patrão e os avançados perdidos (os destaques do Benfica)
Di María nada acrescentou ao jogo do Benfica. FOTO IMAGO
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Bayern-Benfica, 1-0 O menino-patrão e os avançados perdidos (os destaques do Benfica)

FUTEBOL06.11.202423:17

Tomás Araújo foi, com Trubin, o homem-mais da má noite benfiquista em Munique. De Kokçu para a frente, todos se sentiram órfãos da estratégia e... muito sozinhos

A figura do Benfica: Trubin (7)

Se o plano original do zero-zero tivesse vingado, teríamos provavelmente em Anatoliy Trubin o melhor jogador em campo. Começou a dar segurança ao Benfica logo aos 4 minutos, anulando um cruzamento, e aos 13 mostrou atenção num canto. Até ao intervalo teve mais três ou quatro intervenções importantes, ainda que nenhuma delas possa apelidar-se de defesa de sonho, visto que o Bayern também não foi aquela máquina atacante que já vimos carburar noutras eras. A entrada de Leroy Sané mexeu com o jogo e essencialmente com a vida de Trubin, que no espaço de cinco minutos (entre os 59 e os 64) evitou por duas vezes o golo do internacional alemão, e a segunda já com direito a aplauso de pé. Nada, nadinha, a fazer no golo bávaro, marcado a um metro dele.

4 Kaboré — Não se trata do jogador mais confiante do Mundo, claramente. Teve pela frente jogadores dificílimos de travar, nomeadamente Davies, que o obrigou a cometer falta para cartão amarelo a meio da primeira parte. Ora, se o burquinense já está condicionado pelas dificuldades de afirmação na equipa, mais condicionado ficou com o espectro de uma eventual expulsão, pelo que não surpreendeu a saída ao intervalo.

6 Tomás Araújo — Está a fazer-se um patrão. Mostrou confiança desde o início do jogo, com cortes impositivos e muito atento às dobras de que Kaboré foi sempre precisando. Teve uma pequena falha, quando aos 47 minutos cometeu uma falta sobre Kane que resultou de alguma negligência, mas se houve alguém a corporizar a estratégia de Bruno Lage, e a fazer acreditar que ela poderia ser viável, foi Tomás Araújo. Era expectável que tivesse iniciado o jogo na direita, perante a ausência de Bah, mas está visto que a aposta no menino é mesmo para central. E parece-nos que bem...

5 Otamendi — Liderou a defesa e foi aguentando o trabalho de sapa, com a eficácia e a sabedoria do costume. Teve um excelente corte aos 87 minutos, quando já tudo estava decidido. Foi visto, muitas vezes, a puxar pelos colegas, cumprindo o papel de capitão que lhe cabe neste Benfica. Jogo ingrato, porque estava-se a ver que a muralha iria ceder nalgum momento...

5 António Silva — Regressou ao onze e para jogar pela meia esquerda. Não comprometeu, longe disso, mas também não se lhe viram grandes momentos, tendo sido certinho nas dobras a Álvaro Carreras quando o colega dele precisou. Parece carente de alguma confiança. Aos 52 minutos cometeu aquilo a que se vulgarizou chamar uma falta tática importante para Musiala não iniciar um contra-ataque que poderia ter sido letal.

5 Carreras — Tem estado em alta e, a espaços, ensaiou alguns atrevimentos, mas teve de ser, sobretudo, mais um bombeiro no trabalho defensivo a que o Benfica ficou destinado nesta noite de quarta-feira. Pertenceu-lhe, aos 52 minutos (!) a primeira ameaça quase real à área do Bayern, com uma investida pela esquerda seguida de cruzamento.

4 Renato Sanches — Esforçado, mas sem ritmo. Empenhado, mas sem chama. Este Renato Sanches é uma sombra do que já se lhe viu, e bem que o Benfica teria agradecido três ou quatro daquelas jogadas de progressão em posse de bola que o tornaram famoso. Vem de lesão, sabemo-lo. Talvez não fosse o jogo indicado para a reentrada no onze, mesmo com o eventual élan de jogar no estádio de uma equipa que já representou e onde deixou coisas por provar.

5 Aursnes — É um pêndulo. Se um dia o Mundo estiver a acabar, apostamos que este norueguês será daqueles que ficam a dar instruções e a tentar ajudar os outros até ao fim. Com um espírito de missão incrível, viu-se que tinha ideias para fazer a bola chegar à frente... mas não tinha frente onde fazer a bola chegar. Defensivamente foi exemplar.

5 Kokçu — Começa no turco a fatia dos jogadores mais prejudicados pela estratégia de Munique. Um criativo amarrado a processos defensivos, que foi cumprindo com suor e galhardia. Talvez Bruno Lage contasse com ele para ter um pouco mais de bola e pausar o jogo quando necessário, mas a solidão a que cada jogador mais ofensivo do Benfica foi votado tornava esta tarefa quase impossível.

4 Amdouni — Só tinha sido titular na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Sabe mexer na bola e, quiçá, segurá-la, mas «segurar» não foi a palavra da noite do Benfica em Munique. Vê-se que tem futebol nos pés, teremos de esperar por outras oportunidades para o confirmar.

4 Akturkoglu — Imaginem um jogador que tinha oito golos em nove jogos pelo Benfica ver-se, de repente, sem bola, sem apoios, sem triangulações, sem referências. Chegou a uma equipa que manda nos jogos e viu-se numa equipa que decidiu deixar os outros mandarem. Cumpriu o papel e deu boas ajudas no trabalho defensivo. Ofensivamente... fica para a próxima.

5 Beste — Entrou para substituir Kaboré do lado direito da defesa, tendo terminado na esquerda do ataque, quando já valia quase tudo para tentar um empate caído do céu. Antes da anarquia final, Beste teve em Coman (quando entrou) um extremo que lhe deu água pela barba, e a barba dele está bem exposta. Foi, ainda assim, uma espécie de farol competitivo no Benfica, tentanto mostrar que havia caminhos para a frente.

4 Pavlidis — Mais uma vítima do sistema. Segurou duas ou três bolas, mas não conseguiu dar-lhes (con)sequência, sobretudo por falta de apoios.

4 Di María — Podia ter tirado um coelho da cartola? Podia, mas isso não acontece todos os dias. Deixou, pelas evidentes deficiências defensivas, o Benfica mais exposto ao ataque final do Bayern.

- Arthur Cabral — Talvez tenha chegado a tocar na bola.

- Rollheiser — Provavelmente não tocou mesmo na bola.