CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO O desaparecimento dos dinossauros (artigo de José Manuel Delgado)
A Liga alemã, primeira a arrancar em ‘modelo desconfinado’, retirou bons proventos do processo de internacionalização que foi capaz de aprofundar, ganhando dinheiro, visibilidade e prestígio. Metódicos e organizados, os germânicos criaram um modelo baseado na eficácia e no pragmatismo e abriram uma janela de esperança que a indústria do futebol não pode deixar que se feche.
A ideia de ‘vender’ para o exterior os direitos televisivos de alguns jogos da I Liga portuguesa, aproveitando, por um lado a pulverização das jornadas ao longo da semana, e por outro o reinício madrugador da nossa principal competição futebolística, deve ser encarada, por todos, com seriedade, porque tem a virtualidade de apontar no sentido da modernidade.
Especialmente nesta altura tão particular do desporto, os clubes e os operadores televisivos têm de funcionar como parceiros mais do que como partes de um negócio; e se os clubes precisam de dinheiro, os operadores necessitam de faturar. Só em harmonia podem chegar a uma situação ‘win-win’. Esta crise sem precedentes tem de servir, também, para erradicar comportamentos retrógrados, e colocar todos os que navegam no mar da indústria do futebol a apontar ao mesmo destino: mais transparência, melhor competição, e receitas aumentadas.
Já o disse, tentar aproveitar esta oportunidade para colocar o nosso produto-futebol lá fora é uma ideia cheia de mérito. Porém, se o que vendemos não tiver um selo de garantia, ninguém vai querer comprar. E, então se forem, como tem acontecido, os próprios clubes a virem a público gritar que a competição é corrupta, posso garantir que a I Liga será sempre considerada o produto mais tóxico do mercado.
Mas será que uma classe dirigente que, essencialmente ao nível dos maiores clubes, quase sempre pautou a convivência pela agressão e pelo lançamento de suspeições, vai mudar? Uma classe dirigente que quase sempre tratou aqueles que deviam ser adversários como inimigos, vai mudar?
Talvez. E não digo este ‘talvez’ por acreditar que as mentalidades mudem a esta velocidade. O meu ‘talvez’ parte do princípio de que um estado de necessidade absoluto e uma real luta pela sobrevivência, obrigue os clubes a entendimentos que podem vir a revelar-se de grande utilidade para o futuro da indústria do futebol.
Voltando à venda para o exterior dos direitos televisivos da Liga portuguesa, pergunto se em algum dos grandes campeonatos se vêm as cenas indecorosas que têm feito do nosso dia a dia? Ou se nessas Ligas, algum clube ofende, impunemente, os rivais, ou os jornalistas, ou os órgãos jurisdicionais, ou os árbitros?
Querem que ‘isto’ funcione bem? Ponham os olhos, se quiserem sair do âmbito do futebol, nas principais modalidades do desporto norte-americano: futebol americano, basquetebol, beisebol e hóquei no gelo. Ponham os olhos e aprendam.
Se depois de tudo isto, mesmo assim não quiserem aprender, então estarão condenados a desaparecer, como os dinossauros.