O MISTER DE A BOLA Noite histórica do SC Braga em Berlim
A análise de Vítor Manuel
Ambição bracarense
Duas equipas que vinham de derrotas no primeiro jogo, portanto, necessitadas de ganhar, embora o Union de Berlim menos pressionado porque tinha perdido frente ao colosso Real Madrid. Mas os alemães vinham de cinco derrotas consecutivas em casa, pelo que estava mais encostado às cordas e, também, por jogar em casa mas em campo neutro, pois o estádio é do seu rival direto, o Hertha. Defrontava o velho conhecido da Liga Europa, o SC Braga, tratando-se dum tira-teimas e, teoricamente, lutando os dois pelo terceiro lugar. O SC Braga conseguiu um resultado histórico que lhe abre as perspetiva de conseguir continuar na Europa, seja na Liga Europa ou na Liga dos Campeões, pois ainda faltam quatro jogos. O onze inicial de Artur Jorge revelou uma equipa ambiciosa do meio-campo para a frente, com a mesma matriz de 4x2x3x1, com quatro homens de vocação ofensiva do meio-campo para a frente, Djaló na direita, Bruma na esquerda e Ricardo Horta nas costas do ponta-de-lança Banza – prescindiu de jogadores de grande experiência europeia para meter irreverência , talento, juventude. Foi uma equipa demasiado ousada para aquilo que um jogo desta dimensão requer. Mas, contas feitas, apenas fez duas alterações, saindo Víctor Gómez e entrando Joe Mendes, e também preterindo Pizzi para entrar Bruma para o lado esquerdo, com Ricardo Horta a derivar para o meio. Bruma fez uma arte no segundo golo, que figurará na vitrina desta Liga dos Campeões.
Muro de Berlim
A primeira parte revelou um SC Braga com mais posse do que os alemães, jogando mais dentro do meio-campo ofensivo, mas os portugueses nunca conseguiram desmontar o muro de Berlim, com estes a colocarem a nu o momento defensivo do SC Braga e houve um Usain Bolt Becker, que fez dois golos mas poderia ter feito mais, que colocou Borga em pânico. Ao intervalo, o resultado era justo por aquilo que se tinha passado. Mesmo assim, o Braga conseguiu entrar no jogo com o golo de Niakaté, sem antes ter conseguido criar oportunidades de golo. Ironia do destino, o francês fez o golo depois de ter sido carrasco no jogo com o Nápoles, com o golo na própria baliza. Isto trouxe outro ânimo aos bracarenses para o jogo, depois de terem cometido muitos erros na primeira parte e o resultado de 2-1 até era lisonjeiro para aquilo que se tinha passado com Matheus Magalhães a ser o melhor em campo.
Monumento de Bruma
Na segunda parte não houve alterações, mas aos 52 minutos o SC Braga faz logo o golo do empate, num monumento de Bruma. Aí o SC Braga cresce, fica por cima do jogo porque abanou emocionalmente o Union Berlim. Aos 63 minutos, com as duas alterações - as entradas de Laidouni e Volland, que mais frescura, com Volland a dar mais apoio a Becker - o SC Braga começou a sentir mais dificuldades. O Union tomou conta das operações mas já não criava tanto perigo porque o SC Braga já não estava tão exposto e aos 73 minutos Artur Jorge percebe o momento do jogo e coloca em campo João Moutinho e Adrian Marín. Boa leitura de Artur Jorge para meter mais um homem no corredor central. Moutinho entrou para o lugar de Zalazar, que tinha estado nos dois cantos que resultara nos dois primeiros golos mas tinha falhado muitos passes. Moutinho trouxe clarividência e Marín veio dar mais consistência à ala esquerda, porque Borja estava esgotado. Nesta perspetiva, o treinador do Union Berlim mudou Becker para a esquerda e este continuou a criar perigo.
Plano alterado
Aos 83 minutos, entraram Vítor Carvalho e Abel Ruiz. Estes traziam um plano de jogo que passava por a equipa ter mais bola, mais sustentabilidade e com jogadores mais frescos e com outras características, com Abel Ruiz descaído para a direita, Vítor Carvalho ao lado de Al Musrati e com João Moutinho a subir um pouco no terreno para controlar porque o 2-2 já era resultado positivo. Depois da lesão de Joe Mendes, salta para dentro de campo o herói improvável André Castro, com Vítor Carvalho a ir para defesa direito e Castro a ficar no meio-campo e foram dois jogadores, que também tinham o plano de segurar o resultado. Mas antes disso não nos podemos esquecer que o Union esteve mais perto do 3-2, com Matheus Magalhães a negar o golo a Volland. O guarda-redes foi o melhor em campo, juntamente com Bruma, Ricardo Horta e com Banza, que deu muita luta à defesa do Union.
Resumindo: vitória histórica de uma equipa que conseguiu ser muito eficaz na segunda parte, após um primeiro tempo preocupante, perante uns alemães talvez com alguma sobranceria mas houve uma grande virtude: nunca sucumbiu às adversidades e emocionalmente ao que estava a acontecer. No entanto, revelou os mesmos defeitos e as virtudes – muito forte ofensivamente mas com debilidades defensivas. Artur Jorge tem de tentar criar um equilíbrio.