No último de todos os últimos lugares mora o Pennarossa
Sete derrotas em sete jogos na liga do pior classificado dos ranking da UEFA e da FIFA; mais uma crise profunda de um clube sobrevivente
San Marino, o mais antigo Estado do mundo, é o último classificado nos rankings da UEFA e da FIFA, que dizem respeito respetivamente à participação dos clubes nas competições europeias e à prestação da seleção nacional sénior. No último lugar da primeira divisão do Campionato Sammarinese di Calcio mora o Pennarossa, da vila Castello di Chiesanuova, com apenas 1100 habitantes, no sudoeste do território, um enclave no território italiano.
Na pior liga do planeta, o Società Sportiva Pennarossa, que em 2003 conquistou campeonato, taça e supertaça, no ano seguinte arrecadou uma segunda Coppa Titano e em 2004-05 participou na Taça UEFA (foi eliminado pelos bósnios do Zeljeznicar, na primeira pré-eliminatória, com um agregado de 9-1; a derrota em casa por 5-1 igualou então o pior registo de uma equipa de San Marino, então detido pelo Folgore, que tinha perdido quatro anos antes pelo mesmo score para o Basileia), leva sete derrotas em outros tantos encontros. São quatro golos marcados e 21 sofridos, e perdeu os últimos jogos enquanto visitado, diante do Folgore (2-4) e do Domagnano (1-2). É mais uma crise profunda de um sobrevivente do futebol.
Pennarossa é o primeiro nome do local hoje conhecido por Chiesanuova (literalmente igreja nova) designação que data do século XVI, quando se deu a reconstrução da Chiesa di San Giovanni Battista in Curte, hoje não existente. O seu brasão é uma pena vermelha, exatamente o símbolo usado no logótipo do clube fundado em 1968 por seis amigos, que entregaram a presidência a um dos dois investidores: Antonio Bartolini. O outro foi Domenico Menghini. As cores dos equipamentos também vêm daí: o vermelho da pena, o branco a significar a pureza.
Nos anos 80, a agremiação entrou em decadência. Em 1987, o então presidente Luigi Raganini deixou o cargo e quase levou o clube à falência. O Pennarossa saiu da periferia do castelo e perdeu a identidade, só sobreviveu com ajuda de cidades vizinhas. Em Murata, Alfiero Vagnini injetou capital, foi presidente, treinador e jogador, e recrutou jogadores em bares. Depois, na sequência de outra crise no início dos anos 90, foi em Borgo Maggiore que um grupo de jovens, entre os quais se encontrava o árbitro Manuel Giusti, tomou as rédeas do clube até ao seu regresso a Chiesanuova, graças à intervenção do município. O presidente Massimo Barbieri e o treinador Sergio Conti foram muito importantes na retoma. Depois de três finais perdidas em 2003, já com o internacional Pierangelo Manzaroli como treinador-jogador, chegaram os títulos e a primeira e única experiência numa competição europeia, sempre como amadores, no ano seguinte.
O sonho de ter um estádio próprio é que ainda não se concretizou. Apesar de treinar no Campo Sportivo di Chiesanuova, este é maioritariamente usado para o râguebi e, esta temporada, já jogou como visitado em três palcos de cidades vizinhas, o Campo Sportivo di Acquaviva, o Campo Sportivo Federico Crescentini em Florentino (duas vezes) e o Stadio Fonte Dell’Ovo, na cidade de San Marino, o que também não ajuda um emblema de uma cidade pequena, que atrai uma centena de adeptos aos seus jogos e ainda tem de saltar de infraestrutura em infraestrutura com uma equipa cada vez mais fragilizada.
São 14 jogadores italianos, sete são-marinenses, dois albaneses, um suíço e um argentino num grupo treinado por Salvatore Nobile, antigo defesa que passou por clubes como Lecce e Inter, entre outros. A missão de salvar o Pennarossa parece cada vez mais complicada. Os sintomas já lá estavam desde a época passada, com a necessidade de passar por uma liguilha para garantir a permanência, e agudizaram-se com a eliminação da Taça já esta temporada, nos oitavos de final, diante do Folgore, com um agregado de 2-5.
Os próximos tempos não se adivinham nada fáceis nem para um clube habituado a sobreviver.