Miguel Maga: «Jogadores têm de definir o que querem passar para o público»
Miguel Maga, lateral-direito do Penafiel (Imagem: João Agre/ABOLA)

ENTREVISTA Miguel Maga: «Jogadores têm de definir o que querem passar para o público»

NACIONAL10.05.202411:00

Se esteve nas redes sociais no Dia da Liberdade, então certamente deu de caras com Miguel Maga, que aproveitou a flash interview, após o jogo com o UD Leiria, para deixar uma mensagem de cariz social: «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais». A BOLA viajou até Penafiel para conhecer as ambições e interesses do lateral-direito.

- No dia 25 de abril, a tua flash interview tornou-se viral nas redes sociais. Porque sentiste necessidade de o dizer ali e não, por exemplo, na tua rede social?

Desde o momento que eu percebi que ia à flash, e sendo o dia que era, marcante para a História de Portugal, decidi, por vontade própria, passar a mensagem do 25 de Abril. Não posso fechar os olhos ao que me rodeia e esse dia serviu para isso mesmo, tentar passar o valor da ordem, da liberdade e do que aquele dia representa para Portugal e de quem lutou para que tudo fosse possível. Nada mais, não quis envolver-me em questões políticas. Não me quis tornar viral, apenas quis fazer o que o meu coração sentia naquele momento.

- Achas que os jogadores do futebol deveriam ter uma voz maior nas questões políticas?

Bem, isso vai depender muito da opinião de cada um. Acho que os jogadores têm de definir o que querem passar para o público. Gosto de dar a minha opinião e de ouvir a dos outros.

- Já te sentiste condicionado em alguma das tuas declarações públicas?

Pelos clubes por onde passei nunca me disseram que não podia falar sobre determinado tema. Nem tenho conhecimento que isso aconteça noutros clubes, por parte da comunicação.

Veja o vídeo

- Enquanto júnior, do Penafiel ao FC Porto, passando obviamente pelo Vitória, que recordações boas e menos boas ficaram?

Lembro-me de quando jogava no FC Porto [sub-13], já havia muita competitividade. Desde a formação que se incutia esses valores, que é ganhar, ganhar, ganhar. Mas não posso negar que as melhores recordações foram de aqui, em Penafiel. Foi aqui que me formei, apanhei grandes homens ao leme das equipas em que eu estava a jogar e que me ajudaram a formar como jogador. Depois tenho a sorte de ter uma boa base familiar, os meus pais, a minha família que sempre me acompanharam e sempre me passaram as melhores mensagens para que a minha formação fosse recheada de bons momentos. Eu sou capaz de ter tido maus momentos, porque toda a gente tem na formação, mas eu acho que esses momentos fizeram -me crescer e ser a pessoa que sou hoje.

- Olhando para trás, para o teu percurso em Guimarães, uma vez que passaste lá seis temporadas - a maior da tua carreira - porque é que achas que nunca te afirmaste na equipa principal?

Acho que não era o timing para me afirmar. Havia bastante gente para a minha posição. Na altura, o míster [Pepa] optou por outros jogadores. Agora, olhando para trás, acredito muito no destino e acredito que o que tinha que acontecer, era para ter acontecido.

- Ficaste magoado por não terem continuado a apostar em ti?

Do Pepa só tenho a dizer coisas boas, porque foi alguém que apostou em mim e a quem eu agradeço do fundo do meu coração foi o Pepa, porque me deu a oportunidade de me estrar pela equipa principal do Vitória. Não tivemos essa conversa, mas eu não sou burrinho nenhum e percebo perfeitamente que, com tantos laterais direitos, [João Ferreira, Sílvio], era o último da lista. Compreendi perfeitamente a decisão, não fiquei com mágoa de ninguém. Aliás, sou um privilegiado de ter trabalhado naquela equipa. Aprendi muito.

- Por falar em equipa principal, a tua estreia com a camisola do Vitória deve ter sido muito especial, mais ainda com a marcação de um golo na Taça da Liga, ao Leixões…

Só tenho mágoa de não ter tido adeptos na bancada, porque era na altura da Covid-19. Entrar e fazer golo na minha estreia foi um sonho tornado realidade. Quem me conhece sabe que tenho uma grande estima pelo Vitória, mesmo agora estando de fora estou sempre a apoiar. E espero que um dia a paixão daqueles adeptos torne o clube campeão.

- Partilhaste balneário com o João Félix e o Vitinha no FC Porto; Ricardo Quaresma e André André no Vitória e ainda com Moreno, também em Guimarães. Que conhecimentos te deixaram estes jogadores e de que forma influenciaram a tua forma de ver o futebol?

Quando era júnior e ia treinar a equipa principal, o Moreno ainda era jogador. Quando faço a transição da equipa A para a equipa B, para voltar a jogar, o Moreno era o treinador. Para mim foi um bocadinho difícil, ao início, chamá-lo de mister. O Ricardo Quaresma era o primeiro a chegar e era o último a sair. A palavra que me ocorre para o André André é exemplo.

- Foi difícil fazer a mudança do Vitória para a Oliveirense, na altura?

Não posso negar que foi duro. Seis anos não são seis dias. Ganhei muitas memórias em Guimarães. Tinha feito muitos amigos e de repente ter que sair para uma nova realidade, onde não conhecia ninguém, foi um pouco difícil, principalmente deixar o Vitória. A decisão partiu de mim, queria sair da minha zona de conforto, e não tenho palavras para a malta da Oliveira de Azeméis. Desde o Ricardo Fernandes, o diretor de desportivo ao míster Fábio Pereira. Acho que a Liga 2 é muito curta para ele, pelas ideias e pela forma como encara todos os jogos.

- Duas épocas depois, que análise fazes à Liga 2?

A Liga 2 é muito competitiva. Costumo dizer que, por vezes, é mais fácil jogar na Liga do que na Liga 2, em que o último pode ganhar ao primeiro classificado, além de ter uma coisa muito importante: o valor português.

- O Penafiel tem a manutenção assegurada, mas era esse o objetivo principal da temporada ou passava por voos mais altos?

O projeto para esta temporada passava pela manutenção e cumprimos esse objetivo a três jornadas do fim. Acabámos melhor do que começámos. Ao início foi difícil encaixar as ideias, mas a partir do momento que encaixámos as ideias do Mister ficou difícil para os adversários ganharem ao Penafiel. E isso é mérito do míster. Dentro de dois ou três anos acredito que o clube possa estar na Liga.

- Quem é o teu lateral-direito de referência?

Gosto muito da forma como o João Cancelo, do Barcelona, ataca, acho que é um dos melhores a fazê-lo. E depois o Kyle Walker, do Manchester City, é uma referência.

- O que esperas que aconteça daqui para a frente na tua carreira?

«Ganhar o Euromilhões… Estou a brincar. Chegar a casa e ver os meus pais sentados à mesa para almoçarem ou jantarem comigo. Isso é o melhor da vida. Profissionalmente, espero estar num escalão superior porque tenho as minhas ambições. Não vou mentir, e estas passam por jogar na Liga. Se pudesse regressar a Guimarães seria a cereja no topo do bolo. Tenho qualidade para isso. Preciso melhorar algumas coisas no meu jogo. Com 25 anos estou a atingir a maturidade que me faltava noutros anos. Por vezes, sentia muita pressão na altura das decisões, por exemplo, nos cruzamentos. Agora sinto que estou muito melhor nesse aspeto.

- Sentiste que a transferência do Vitória para a Oliveirense foi um retrocesso na tua carreira?

Há jovens que podem encarar como tal. Devemos sempre encarar como um passo em frente. Eu consegui perceber naquela altura o que era melhor para mim, naquela altura. Era o passo que eu tinha que dar naquela altura. Quando um jovem atleta começa a ser falado, esquece um bocadinho de onde vem. O mais importante é nunca esquecermo-nos de onde vimos e quem esteve sempre connosco. É a família que vai dar uma palavra de tranquilidade. Nas vitórias todos aparecem, mas quando as coisas não correm bem, são poucos os que aparecem. Mas há uns que estão lá sempre, que é a família.

- Que influências tiveram os teus pais na ajuda da tua formação?

Quem está por fora do futebol não tem noção do dinheiro que se gasta quando se tem um filho na formação. Se tivermos uma boa base é meio caminho andado para termos sucesso. Um pouco de sorte também, é verdade, mas a sorte também dá muito trabalho.

- Sorte também é estar no sítio certo com as pessoas certas?

Já vi centenas de jogadores, com mais qualidade do que eu, a não chegarem lá em cima por falta de sorte. É importante manter o profissionalismo e a mentalidade certa, além de estar rodeado dos agentes certos. Nisso também tenho tido sorte, porque sempre foram diretos comigo. Aquela conversa que vai enrolando de um ano para o outro serve apenas para atrasar a carreira. Quando há uma relação de confiança entre agente e jogador, acho que tem tudo para dar certo.