ENTREVISTA A BOLA Marco Silva: «Gostava de voltar a disputar competições europeias»
Falar com Marco Silva sempre foi fácil, o treinador do Fulham é de natureza cordata, e sabe o que diz. Difícil é que ele esteja disposto a falar, por isso é que a entrevista que se segue é, segundo o próprio, apenas a segunda, de fundo, que concedeu em mais de 13 anos de carreira.
Aos 47 anos, com 13 anos e meio de carreira de treinador, cumpre contra o Crystal Palace o jogo 500 no banco de responsáveis. Era com isto que sonhava quando iniciou o seu percurso à frente do Estoril, na II Liga, com uma derrota por 3-1 em Penafiel, a 2 de Outubro de 2011
Na questão que me coloca estão algumas coisas que foram muito importantes na minha carreira. O primeiro jogo, em Penafiel, marcante, que terminou com uma derrota, numa tarde em que sofremos três expulsões, não foi, de todo, de boa memória. E quando levanto a cabeça, percebo que o próximo jogo será o jogo número 500...
Esse percurso não começou bem, em Penafiel, mas a época terminou com o Marco Silva a levar o Estoril à I Divisão...
O primeiro passo não foi o melhor, mas depois seguiu-se uma temporada memorável, não só para o clube, mas para mim também. Quanto ao jogo 500, contra o Crystal Palace, obviamente que nessa altura era impossível prever fosse o que fosse. Quando se começa uma carreira, o que pretendemos claramente é evoluir, dar os passos certos, e fazer com que as nossas equipas ganhem jogos. Se nessa altura me perguntassem se admitia estar dez anos fora de Portugal, oito dos quais na Premier League,diria que seria muito difícil. Primeiro porque era muito complicado treinar em Inglaterra naquela altura, e felizmente o José Mourinho abriu portas por onde entrou, a seguir, o André Villas-Boas. Perceber que já levo oito anos na Premier League,com uma equipa técnica que tem sofrido algumas alterações, é reconhecer que atingi um objetivo que se calhar, quando comecei, não estava no meu horizonte. Mas também devo dizer que aproveitei as temporadas em Portugal para cada vez me preparar mais e melhor.
Onde é que se vê daqui a 13 anos, quando tiver chegado aos 60, que é uma idade em que o treinador simultaneamente é jovem para a função, mas também já muito experiente?
Não consigo dizer. Quero estar ao mais alto nível, é óbvio, e tudo farei para que isso aconteça.
E o que é, para si, estar ao mais alto nível?
É continuar nas melhores ligas, a disputar semanalmente os jogos contra treinadores de alto gabarito, contra equipas que constituem desafios todos os fins de semana, e é isso que eu sinto na Premier League. Os jogos são sempre um desafio e têm de ser preparados ao pormenor. É verdade que já o fazia quando estava no Estoril, mas o desafio agora é maior, mais aliciante, porque há sempre uma estratégia do outro lado, há sempre pessoas muito capazes, e treinadores de ‘top’.
De que sente mais falta?
Sinto que está para breve consegui-lo, mas gostava de voltar a disputar competições europeias. Não o tenho feito por opção de carreira, porque já recebi vários convites de clubes que jogam na UEFA, mas a verdade é que, à terceira época de treinador no Estoril já estávamos na Europa League, e depois, quer no Sporting, quer noOlympiakos, joguei a Champions League.Confesso que sinto falta disso, porque se trata de algo que preenche um treinador.
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O treino e o sono
O treino para si já é um vício, porque fala como alguém que não tem nenhuma dúvida de que daqui a 13 anos vai continuar a exercer a profissão?
É apaixonante, quando vou para o treino, vou entusiasmado, tenho um plano para aquele dia, existe um plano para a semana, e o objetivo é sempre melhorar a equipa, e ao mesmo tempo melhorar os jogadores. E é importante analisarmos o que foi o nosso trabalho e sermos críticos connosco, para, a partir daí, prepararmos ainda melhor os jogos que se seguem. Mas sim, trata-se de um vício que cumpro com grande paixão.
Dorme bem nas vésperas dos jogos?
Na véspera durmo muito bem, depois do jogo nem tanto, muito pela adrenalina. Mas, sinceramente, até posso dizer que o dia anterior ao jogo é aquele dia em que durmo mais horas. É verdade que normalmente não tenho problemas com o sono, mas o dia anterior ao jogo é aquele em que descanso mais.
Em que momento é que decidiu abraçar a carreira de treinador? Quando é que esse clique se fez na sua cabeça?
A partir dos 26, 27 anos, comecei a tentar perceber o porquê de muitas questões tentando entender o outro lado, não só o nosso, enquanto jogadores, numa altura em que somos um pouco egoístas, e damos mais importância ao individual do que ao coletivo. Aos 28 anos, já tinha tirado o segundo nível de treinador, comecei a interessar-me cada vez mais, e só não fui mais longe porque era impossível, como jogador, ter acesso ao nível 3, muito menos ao UEFA PRO. Recordo boas conversas que tive com os treinadores, e a partir dessa altura percebi que devia estar preparado caso surgisse a oportunidade de enveredar por uma carreira diferente.
Como é que mudou o futebol desde que se iniciou como jogador na formação de Cova da Piedade, em 1992, até aos dias de hoje?
É tudo tão diferente que é quase impossível comparar. É verdade que o jogo continua a ser de 11 contra 11 com uma bola no meio, mas basta recuar dez anos e já vejo uma diferença enorme. A velocidade a que se joga, e a que tem de se pensar, aumentou exponencialmente, e acredito que a capacidade de definição, hojeem dia,atinge patamares que são decisivos num jogo de futebol. Quem define melhor, e consegue fazê-lo com rapidez, tem uma influência muito grande no jogo. Esses são os melhores jogadores, e naturalmente os que formam as melhores equipas.
A intensidade mudou muito?
Mudou. Taticamente o jogo está muito mais difícil, porque cada vez há uma avaliação muito mais aprofundada das equipas, a que acrescem a velocidade e a intensidade a que se joga, que acabam por fazer a diferença. Hoje não há segredos para ninguém, os adversários são analisados ao mais ínfimo pormenor, e depois são detalhes, que passam pela intensidade, velocidade e capacidade de definição, que são decisivos num jogo de futebol.
Premier e Elton John
O Marco é o segundo treinador português com mais dias naPremierLeague, com 2.306, à frente do Nuno Espírito Santo, que tem 2.049, e atrás do José Mourinho, que tem 3.583. É naPremier League que se sente bem?
Sem dúvida. Não vou dizer que foi um risco, porque se tratou de uma decisão pensada, passar de duas épocas sucessivas na Champions, com o Sporting e oOlympiakos,e ingressar no HullCity,que atravessava um momento difícil, mas que me abriu as portas daPremierLeague. Estávamos em janeiro, conhecia os problemas inerentes à decisão, mas sempre confiei em mim como treinador. A verdade é que, depois disso, recebi convites para abandonar Inglaterra, projetos que passavam pelas competições europeias e por lutar por outro tipo de objetivos, e a minha decisão foi sempre manter-me naPremierLeague. Que é onde me sinto bem, onde me sinto desafiado e onde quero estar, e quem sabe, atingir até outros patamares.
Depois do HullCitytreinou o Watford,que tem em Elton John, que chegou a presidir ao clube, o adepto mais famoso. Chegou a conhecê-lo?
Sim, estivemos juntos duas ou três vezes. Cada vez que Elton John ia assistir aos jogos, era um acontecimento para quem ia ao estádio. Trata-se de alguém que é muito acarinhado no clube, e que fazia questão, no final de cada partida, de ir ao balneário, conviver um pouco com os jogadores e comigo e com a restante equipa técnica também.
Há pouco tempo, no espaço praticamente de uma semana, derrotou Nuno Espírito Santo, Vítor Pereira e Ruben Amorim. Defrontar técnicos portugueses é diferente apenas antes e depois dos jogos, e é igual a todos os outros durante os 90 minutos?
Acaba por ser isso mesmo. É muito agradável o período antes do apito inicial. Estamos juntos, vemos pessoas que por vezes já não encontrávamos há muito tempo, conversamos, partilhamos sentimentos e experiências, e invariavelmente estamos de acordo quanto às particularidades daPremierLeague, onde o desafio é constante. E mesmo depois do jogo, em que há sempre um que está mais satisfeito que o outro, o carinho continua a ser grande. Durante o jogo, relativamente a outros adversários, apenas varia termos uma cara conhecida do outro lado, e percebermos algumas das expressões que são ditas em português, porque os bancos estão muito próximos. No mais, é tudo igual, cada um quer ganhar e jogar ao mais alto nível.
José Mourinho
José Mourinho abriu as portas aos portugueses naPremierLeague. Depois dele, outros seis treinadores nacionais trabalharam na prova. Como é que o técnico luso é visto em Inglaterra?
Sem dúvida que somos bem vistos. E todos concordamos que a influência do José Mourinho foi transcendente. Depois de ter ganho o que ganhou em Portugal, chegar a Inglaterra, ter aquela entrada triunfante e colocar o Chelsea a jogar e a vencer títulos 50 anos depois, acabou por ser fundamental para a chegada de outros treinadores portugueses. Seguiu-se o André Villas-Boas, que tinha vencido a Liga Europa, e eu fui o terceiro a chegar. Mas foi o José Mourinho quem nos abriu as portas...
Falou com ele na altura em queingressouno HullCity?
Sim, falei. Na altura falei, mas já tinha conversado com ele antes, aquando da minha primeira aventura no estrangeiro, noOlympiakos.Pouco tempo depois de ter chegado ao HullCitytive dois confrontos com o Manchester United, fomos eliminados na Carabao Cup e empatámos a zero emOld Trafford.
Depois dos Big Five, oChampionshipé o sexto campeonato com maior número de espetadores da Europa...
O interesse é muito grande, há clubes fortes e poderosos noChampionship,e mesmo na LigueOne,- estamos a falar da segunda e terceira divisões de Inglaterra, - e os jogos passam numa sexta-feira à noite, num sábado ao meio-dia, ou num domingo às quatro da tarde, e têm um acompanhamento muito grande, porque, como eu disse há pouco, são clubes de grande dimensão. O adepto acompanha o Real Madrid, o Barcelona, oBayernou oInter,mas está muito mais virado para aquilo que é o futebol inglês.
O que é a Premier League?
O Marco Silva tem muitos anos de Inglaterra e a pergunta que faço é o que é que a Premier League tem que as outras não têm?
A intensidade, sem dúvida, a velocidade a que se joga, e a cultura do futebol inglês e dos adeptos ingleses.
Isso faz muita diferença? Nós vemos naPremierLeague os jogadores serem assobiados pelos próprios adeptos se estão a fazer ‘ronha’...
Sim, faz muita diferença. Em Inglaterra é preciso jogar para a frente, tem de se jogar para ganhar, para marcar golos, e por vezes é um bocado uma guerra. Nós, treinadores, não queremos que isso aconteça sistematicamente, porque tem de haver pausas no jogo, e depois temos o adepto, na bancada, a puxar e empurrar o jogador para meter a bola na frente, o que gera um grande contraste, porque o jogo não pode ser feito sempre a correr.
E depois há aquela coisa naPremier League, em que o jogo só acaba quando o árbitro apita para acabar...
Sim, e mesmo que tivéssemos tido um jogo tranquilo, a ganhar por 2-0 e há um golo que faz 2-1, muda tudo completamente, e pode alterar-se de forma drástica. E é essa a beleza do futebol inglês: mesmo um último classificado, que esteja a ter uma época muito difícil, joga contra qualquer equipa, e vai tentar algo, sabe que tem uma hipótese de vencer e vai agarrar-se a ela. Mesmo sem, às vezes, terem essa capacidade, não têm receio de jogar olhos nos olhos. Depois, a verdade é que a PremierLeague reúne alguns dos melhores jogadores e treinadores do Mundo.
Além do talento, de que é que um jogador precisa para se afirmar naPremier League?
Capacidade de jogar um jogo que é muito intenso, rápido, e agressivo no bom sentido. E isso só se consegue se houver uma capacidade de trabalho enorme diariamente, porque o jogo é jogado daquela forma que todos têm vêm na televisão ou no estádio, porque o treino também é realizado daquela forma. Quando se quer jogar com aquela intensidade temquese treinar também com níveis de velocidade e intensidade muito altos, e é por isso é que para ter sucesso o jogador temquepossuir todas estas características próprias do futebol inglês.
A aventura do Fulham
Quantos potenciais titulares é que tem noFulham?E estou a falar daquele lote de onde vão sair os onze que entram em campo...
Em qualquer equipa, por muito que um treinador diga que qualquer um pode jogar, e que são todos iguais, naturalmente há uma base que nós tentamos não mudar muito, definida até pelas posições em que atuam. Se pudermos manter uma rotina, - na minha opinião, imagine-se, uma linha defensiva de quatro, sendo que os dois do meio são nucleares, assim como quem joga à frente deles, o «seis», e o guarda-redes, - temos a espinha dorsal da equipa, a que se associa um avançado. Acredito que um triângulo a meio-campo, se tiver rotinas de jogo da forma como eu o penso, funciona melhor se forem muitas vezes os mesmos. Neste momento, no plantel doFulham,temos 17 ou 18 jogadores com capacidade de entrar na equipa, embora haja jogadores que são mais importantes que outros. Veja, temos dois avançados que este ano estamos a rodar muito, o Raúl Jiménez, que é bem conhecido no futebol português, e o Rodrigo Muniz, um jovem ponta-de-lança que fomos buscar ao Brasil com 19 anos na minha primeira época doFulham,e que finalmente nos últimos dois anos tem vindo a afirmar-se. E nós temos rodado muito os dois, o que é sinal de que há qualidade em ambos.
Sentiu muito a saída doMitrovic?
Sim. Quando cheguei ao clube oMitrovicestava num momento difícil e passou a atingir níveis que muita gente achava que era impossível alcançar. Bateu o recorde de golos numa temporada, na primeira no Championship,numa época tremenda doFulhamem que marcámos mais de 100 golos. Depois, conseguiu afirmar-se na época seguinte naPremierLeague, algo que nunca tinha conseguido noFulham,fez mais de 12, 13 golos, teve um período de lesão, outro de um castigo muito grande depois de um jogo da Taça da Inglaterra. Consegui retirar dele coisas que ele próprio reconheceu que não sabia que tinha. Quando perdemos um jogador deste calibre, naturalmente sentimos, mas tivemos a coragem de, dentro daquilo que é a capacidade financeira do clube, contrataro RaúlJiménez, para se juntar ao Rodrigo Muniz.
Tinha a certezaqueo Jiménez estava bom, apesar da gravíssima lesão que teve?
Havia algumas dúvidas, nós ainda tínhamos oMitrovic,tínhamos o Rodrigo Muniz, e eu queria um avançado um bocadinho diferente, e havia a possibilidade do Raúl, que não estava feliz na altura, com os poucos minutos noWolverhampton,onde é um jogador superadorado. Após o trágico incidente que teve, estava há muitos, muitos meses sem fazer um golo naPremierLeague, e houve uma oportunidade de contratá-lo a um preço, que tenhoquedizer, bem baixo para aquilo que é a realidade: contratarmos um avançado da PremierLeague por 4 milhões de libras não foi nada, foi um investimento baixo para nós. Tive uma conversa com o Raúl muito clara, disse-lhe o que pretendia dele, o que é que nós queríamos: tínhamos oMitrovic, tínhamos o Rodrigo, e acreditava que ele nos poderia ajudar bastante, e que nós o poderíamos ajudar a atingir um nível alto, e acima de tudo a ser feliz novamente dentro dos relvados e a poder fazer golos. Foi por isto que o contratámos, não para substituir oMitrovic.
E de repenteMitrovicfoi reforçar o Al-Hilal de Jorge Jesus...
É verdade, e poderíamos ter investido novamente num avançado, é certo que tentámos alguns, mas acabou por não acontecer e eu tomei a decisão de dar confiança aos dois que tinha, e ainda acabámos por ir buscar o Carlos Vinícius.
Porque continuava a não havercertezas absolutas quantoa Jiménez...
Depois daquele trágico acidente muitas dúvidas se levantaram, foi um dia muito triste para o futebol inglês. Eu tinha tido um dia muito parecido, como treinador do HullCity, foiprovavelmente o dia mais triste da minha carreira de treinador, quando oRyan Mason,um jovem supertalentoso que tinha vindo do Tottenham, teve um incidente num jogo com o Chelsea, e fraturou ainda mais ossos do que o Raúl. Foi uma situação claramente mais grave porque não pôde jogar mais futebol. Depois, ver, passados alguns anos, acontecer com o Raúl algo parecido, para mim foi muito difícil, e estou muito satisfeito, por vê-lo em pleno, a marcar golos noFulhame no México.
Excesso de jogos?
Faz sentido este debate a que temos assistido sobre o excesso de jogos em cada época?
Acho sinceramente que faz, e nos últimos anos não tenho participado em competições europeias, e não tenho sentido tanto esse problema. Não tenho os números todos na minha cabeça, mas parece-me que em termos de lesões este tem sido o pior dos últimos anos, tanto mais que houve alterações nos quadros competitivos da UEFA. Em Inglaterra sempre há uma pausa no mês de janeiro, após um dezembro, que é de loucos, mas que nos dá um prazer enorme.
Gosta doBoxing Day?
Aquele mês de dezembro é impressionante, porque percebemos que as famílias e que os adeptos estão felizes, e isso preenche-nosenquantoprofissionais de futebol. Honestamente, eu estou adaptado, a minha família está adaptada a isso também, e gostamos muito daquele momento. Não deixa de ser difícil, porque chegamos a fazer dez jogos em dezembro, e acredito que o futuro passará possivelmente por plantéis mais longos. Nós, treinadores, não gostamos, preferimos ter plantéis mais curtos, competitivos, para não haver tanta insatisfação entre os jogadores.
Mas como a tendência é para o aumento de substituições em cada jogo, logicamente isso irá requerer plantéis mais longos.
Vamos ver, penso que cinco é um número já aceitável, sinceramente custa-me aceitar que comecemos o jogo com onze e terminemos esse mesmo jogo com outros onze.
O clube de maior dimensão que treinou em Inglaterra foi o Everton?
Sem dúvida.
Esteve lá 553 dias e o seu sucessor, um senhor chamado Carlo Ancelotti, esteve 535. É um clube particularmente difícil?
É um clube apaixonante, é um desafio gigante estar à frente do Everton. Eu percebo que em Portugal não se entenda muito bem a dimensão que estou a dar ao clube, mas quem está em Inglaterra, quem trabalha em Inglaterra, e quem é conhecedor profundo do futebol inglês, percebe o que eu estou a dizer. Antes desta avalanche do ManchesterCity,o Everton era o 5.º ou 6.º clube com mais títulos de campeão e títulos em Inglaterra, mas nos últimos anos tem-se invertido esta situação. Todavia, o Everton tem um historial tremendo, mas neste momento, devido aos acontecimentos mais recentes, aponta a objetivos diferentes. Quando lá estive, e a seguir com Ancelotti, o clube queria ficar sempre nos oito primeiros. Mas havia uma divergência entre a alma dos adeptos e aquilo que era realmente possível realizar, criando-se a ideia de que a derrota era sentida de uma forma fatídica. Na minha primeira época, e estive mais de 500 dias ao serviço do clube, houve uma transição, e contratei jogadores abaixo dos 25 anos, e o que é certo é que conseguimos mudar a forma de jogar, acabámos no oitavo lugar, lutámos até ao fim pelo apuramento para as competições europeias, e havia identificação dos adeptos para com a equipa. Nos anos seguintes o clube não voltou a repetir essa classificação, nem mesmo com Ancelotti, que dispensa apresentações.
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Futebol moderno
O futebol de hoje, simplificando é este que vou resumir: pressão alta, pouco espaço entre linhas e ataque rápido.
Esse é um bom resumo do que se passa. Há várias formas de se querer ganhar um jogo de futebol, e eu respeito e acredito em muitas. Tenho a minha identidade, é aquela que persigo, é aquela que faz com que os jogadores acreditem, mas reconheço que há várias formas de lá chegar e reconheço o mérito a todas elas. É óbvio que, devido à circunstância de muitas equipas quereremconstruir, hojeem dia, a partir de trás, uma das formas de contrariar ou tirar algumas vantagens é a pressão alta. Acho que é lógico. Quanto mais as equipas querem construir, a partir de trás, usando o guarda-redes, uma das formas de contrariar e, ao mesmo tempo, tirar vantagem, é uma pressão alta. Daí haver tantas equipas a fazê-lo. E depois as restantes coisas vêm por consequência. Se queremos pressionar alto, tem de haver pouco espaço entre os setores. E depois, quando se ultrapassa essa pressão, se pudermos atacar rápido a equipa adversária, porque há muito espaço nas costas, vamos fazê-lo naturalmente. E se recuperarmos a bola alto, também, porque estamos perto da baliza adversária, tentamos fazer uma transição ofensiva rápida. Acho que são coisas que são inerentes umas às outras. Mas cada vez vê-se mais, no momento defensivo da maioria das equipas, algo que é característico do futebol italiano, que é muita marcação individual. A Atalanta tem sido um bom exemplo e em Inglaterra cada vez se vê mais.
Diego Armando Maradona
Qual foi o melhor jogador que já viu?
Vi pouco do Eusébio. O meu pai era um grande, grande fã do Eusébio, mas eu vi pouco. Mas para todos nós, portugueses, por tudo que o Cristiano Ronaldo tem feito, merece uma referência. Eu cresci e comecei a amar o futebol vendo o Maradona jogar. Depois veio o tempo do Messi e do Ronaldo, e os dois foram dois monstros, dominaram os últimos 15 anos do futebolinternacional,deram-nos muito, a competição entre ambos foi tremenda, e temos de estar muito orgulhosos pelos patamares que o Cristiano atingiu. Mas eu cresci a ver o Maradona jogar, e o Maradona fez-me ser um apaixonado do futebol.
Há algum treinador que lhe tenha servido de modelo?
Eu não tenho apenas um treinador que me tenha servido de modelo, aprendi com muitos e acredito que os meus jogadores vão tirar alguma coisa de mim. Primeiro Carlos Queiroz, e depois José Mourinho, abriram outros horizontes para aquilo que era o processo de treino. Depois o Guardiola, contra quem já joguei tantas vezes, também teve um impacto tremendo quando apareceu aquele Barcelona dele. Por isso, não posso identificar apenas um...