«Já estou em Portugal, mas o meu coração está com os israelitas»
Miguel Nunes/ASF

Entrevista «Já estou em Portugal, mas o meu coração está com os israelitas»

INTERNACIONAL09.10.202321:21

Hélder Lopes acordou com as sirenes de alerta para o ataque do Hamas. A viver os melhores anos da carreira em Beer Sheva, espera garantias de segurança para voltar.

Foi a persistência da sirene que alertou Hélder Lopes, jogador português do Hapoel Beer Sheva, para a gravidade do ataque a Israel. 

«Tocou pela primeira vez por volta das 6 da manhã de sábado. Eu estava ainda a dormir, mas ia ter treino de manhã. Quando toca a sirene temos um minuto e meio, aproximadamente, para recolher ao bunker. Em três anos só tinha ouvido a sirene umas duas vezes, se tanto, e calava-se logo. Era mais por prevenção. Desta vez foi diferente, tocou toda a manhã, e percebi que a situação era mais grave. Os israelitas dizem que foi o ataque mais grave dos últimos anos», explica, em conversa com A Bola

Hélder Lopes começou a ouvir rebentamentos e, ao espreitar pela janela, sempre que a sirene dava descanso, conseguia ver fumo. Entre o grupo de whatsapp dos jogadores começou a ser debatida a gravidade da situação. «Sabia que podia acontecer, mas nada assim. É relativamente frequente o envio de rockets, mas Israel costuma controlar isso. Desta vez é mais grave, com a invasão do Hamas», resume o jogador, de 34 anos. 

Beer Sheva fica a 30 quilómetros da faixa de Gaza e Hélder Lopes, que estava sozinho em casa, procurou logo tranquilizar a família, à qual se juntou entretanto, em Portugal. «Teria sido pior se tivesse a família comigo. Não saberia o que fazer. Avisei logo a minha mulher e mantivemos contacto. Eu não estava muito receoso, pois em 3 anos foi sempre muito tranquilo. Mantive sempre a calma, mesmo com o ruído das explosões e o fumo no ar», recorda. 

O lateral português elogia a reação do Hapoel Beer Sheva, que começou logo a tratar das viagens para que os estrangeiros pudessem deixar Israel. A cumprir a terceira época na equipa, capitaneada por Miguel Vítor, Hélder Lopes prontificou-se a ajudar alguns colegas, nomeadamente aqueles que só esta época foram contratados, e/ou aqueles que tinham de sair com outros familiares. 

«A nossa maior preocupação era o caminho até ao aeroporto. Não sabíamos como seria, como estava o policiamento. Era o nosso maior medo», reconhece. Hélder Lopes viajou para Istambul, ainda na noite de sábado, e teve ainda de passar por Amesterdão para chegar ao Porto. 

Agora em casa, junto da família, acompanha a situação em Israel com preocupação. «Até ao momento estava supercontente, a viver os melhores anos da carreira. Fui muito bem acolhido no clube e na cidade. Nunca pensei que chegasse a este ponto», lamenta o jogador português, recrutado ao AEK de Atenas em 2021, e com passagens também por Las Palmas, Paços de Ferreira, Beira-Mar, Tondela, Espinho, Oliveira do Douro e Mirandela. 

O jogador luso diz que «é tudo uma incerteza, nesta altura», mas espera por informações do clube, com uma convicção: «É um país que me deu muito, mas para voltar tenho de me sentir seguro.» «Espero que volte tudo à normalidade. Agora já estou em Portugal, mas o meu coração está com os israelitas», conclui.

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