25 setembro 2023, 14:01
Pauleta: «Gonçalo Ramos trabalha muito e vai continuar a marcar»
Antigo internacional português e ex-jogador dos parisienses assistiu ao jogo com o Marselha
Os números do jovem avançado português do PSG não mentem: sem as estrelas ao seu lado, marca muitos mais golos, como aconteceu agora ao estrear-se com um bis no PSG, após saída de… Mbappé; como aconteceu na Seleção e, também, no Benfica, onde tudo começou
Viver na sombra de alguém é algo difícil, tantas vezes incómodo ou, até, insuportável. É uma espécie de prisão onde não entra (nem sai) luz e que não permite que se solte em toda a sua capacidade o brilho, o valor ou o talento de quem ali se encontra, naquele lugar mais escuro. É de tal modo limitado o espaço que, quase sem exceção, quando acontece um momento de liberdade, faz-se luz e, num ápice, eis o prisioneiro num voo imenso e intenso, de asas ao vento, em todo o seu esplendor.
Aplicando este pensamento ao futebol, não será complicado de entender a difícil missão de atuar lado a lado com superestrelas como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Kylian Mbappé ou Erling Haaland. São os maiores dos maiores dos seus tempos, com competências únicas, talentos estratosféricos. E, sendo verdade que a maioria preferirá tê-los mais do seu lado do que como oponentes e que muitos se transcendem por tê-los como companheiros, não é menos rigoroso que há aqueles que, factualmente, se apagam em parte quando têm de conviver no mesmo espaço que os mais brilhantes dos craques.
Gonçalo Ramos parece incluir-se nesse grupo, dos que se transcendem quando saem da sombra, dos que se apagam um pouco mais quando têm de jogar, como no caso dele, ao lado de figurões como Darwin Nuñez, com quem partilhou o balneário do Benfica por duas épocas (2019 a 2021), ou como Cristiano Ronaldo na Seleção Nacional ou ainda como, agora, o francês Mbappé, estrela maior do PSG.
É, aliás, o exemplo mais recente de como a libertação das amarras leva Gonçalo Ramos ao céu que nos traz a esta análise. Com efeito, no clássico do último domingo entre o PSG e o Marselha, referente à 6.ª jornada da Ligue 1 francesa, Mbappé lesionou-se ao minuto 32 e para o seu lugar entrou o jogador português que, sem perder tempo, se estreou a marcar com a camisola dos parisienses e logo a dobrar, com um bis, aos 47’ e 89’, que fechou o resultado final em 4-0. Sem Mbappé em campo, eis os holofotes a incidirem, enfim, sobre ele – e isto depois de quatro jogos e 129 minutos de partilha no mesmo onze e cujo resultado foram… zero golos para o português.
Poderia, porém, este ser um caso isolado. Não é, contudo, essa a leitura que se faz, pelo menos à luz dos dados estatísticos averbados por Gonçalo Ramos ao longo da sua ainda curta, mas já tão rica, carreira profissional, iniciada no Benfica em 2019 de forma absolutamente brilhante: na estreia pela equipa principal, a 21 de julho de 2020, na Vila das Aves frente ao Desportivo local, o avançado foi lançado pelo treinador Nelson Veríssimo a cinco minutos do fim do jogo da 33.ª jornada da Liga e… marcou dois golos. Tinha somente 19 anos e, nesse final de época, ainda iria ajudar os juniores Benfica a chegar à final da UEFA Youth League, que perderiam para o Real Madrid (0-1).
Mas voltando aos números de carreira do jovem atacante, hoje com 22 anos, o que neles se lê é o amor que ele sente pela liberdade. Embora tendo admitido por diversas vezes a importância e influência de, por exemplo, Darwin Nuñez e Cristiano Ronaldo no seu crescimento, a verdade é que Gonçalo Ramos solta o seu talento quando… está sem eles em campo. Tal como aconteceu, agora, com Mbappé…
Comecemos por Darwin, agora a brilhar no Liverpool, e pelo tempo em que os atacantes uruguaio e português conviveram no balneário do Benfica. Contas feitas, sempre que jogaram juntos – e isso aconteceu em 26 jogos, num total de 1438 minutos – Gonçalo Ramos acertou nas redes adversárias quatro vezes; quando se viu sozinho no ataque (ou com outro companheiro que não Darwin), chegou aos 37 golos! Mais: com Darwin ao lado, precisava de 359 minutos para marcar um golo; livre da sombra do uruguaio, baixou a média para um tiro certeiro a cada 131’.
E, na Seleção Nacional, se incluirmos nesta análise, o gigante Cristiano Ronaldo, chegamos a conclusão semelhante. O convívio no mesmo onze é residual, porque com CR7 minimamente bem a titularidade é da estrela do Al Nassr, mas, ainda assim, estiveram juntos uma vez, no Portugal-Marrocos (0-1) dos quartos de final do Mundial-2022 e somente por alguns minutos.
No restante é o que se sabe: quando Fernando Santos pôs CR7 no banco e lançou Gonçalo Ramos a titular nos oitavos de final daquela competição no Catar diante da Suíça, o jovem avançado fez… três golos! E, mais recentemente, já com Roberto Martínez no comando de Portugal, Ronaldo falhou o jogo no Algarve com o Luxemburgo devido a castigo, Ramos foi titular e, aos 34 minutos, já tinha acertado por duas vezes nas redes adversárias, protagonizando um bis na histórica vitória por 9-0.
No total, sem o capitão da Seleção por perto, Ramos soma 6 golos em 7 internacionalizações, com média de um remate certeiro a cada 34 minutos! E, fechando as contas, com Mbappé, sabe-se agora, o português marca a cada 29’. Soberbo!
25 setembro 2023, 14:01
Antigo internacional português e ex-jogador dos parisienses assistiu ao jogo com o Marselha
É, assim, como facilmente se concluiu, longe da sombra das estrelas maiores do futebol mundial que se assiste à explosão de Gonçalo Ramos, ele próprio um astro em ascensão cujas exibições cada vez mais consistentes prometem. Pauleta, goleador histórico do PSG, vaticina-lhe um futuro brilhante: «O Gonçalo Ramos trabalha muito, é goleador e vai continuar a marcar. Está feliz aqui e vai sê-lo ainda mais.»
OS NÚMEROS DE GONÇALO RAMOS
Equipa | Jogos | Min. | Golos | Média* | |
Com Darwin | Benfica | 26 | 1438' | 4 | 359' |
Sem Darwin | 80 | 4876' | 37 | 131' | |
Com Ronaldo | Seleção | 1 | 69' | 0 | -- |
Sem Ronaldo | 7 | 207' | 6 | 34' | |
Com Mbappé | PSG | 4 | 129' | 0 | -- |
Sem Mbappé | 1 | 58' | 2 | 29' |
*minutos de que necessita para marcar cada golo