Futebol é um jogo de conceitos
João Mário, do Benfica, disputa a bola com João Nunes, do Casa Pia. Foto: Filipe Amorim/LUSA.

O MISTER DE A BOLA Futebol é um jogo de conceitos

NACIONAL29.10.202312:35

Jorge Castelo escreve sobre o Benfica-Casa Pia

1. Extrapolações. Existe a tendência de se extrapolar, analisando-se os acontecimentos do futuro de determinada realidade, através de fórmulas simplistas. Depois de uma época desportiva de elevado valor (interna e externamente), o S.L. Benfica ao contratar jogadores considerados de nível (futebolístico e económico), bem como, apostar numa maior profundidade do plantel (número de opções), a presente época iria, para a maioria dos associados, com toda a certeza, ser mais ambiciosa e afirmativa. Entende-se que a criação de expectativas é impossível de travar, excedendo-se, por vezes, os limites do racional. O futebol é um jogo complexo que não se compadece com extrapolações simplistas.

2. Comparações. Na época anterior o S.L. Benfica expressava dois conceitos básicos, altamente preponderantes, na sua forma de jogar. O ataque à bola quando esta era perdida, isto é, forte reação à sua perda, recuperando-a nos segundos imediatos. Tal conceito criava dois impactos essenciais: ter sempre a bola à sua disposição, mas também, diminuir o ímpeto e a desmoralização do adversário, obrigando-o a entrar em crise de raciocínio tático. O outro conceito era a ferocidade da fase de ataque para atingir a baliza adversária. Através destas ações incisivas, criava-se múltiplas situações de finalização, com um elevado número de jogadores dentro da área, tendo mais possibilidades de atingir o golo. O que na atualidade se observa, independentemente de se poder considerar que o plantel do S.L. Benfica estará mais apetrechado que na época anterior, tais conceitos não se observam. Maior número de recuperações de bola no próprio meio-campo, reações individualizadas de reação à perda, circulação de bola utilizando ações redundantes de passe, poucos jogadores nas zonas de finalização e, poucas oportunidades de golo eminente. 

3. Alterações. As alterações frequentes no onze inicial do S.L. Benfica, por si só, não serão a resposta para a reduzida qualidade do seu jogo. Estas poderão ter como base uma racionalidade tendente a uma maior competitividade dentro do plantel, distribuição dos esforços por um maior número de jogadores (exceto alguns). Após vários meses de preparação da equipa, as entropias parecem residir, sejam quais forem as alterações realizadas é, de não haver nem os conceitos de jogo antes aplicados, nem mesmo haver uma forma de jogar identitária do legado da época anterior. Evidentemente que as épocas desportivas nunca são iguais, mas para que o êxito seja constante, importa manter uma linha preferencial de organização da equipa, aproveitando sincronismo antes realizados. O S.L. Benfica tem parecido mais o somatório do jogo de individualidades do que propriamente a sua articulação organizativa. R. Schmidt já referiu estes factos, não sendo novidade. Em especial na 2ª parte, por culpa própria e, por muito mérito do Casa Pia.

4. Conceções. O Casa Pia continua a demonstrar, apesar da perda de alguns jogadores, uma organização defensiva compacta e consistente. Não sendo de admirar que seja uma das equipas que menos golos sofre. Suportada num bloco baixo, por vezes intermédio, mas acima de tudo, com um enorme sentido de luta pela posse de bola, bem como de saídas para contra-ataque ou ataque rápido. Desenhando ações ofensivas a papel milimétrico com especial destaque para Soma e Jajá. Uma equipa com visão ofensiva, suportada numa agressividade defensiva positiva que, somente em algumas situações oferece espaço e tempo às equipas adversárias. Mantém a sua matriz de jogo e tira proveito do trabalho realizado de uma época para a outra. Independentemente dos protagonistas utilizados.