«Eu era o menor dos problemas no Vilaverdense»
O treinador António Barbosa interage em jogo pela Liga 2 de futebol. Foto: D.R.

Entrevista «Eu era o menor dos problemas no Vilaverdense»

NACIONAL18.07.202412:10

António Barbosa treinou o Vilaverdense, que protagonizou passagem turbulenta e mediática pela Liga 2, ficando na retina o lançamento do empresário Courtney Reum como...futebolista

Orientou o Lank Vilaverdense na temporada passada. Acima de tudo valoriza a oportunidade de poder trabalhado numa Liga 2?

Valorizo a oportunidade e a vontade de ajudar pessoas que já conhecia, a possibilidade de regressar à Liga 2 depois da passagem pelo Varzim num clube próximo de casa, com o qual tinha ligação afetiva.

Além das dificuldades desportivas que revelou, o Lank Vilaverdense foi punido com perda de pontos por incumprimento salarial. Isso complicou ainda mais a tarefa?

Sim, e no nosso caso ainda nos condicionou um pouco mais porque ainda houve a questão da não inscrição de jogadores. A questão do incumprimento salarial condiciona o trabalho efetivo, porque termos pessoas com dificuldades de alimentação ou alojamento seguramente que condiciona. Condiciona o treino, as interações com os jogadores e obriga a criar soluções extra campo de futebol para permitir que eles tivessem alguma salvaguarda. Há que realçar as características da equipa e dos jogadores, que eram pessoas de grande sofrimento, dedicação e devoção ao clube.

Foi demitido no decorrer da época – entrou Sérgio Machado - , mas a equipa acabou por não evitar a despromoção. Acha que a equipa técnica era o menor dos problemas e a mudança não teve efeito?

Sinceramente e resumidamente, acho que sim. Aliás, foram essas as palavras que utilizei com a direção quando eles me informaram, porque acreditava que eu era o menor dos problemas. Percebo que é uma medida comum, uma medida fácil e utilizada, mas que naquele momento poderia causar ali alguma alteração face a todas as dificuldades referidas. Já o vivemos várias vezes, nas últimas equipas em que eu e a minha equipa técnica substituímos, ambas estavam a sete pontos da linha de água e éramos a quarta equipa técnica, percebemos que a chicotada psicológica pode ter alguma alteração, no nosso caso não houve qualquer alteração significativa.

O clube foi alvo de muita atenção no mercado de janeiro pela chegada de jogadores de alguma forma inesperados, com destaque para Sherwin Seedorf, sobrinho de Clarence Seedorf, ou Courtney Reum, de 45 anos, que nunca antes havia jogado como profissional. Apesar de já ter decorrido após a sua saída, essa possibilidade foi-lhe referida quando ainda estava ao comando?

O Seedorf já estava connosco há cerca de um mês, mas por razões económicas não o conseguíamos inscrever e essa era uma aposta, era um jogador com características de qualidade para se afirmar pois é muito rápido e realmente distingue-se, jogou competições europeias e, embora não o pareça, não jogava há dois anos pois tinha tido uma rotura de ligamentos. A opinião que tenho dele é que não lidou muito bem com as limitações que vieram de todo o trauma que vem de uma lesão como essa.
Quanto à outra possibilidade (ndr: Courtney Reum), houve uma reunião em que o investidor disse que ia levar o clube para uma dimensão diferente, do ponto de vista da comunicação, mas nada me foi passado e nada foi abordado diretamente comigo.

Encontra-se atualmente livre no mercado. Já existiram convites para a nova época?

Não, não tenho. O que tenho neste momento é um desejo muito grande de procurar capitalizar o que fiz até agora – se com orçamentos de seis milhões, conseguimos quatro de retorno, se das seis equipas em que trabalhámos, em cinco tivemos recorde de vendas, de projeção de jogadores, quatro play-offs de subida, uma subida de divisão e uma equipa que deixámos em primeiro lugar e que acabou por subir de divisão ou as recuperações de sete pontos abaixo da linha de água de que anteriormente falei, há que perceber o caminho e prepararmos o nosso conhecimento para, quando a oportunidade surgir, estarmos prontos.

De Paços de Ferreira a Coimbra com a casa às costas

Uma das particularidades da passagem do Lank Vilaverdense na Liga 2 residiu no facto de ter competido em mais do que uma casa emprestada, começando em Paços de Ferreira para terminar a época em Coimbra, a quase 200 quilómetros, o que António Barbosa lamentou: «Era como jogar quase sempre fora e mais um fator que condicionava muito, a questão do nível competitivo da divisão, da preparação ou da falta dela, por vezes interna, na estruturação da visão do presente e do futuro, das deslocações, das estadias, os salários…um conjunto alargado de situações que permitiram este desfecho final», analisou.

«Promessa passava pela contratação de jogadores de nível alto»

O Vilaverdense não sobreviveu a apenas uma época na Liga 2, tendo sido imediatamente devolvido à Liga 3. Um cenário que, para António Barbosa, começa pela vertente desportiva e a composição do plantel. «O plantel tinha claras limitações, mas a ideia inicial era como eles fizeram – uma equipa que sobe por dois anos consecutivos, que conseguia ir buscar jogadores de Liga e Liga 2 para o Campeonato de Portugal e a Liga 3 e, quando é proposto esse desafio, é precisamente com essa intenção de contratar jogadores desse nível alto, para melhorar um plantel de qualidade média», avaliou, realista.

«Courtney Reum? Devemos proteger a instituição que apostou em nós…»

No final da participação do clube minhoto na Liga 2 saltaram à vista as palavras de desconforto de Sérgio Machado, que sucedeu a António Barbosa no comando técnico, por se ver obrigado a utilizar o mediático Courtney Reum, de 45 anos, e sem qualquer experiência profissional. O que faria Barbosa se estivesse ainda em funções? «O que acho é que, quando estamos a trabalhar, devemos proteger a instituição que apostou em nós e, nesse sentido, o que quer que tivesse sido falado internamente, ficaria internamente», declara o treinador, atualmente sem clube e em busca de novo rumo para a sua carreira.

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