Ética na vida e no desporto - Prémios do XI Concurso Literário entregues em A BOLA

A BOLA Ética na vida e no desporto - Prémios do XI Concurso Literário entregues em A BOLA

NACIONAL15.06.202321:42

Já estão nas mãos dos respetivos vencedores os prémios referentes à XI edição do Concurso Literário ‘A Ética na Vida e no Desporto’ correspondente ao ano letivo 2022/2023. O Salão Nobre do jornal A BOLA, parceiro desde a primeira edição desta iniciativa, foi mais uma vez o palco, esta tarde, da cerimónia de entrega dos troféus e diplomas aos autores dos sete melhores trabalhos da fase nacional do concurso, a qual, além dos premiados, neles se incluindo a bicampeã mundial de surf adaptado, Marta Paço, contou com inédita presença do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia.

Criado em 2012 pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) através do Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED), ao concurso ‘A Ética na Vida e no Desporto’ podem concorrer estudantes do ensino secundário de escolas públicas, particulares e cooperativas e, a partir de 2014, também a população prisional e jovens dos centros educativos a frequentar os mesmos graus de ensino, na sequência de um acordo entre o IPDJ e a Direção-Geral de Reinserção e dos Serviços Prisionais (DGRSP).

O forte interesse por esta edição justificou a admissão de um total de 206 trabalhos oriundos de todas as regiões de Portugal continental e ilhas, dos quais foram selecionados 39 para a fase nacional, sendo 23 do segmento do secundário e os restantes 16 de estudantes de estabelecimentos prisionais e centros educativos. Tarefa nada fácil para o júri desta edição, que António Simões, jornalista de A BOLA, integrou - juntamente com Anabela Reis, por parte da Fundação do Desporto, Filipe Arraiano, da DGRSP, Humberto Gomes, embaixador do PNED, Jorge Rafael, da Direção-Geral de Educação/Desporto Escolar) e Mário Almeida, do Panathlon Clube de Lisboa – e o qual, após aturada apreciação, apurou os três trabalhos e autores merecedores de prémio nas duas categorias, e ainda uma menção honrosa no segmento dos estudantes de centros educativos e estabelecimentos prisionais, a seguir referidos.

Vencedores do XI concurso ‘A Ética na Vida e no Desporto’

Segmento de estudantes de centros educativos e estabelecimentos prisionais

1.º prémio - ‘A Lição’, da autoria de F. T. S. F., Estabelecimento Prisional do Montijo

2.º prémio - ‘A ética na vida e no desporto’, de J. P. L. S., Estabelecimento Prisional de Silves

3.º prémio - ‘Um amigador’, de A. R. P. G., Centro Educativo dos Olivais, Coimbra

Menção Honrosa - ‘A Ética na Vida e no Desporto - primeiro entre iguais’, de L. M. F. A., Estabelecimento Prisional de Silves

Segmento de estudantes de estabelecimentos de ensino público, particular e cooperativo

1.º prémio - ‘Desporto & Companhia’, de Beatriz da Costa Claro, Escola Profissional de Artes Performativas da Jobra, Branca, Aveiro

2.º prémio - ‘Rumo ao pódio dos valores’, de Marta Jordão Paço, Escola Secundária de Monserrate, Viana do Castelo

3.º Prémio - ‘15 anos’, de Francisco Manuel Fernandes, Escola Secundária Gonçalo Anes Bandarra, Trancoso

Seguem-se, na íntegra, os textos merecedores do 1.º prémio nas categorias respetivas.

‘Desporto & Companhia’

(Entrevista à Ética para o “Jornal de Desporto”.)

Desporto: Olá, Ética! Espero que esteja tudo bem contigo! És a nossa convidada especial desta semana, e gostávamos de saber um bocadinho mais sobre ti e do teu trabalho na empresa Desporto & Companhia!

Ética: Olá, é um prazer estar aqui e ser a vossa convidada especial. O meu trabalho no Desporto & Companhia consiste em preservar o respeito nesta comunidade.

Desporto: Quais são os valores defendidos pela empresa?

Ética: O Respeito, a Cooperação, a Justiça, a Verdade, a Ajuda, a Imparcialidade. São alguns agentes do meu departamento!

Desporto: Podes explicar melhor o trabalho que desenvolvem?

Ética: O Respeito centra-se em prezar os adversários, as organizações, as regras e valores impostos em cada desporto. A Cooperação é a entreajuda entre atletas de diferentes equipas para atingir um objetivo comum. A Justiça centra-se em tratar todos de forma justa e correta. A Verdade foca-se em verificar que a verdade desportiva não é alterada, com utilização de doping ou corrupção, de modo a alterar resultados ou desempenhos. A Ajuda dedica-se a auxiliar todos os que precisam, mesmo que vá contra os seus interesses. A Imparcialidade foca-se em verificar que todos são “vistos” e tratados da mesma forma sem preconceito.

Desporto: De forma resumida como caracterizarias cada um dos teus agentes?

Ética: O Respeito é muito saudável e equitativo. A Cooperação adora trabalhar em equipa. A Justiça é neutra e pacífica. A Verdade é honesta e fiel. A Ajuda é solidária e benevolente. A Imparcialidade é objetiva e independente.

Desporto: Como avalias o vosso trabalho?

Ética: O nosso trabalho é de extrema importância, sendo imperativo que a ética seja respeitada bem como todos os participantes e envolvidos nas modalidades desportivas.

Desporto: São sempre respeitados?

Ética: Na verdade não, muitas vezes não, mas é para isso que somos contratados.

Desporto: Em que tipo de desporto, o teu departamento atua?

Ética: Atua em todo o tipo de desporto existente.

Desporto: E em que idades intervêm?

Ética: Em todas, desde crianças a adultos. Mas intervimos principalmente desde que as crianças entram para alguma modalidade desportiva porque é nesta altura que cada indivíduo começa a desenvolver a sua opinião e adquirir valores e conhecimento em relação a tudo na sua vida.

Desporto: Em suma podemos concluir que a ética desportiva é muito importante no desporto. Obrigado por ter estado aqui connosco!

Ética: Muito obrigada!

BEATRIZ DA COSTA CLARO

Escola Profissional de Artes Performativas da Jobra, Branca, Aveiro

‘A Lição’

Naquela noite, Raúl, jogador amador de futebol, chorava sozinho, no sofá da sala. Tentava abafar o choro para não acordar ninguém.

Porém, os seus esforços foram em vão, pois João, seu filho de 6 anos, ouvi-o e aproximou-se sorrateiramente em bicos de pés. Encontrou o pai devastado e surpreendido com aquele cenário, perguntou, colocando a mãozita no ombro do pai:

- «Papá, porque choras?»

- «Fiquei sem clube, João». Disse o pai, enquanto limpava as lágrimas da cara na vã tentativa de não mostrar parte fraca.

- «Porquê?» questionou naturalmente João, como qualquer criança de 6 anos.

- «Não fiz o que o treinador pediu. Discutimos e o presidente mandou-me embora.»

- «O que é que ele pediu, papá?»

- «O mister queria que a equipa jogasse sujo. Pediu-nos para simular faltas, queimar tempo e jogar duro.»

- «Isso não é feio, pai?» indagou inocentemente a criança.

- «Sim, é muito feio, João». Após uma breve pausa retomou.

- «Juras que não te vais esquecer do que o pai te vai, agora, ensinar?»

- «Juro!» Prometeu o menino, beijando, alternadamente, os indicadores cruzados.

- «Então, escuta bem esta lição. Na vida e no desporto não vale tudo para ganhar. Todos querem vencer, mas é essencial respeitar os outros, jogar pelas regras e ter fair-play. Só assim somos verdadeiros campeões. A isto chama-se ética.»

- «Ética!... pai, a ética ganha jogos?», questionou o curioso miúdo que

desconhecia, até então, tal conceito.

- «Gosto de pensar que sim. Acredito que o bem acontece a quem o certo faz.»

- «Ética! Amanhã, vou dizer essa palavra à professora, para que ela a ensine aos outros meninos.»

Anunciou, bocejando, visivelmente exausto.

- «Ena, tanto sono! Está na hora de ir dormir, campeão. Amanhã é outro dia.»

Raúl sonhou com um novo clube, já João sonhou com a lição que aprendera e que jurou nunca mais esquecer.

Inevitavelmente, a história de Raúl repercutiu-se nas redes sociais, o que levou várias pessoas a apoia-lo e a partilhar o caso.

Deu-se então, quiçá por desígnio divino, um pequeno milagre. Passada uma semana, Raúl recebeu uma inesperada chamada.

Um clube da liga 3 estava interessado nos seus serviços. Não era o estrelato que muitos ambicionam, mas era um passo fulcral na sua carreira, pois finalmente seria profissional.

Chegado a casa, Raúl correu para o filho na ânsia de partilhar a boa nova.

Ao saber da notícia, o sagaz pequenote disse alegre, enquanto abraçava, com força, a perna do pai:

- «Vês pai, o bem acontece a quem o certo faz!»

F. T. S. F. - Estabelecimento Prisional do Montijo, Setúbal