LESÕES NO JOELHO Estrelas em fuga às seleções

«Sobrecarga de jogos traz mais lesões e mais graves», conclui estudo português. Receio de lesões ou simplesmente de desgaste: Mbappé, De Bruyne e Lukaku pedem dispensa; FIFPro fala em «carga excessiva»

Os futebolistas querem disputar menos jogos por ano. A onda de contestação ao calendário de competições, qualificado como estando sobrecarregado, tem crescido nos últimos meses e já há, até, jogadores a ameaçarem com greve. Uma das vozes que mais se fez ouvir foi a de Rodri, internacional espanhol do Manchester City que… dias depois, acabou por ser uma das vítimas do flagelo de lesões no joelho que está a assolar o futebol.

A imensa dor de Rodri (foto: Imago)

Como exemplo do que mencionam os jogadores quando falam em sobrecarga, basta referir dados de um estudo da FIFPro, o sindicato internacional de futebolistas que considera que não se deve jogar mais de 55 jogos por época, que de 40 a 54 jogos por temporada já é considerado «alta carga» e que, acima disso, é «carga excessiva». As lesões pelo excesso são o passo seguinte. E acontecem cada vez mais cedo.

Outro exemplo desse estudo, recentemente publicado, e que põe em causa os desejos da FIFA de alargar ainda mais o calendário, por exemplo, com o Mundial de Clubes no próximo ano: Julián Álvarez, que se transferiu do City para o Atlético Madrid, foi convocado para 83 jogos (clube e seleção), Darwin Núñez, Luis Díaz e Phil Foden jogaram 72 partidas, cada, e Cristian Romero viajou mais de 160 mil quilómetros para jogos internacionais. Contas feitas, 31 por cento (quase um terço) dos jogadores fizeram mais de 55 partidas em 2023/2024.

Jude Bellingham fez 251 jogos profissionais antes de chegar aos 21 anos! (foto: Imago)

Mais: Jude Bellingham fez 251 jogos antes de chegar aos 21 anos; David Beckham, em comparação, jogou 54. Enquanto isso, o alemão Florian Wirtz acumulou mais do dobro de minutos de jogo (11.501) do que o compatriota Michael Ballack (4.175) antes dos 21 anos, enquanto as 369 aparições do brasileiro Vinícius Jr. aos 24 anos superam as de Ronaldinho Gaúcho (163) na mesma idade.

Não admira, por isso, que nesta fase da época, tenha havido jogadores a pedirem dispensa das respetivas seleções, destacando-se o francês Kylian Mbappé (Real Madrid) e os belgas Kevin de Bruyne (Manchester City) e Romelu Lukaku (Nápoles).

«Sobrecarga de jogos traz mais lesões e mais graves»

«Os índices de lesões no joelho decorrentes da prática do futebol são cada vez maiores. Isto deve-se fundamentalmente à elevada exposição da articulação, assim como ao aumento carga de treino e ao elevado número de jogos praticados.» Esta é uma das conclusões de um estudo, realizado por Maria Raquel Silva, professora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, e por Pedro Filipe Rodrigues, licenciado em Motricidade Humana naquela instituição, e revela ainda que essa mesma «sobrecarga de jogos» traz «mais lesões e mais graves».

Imagem de um joelho

O estudo daquela faculdade refere que «mais de metade dos futebolistas sofreram lesões nos joelhos» ao longo da carreira e, desses, 46 por cento teve mais do que uma. Na maioria, foram lesões menos graves – ligamento lateral interno, «pela elevada exposição e menisco» – que obrigaram a tempos de paragem na ordem de um a três meses, sendo que, só 4,2% tiveram a mais grave de todas: ligamento cruzado anterior, a que obriga a paragem entre 9 e 12 meses.

Quanto ao tempo de recuperação, a maioria precisou de apenas um mês (41,7%), mas há uma percentagem elevada de futebolistas cuja paragem foi superior a quatro meses: 20,8 por cento.

Ficamos ainda a saber que dois terços das lesões acontecem em competição – as restantes sucedem em ambiente de treino – e que há um equilíbrio entre as que ocorrem por contacto físico com outro atleta (54,2%) e as que acontecem por mecanismo indireto, isto é, sem contacto (45,8%). As lesões nos joelhos são, ainda, mais comuns entre defesas e médios do que entre avançados e guarda-redes.

De todos os elementos do estudo que já tiveram lesões no joelho, só pouco mais de um terço (37,5%) teve de recorrer a cirurgia.

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