«Estou a torcer pelo Sporting, clube que tenho no coração»
Petar Krpan, de 49 anos, representou Sporting e UD Leiria, atualmente é diretor técnico na federação croata (Facebook/Federação Croata de Futebol)

«Estou a torcer pelo Sporting, clube que tenho no coração»

NACIONAL06.02.202408:00

Petar Krpan chegou a Alvalade em 1998, depois da surpreendente campanha na Croácia no Mundial de França desse ano (3.º lugar); fazia da velocidade a sua arma, mas nunca se impôs na equipa de Alvalade. O seu nome consta da lista de campeões nacionais que quebraram jejum de 18 anos, mas acabou a época cedido ao UD Leiria

— Já lá vão duas décadas desde a última temporada em que jogou em Portugal. Ainda acompanha o campeonato português?

— Sim, claro. Principalmente a Liga, sei que o Sporting está na liderança, a praticar um bom futebol e a somar vitórias. Só não sei o resultado do último fim de semana porque cheguei da Austrália e ainda estou com jet lag

— O jogo do Sporting com o Famalicão não se realizou por falta de policiamento. 

— A sério?!? Que situação estranha, não me recordo de alguma vez ter passado por isso aí. E os adversários diretos ganharam? Então, assim, o Sporting fica em segundo lugar na classificação, mas isso não afetará, o jogo ainda se realizará e no final é que se fazem as contas. 

— O que é feito de si? Continua ligado ao futebol? 

— Sim. Sou diretor técnico da formação na Federação Croata de Futebol, estou com as seleções de sub-14 até aos sub-21. No próximo mês vou estar no Porto, estamos no grupo de Portugal, Alemanha e República da Irlanda na Ronda de Elite de apuramento para o Europeu sub-17, ainda não sei ao certo a cidade onde vamos jogar, mas dá para matar saudades do país.    

Krpan é diretor técnico da formação do federação croata (X/Federação Croata de Futebol)

— Chegou ao Sporting pela mão de Mirko Jozic em 1998, depois da Croácia ter feito um brilharete no Mundial de França. 

— Recordo esse tempo com saudade. Foi a melhor coisa que me aconteceu na carreira. Serei eternamente grato ao Mirko Jozic. Lembro-me que antes de assinar contrato com o Sporting fui ao mapa ver onde era Portugal e a cidade para onde ia, Lisboa, desconhecia por completo. E sabe? Nunca pensei que fosse gostar tanto de Portugal, não tenho qualquer dúvida em afirmar que é o meu segundo país. 

Simões de Almeida, então administrador da SAD, quando Krpan assinou contrato, a 11 de setembro de 1998 (ASF)

— Acabou por ser campeão no Sporting, após 18 anos de jejum, embora não tenha terminado a época em Alvalade.

— Foram momentos importantes tanto para o clube como para mim. 

Krpan a festejar um dos golos que marcou pelo Sporting (ASF)

— Foi cedido ao UD Leiria, onde trabalhou com Manuel José. 

— Um treinador extremamente exigente, mas que percebe muito, mas mesmo muito de futebol. Foi muito bom para mim. Desejo o melhor a Manuel José. Depois apareceu o José Mourinho, mas já não foi no meu tempo, teria gostado de trabalhar com ele.   

— Teve o azar de partir a perna esquerda num treino do UD Leiria, quando estava em final de contrato com o Sporting. 

— É verdade. São coisas da vida. Acabei por regressar à Croácia, onde joguei no Osijek, Dínamo de Zagreb e Hajduk Split, antes de voltar a Leiria, em 2004/2005, a convite do senhor João Bartolomeu. Na época seguinte regressei à Croácia, joguei no Rijeka e acabei a época na China [n. d. r. fez seis jogos pelo Jiangsu Sainty, tendo marcado três golos].

Krpan a ler A BOLA antes de ser operado após ter partido a perna esquerda, em maio de 2001 (ASF)

— Como foi essa experiência na China? 

— Nem boa nem má... Se foi boa para a carteira? Talvez [risos], mas foi difícil para a minha família. Estive lá três meses, depois voltei a casa e terminei a carreira no Inter Zapresic.

— Sabe que o Sporting defronta o UD Leiria em jogo dos quartos de final da Taça de Portugal?

— Não... Gosto dos dois clubes, mas sinceramente não tenho acompanhado muito o Leiria. Está na segunda divisão? É pena, é um clube bom. Mas sei que a segunda divisão em Portugal é muito difícil e subir de divisão não será fácil, mas desejo que o consigam rapidamente. 

— Por quem vai torcer? 

— Estou a torcer pelo Sporting, clube que tenho no coração, que me deu a oportunidade de jogar na Europa. Espero que lhes corra bem esta prova, tal como está a ser no campeonato.   

— Gyokeres, avançado que o Sporting contratou no início da época, está a fazer furor. 

— Não o conhecia antes de chegar ao Sporting. Está a fazer muitos golos, desejo-lhe tudo de bom. Que o Sporting siga assim, não se deixe afetar por nada, e que seja campeão.  

Adolescência a combater 

Aos 17 anos, Petar Krpan, de  espingarda na mão, em Osijekna, a sua cidade natal, combateu contra os sérvios na Guerra dos Balcãs. «O único verdadeiro herói dessa geração é Petar Krpan. Porque enquanto ganhávamos dinheiro em Milão, Madrid, Alemanha e França, ele defendeu Osijek com uma espingarda na mão», realçou Zvonimir Boban, capitão da Croácia que alcançou o bronze no Mundial de França, em 1998.

Amigos para a vida

Questionado sobre se mantém contacto com alguns dos antigos companheiros, Krpan respondeu positivamente. Amigos para a vida: «Falo com o Nélson, que era o guarda-redes do Sporting, O Vidigal, o Beto, o Rui Jorge, que tem feito um trabalho fantástico nos sub-21 de Portugal. Bons amigos que o futebol me deu.» 

Krpan ao lado de Nélson, em agosto de 1999 (ASF)

Sol, praia e... boa comida 

Krpan confessa-se um apaixonado por Portugal e, pelo menos, de dois em dois anos gosta de vir passar férias em solo luso. «Adoro Portugal, e a minha família também. O sol, a praia e a comida... Ui, isso nem se fala! Carne, peixe é tudo delicioso [risos]

Velocidade, a sua imagem

Krpan não era um avançado tecnicista, mas na corrida ninguém o parava, a velocidade era a sua imagem de marca: «Dei sempre o melhor de mim.»