E. Amadora-Sporting, 0-3 Este leão não precisa de ser cinco estrelas. Basta ter apenas uma (crónica)

NACIONAL29.03.202521:27

Suspeito do costume, Gyokeres, voltou a desbloquear um jogo que esteve longe de ser brilhante. Mas nesta fase isso até parece ser o menos importante... Estrela acabou reduzido a 9 jogadores, o Sporting ganhou sem fogo de artíficio mas com três preciosos pontos na luta pelo título

Prova superada. O Sporting não tremeu e deu (novo) passo em frente na corrida pelo título. Venceu e assumiu a responsabilidade de um favoritismo justificado pelos argumentos, ainda que muito limitados, Rui Borges tem ao seu dispor. E goste-se ou não do estilo, da forma, simplicidade das palavras ou das suas ideias, há algo que é inegável: este leão continua a resistir a quase tudo, consegue reinventar-se com planos alternativos e internamente mantém-se invicto desde a chegada do novo treinador. E para ganhar nem precisou de ser uma equipa topo de gama, de cinco estrelas, pois, como se viu na Reboleira (mais uma vez...) necessita apenas de uma para ser líder do campeonato: Gyokeres. Mas já lá vamos.  

Na Reboleira houve novo teste à criatividade do leão. Sem Hjulmand e Morita, Rui Borges recorreu a dois médios que, convém lembrar, nem sequer estavam nas contas no arranque da época: Debast e o jovem Felicissímo. Regressou Inácio e Eduardo Quaresma, saiu o castigado Maxi Araújo. Uma equipa com remendos, um sistema (3x4x3) de que Rui Borges já não abdica, perante um adversário que vinha de um registo não tão negativo quanto o 16.º lugar que ocupava, pois só tinha caído em Guimarães nos últimos cinco jogos. 

Foi autoritário o começo do Sporting. Aos 7 minutos poderia ter parte da história do jogo contada. Com Gyokeres a proporcionar enorme defesa a João Costa aos 30 (!) segundos, após excelente lance de entendimento com Quenda, e minutos depois uma bola no ferro de Matheus Reis após iniciativa do sueco. Um arranque prometedor (e dominador) que obrigou a uma mudança súbita na estratégia do Estrela para bloquear o Sporting. Colocando maior agressividade nos duelos, um futebol mais direto, com constantes paragens para travar o ímpeto inicial dos leões. 

O Sporting não se deu bem e começou a sentir dificuldades. Avassalador na posse de bola, é certo, quase sempre instalada no meio-campo amadorense, mas sem ideias. Nem rasgo. Fruto de uma dupla do miolo sem rotinas e demasiado estática, passiva nas abordagens, sem largura e muito contida (e bloqueada) em zonas adiantadas. Sem a inspiração de Trincão (longe do brilhantismo recente), o Sporting, na decisão, esteve sempre dependente da criatividade e irreverência de Quenda e, claro está, da explosão de Gyokeres. E foi destes dois que, em boa verdade, viveu até final.  

Bem, mas se a tarefa, em tentar encontrar espaços para ferir a defesa tricolor, já parecia complicada (o Sporting deixou de criar perigo após aqueles dois lances nos primeiros sete minutos) mais ficou com a expulsão de Montoia aos 34’, após duas faltas sobre Fresneda. José Faria passou para um 5x4x0 e a ordem era para... resistir e deixar o leão mais intranquilo com o relógio. O empate ao intervalo era prémio a essa resistência pois Rui Silva era mero espetador na Reboleira. 

Diomande desta vez...  

Rui Borges, após esse domínio na etapa inicial e em superioridade numérica, foi obrigado a mexer ao intervalo (e até pareceu tarde...). Saiu Fresneda, entrou Geny Catamo para a esquerda da linha ofensiva, recuando Quenda para a ala direita, o seu habitat mais natural e onde se notabilizou esta época. O Sporting ganhou vivacidade, agilidade de processos, mas raramente teve a objetividade necessária em tomadas de decisão no último terço do terreno. 

Curiosamente, apesar do protagonismo da estrela de Gyokeres, que ofuscava todas as outras, o fator que acabaria por desbloquear o jogo foi mesmo um lance imprudente de Alan Ruiz sobre Diomande na área amadorense. Inverteram-se os papéis para o costa-marfinense, ainda marcado por pecados capitais (penáltis e expulsões) por lances inofensivos, depois de ter sido atingido na cara pelo argentino. Lance foi analisado pelo VAR e eis que surgiu a grande penalidade que abriu caminho para a vitória dos leões. Aos 49’ e ainda com muito por jogar. 

O sueco não desperdiçou e a vitória do leão, a partir daqui, seria uma questão meramente académica. Ordem para não correr riscos (Rui Borges só voltaria a mexer aos 84’) e privilegiar a solidez defensiva. Aguardando com paciência por um golpe de génio ou um erro amadorense. A tranquilidade e a confirmação da vitória para o Sporting (não pelo que o Estrela produzia mas o que uma magra vantagem ameaçava) só chegou aos 81’ depois de jogada magistral de Quenda que, após um túnel a Rúben Lima, e um belo trabalho de Gyokeres, bateu João Costa num remate cruzado.  

E já de braços caídos, em cima dos 90’, com pouco para fazer, o Estrela ainda haveria de ser penalizado com mais uma expulsão (desta vez de Rúben Lima), um penálti e, claro está, mais um golo da estrela que mais brilhou. Não só na Reboleira como em toda esta Liga.