«Esta é a nossa caminhada para o futuro»

Catar «Esta é a nossa caminhada para o futuro»

INTERNACIONAL29.06.202321:14

Uma caminhada que ainda dá os primeiros passos, a do técnico português Carlos Queiroz, de 70 anos, agora ao leme da seleção do Catar, que passa, na  madrugada de sexta-feira, dia 30 do corrente mês (00.45 horas em Portugal continental), no jogo da 2.ª jornada do Grupo B da fase final Gold Cup da CONCACAF, em que defrontam as Honduras, em Phoenix (estado do Arizona, nos EUA), depois do desaire tangencial e já no tempo de compensação (1-2) diante do Haiti, na ronda inaugural da prova, em que também os hondurenhos foram goleados pelo México (0-4).

«É um prazer estarmos aqui e sermos parte desta maravilhosa competição, a Golden Cup. Temos mais um jogo e a oportunidade de mostrarmos o nosso futebol, com um único objetivo em mente: jogar bem e conseguirmos os três pontos. Sabemos que defrontamos uma grande equipa, com qualidade e ambições, mas é este o nosso objetivo», sublinhou esta quinta-feira Carlos Queiroz, em Phoenix, na conferência de imprensa de antevisão da partida, garantindo a ausência de quaisquer recordações da forma como foram desfeiteados no jogo inaugural da prova maior de seleções da confederação da América Central, do Norte e Caraíbas mas deixando desde já o aviso de esperar arbitragem condigna.

«O estado de espírito é muito bom. Saímos do jogo conscientes do que fizemos, analisámos todos os detalhes e incidentes da nossa performance. Há espaço para melhorar, queremos crescer, mas também esperamos não enfrentar o mesmo tipo de incidentes do último jogo: esperamos três boas equipas no relvado», avisou Carlos Queiroz, que promete aos adeptos de futebol cataris empenho máximo da seleção que agora orienta.

«Seguramente as Honduras e o Catar farão um bom trabalho, esperamos que a terceira equipa também. Infelizmente, uma das equipas prejudicou o nosso desempenho no primeiro jogo [alusão à arbitragem]. De qualquer modo, não nos escondemos atrás disso e estamos focados no que queremos melhorar. Não será fácil superar as Honduras, mas está nas nossas mãos tentar tudo para o conseguir», constatou o septuagenário técnico luso, ciente da valia do rival.

«[A seleção das Honduras] Tem muitos jogadores portentosos e talentosos, com grande capacidade de aceleração do jogo. É uma equipa de atitude atacante. Mas não há equipas perfeitas, e queremos jogar as nossas melhores cartas em cima das suas fraquezas, como, estou seguro, eles farão contra nós. Estamos seguros de que podemos melhorar, crescer e conseguir os resultados que todos esperam», foi a esperança deixada por Queiroz aos jornalistas na prova, a decorrer nos EUA desde dia 24 do corrente mês até 16 de julho.

A necessidade de pontuar, após o desaire na ronda inaugural, não irá tolher o raciocínio e discernimento aos seus, foi a ressalva desde já deixada pelo técnico bicampeão do Mundo de sub-20 ao leme da Seleção Nacional do escalão em 1989 e 1991.

«A palavra certa [para a abordagem a este jogo] não é preocupação. O futebol é alegria. É tentar ganhar, para felicidade dos adeptos, desfrutar, e a palavra certa é atenção! Temos de trabalhar todo o jogo: sabemos os pontos forte e fracos, e o desafio é saber jogar 90 minutos procurando o que nos é favorável», resumiu com pragmatismo.

«A equipa esteve bem com o Haiti, criámos oportunidades de golo, jogámos bem. Se continuarmos assim, estarei muito satisfeito com os mais jovens, que estão a entrar na equipa, e também com os que estão a aportar experiência. Esta é a nossa caminhada para o futuro, mas nesta caminhada estamos em competição e a competição faz-se de ganhar. É para isso que se joga futebol, para ganhar. Se não jogas para ganhar, não podes crescer», sublinhou Carlos Queiroz na antevisão do duelo, recusando facilidades de antemão tendo como ponto de referência os hondurenhos terem sido goleados pelo México na ronda inaugural.

«As Honduras jogaram bem, construíram oportunidades, poderiam ter marcado. Têm velocidade, contra-ataques perigosos e temos de saber contrariar os seus melhores momentos», disse Queiroz, que se recusou a adiantar o onze que irá apresentar ante a rival, ou se repetirá o que foi desfeiteado ante o Haiti.

«Com toda esta gente [jornalistas] das Honduras aqui... não posso ‘dar’ a [constituição] da equipa inicial. Temos alguns objetivos a alcançar nesta competição, trouxemos muitos jogadores sem internacionalizações: um dos objetivos é desenvolver talento», ajuntou a propósito.

«No futebol, há uma coisa que não se pode comprar: experiência. Se não colocarmos jogadores em campo, se não tivermos coragem, não ganham experiência. Ao mesmo tempo, temos de ser muito cautelosos, porque não podemos colocar em causa a autoestima de um jovem, lançando-o num determinado ambiente. Temos de preparar as boas soluções para crescer, técnica e taticamente, e em termos de personalidade. E dentro disto, sem poder dar-lhe a equipa, temos decisões para tomar», foi o ‘puzzle’ que se coloca na evolução deixado pelo técnico luso, para o qual, após três décadas e meia de carreira, o futebol continua, na sua essência, a ser… simples.

«Todos sonham em vencer, e em ganhar por muitos golos. Mas vamos pela abordagem mais simples: primeiro, tentar jogar bem, tentar ser melhor que as Honduras. Há que criar oportunidades e marcar. O futebol é tão difícil que não se pode começar com passes de magia. Já temos uma grande tarefa pela frente, que é tentarmos ser melhor que as Honduras. Isso é o que podemos controlar. Depois, é esperar que tudo corra bem. E já agora, que a terceira equipa [arbitragem] também jogue bem: que [a arbitragem] seja neutra e justa e tome decisões corretas. Não podemos esperar um jogo com três penalties não assinalados. Precisamos de bons árbitros. É injusto que o esforço e sacrifício de uma equipa sejam destruídos dentro do campo», reforçou Carlos Queiroz, recordando o jogo com o Haiti.

E quanto ao caráter decisivo do encontro para ambas as seleções (ambas derrotadas na 1.ª jornada do Grupo B, recorde-se), Queiroz procurou relativizar a responsabilidade dos ombros dos seus pupilos e recordou que… é igual também para as Honduras.

«É uma situação igual para as duas equipas. E é parte da nossa vida, jogar para ganhar. Honestamente, desde os meus nove anos que não me lembro de jogar um jogo que não fosse para o ganhar. Seja um ‘particular’, seja oficial, o objetivo é ganhar. Já dizia aquele ‘treinador’ inglês... [William] Shakespeare, já retirado: ‘To win or not to win, that is the question’ [ganhar ou não ganhar, eis a questão, trocadilho com o célebre ‘ser ou não ser, eis a questão’, do dramaturgo inglês]. É uma questão de ganhar… ou ganhar», concluiu quem, da experiência ao leme de tantas seleções - do Irão à Colômbia, passando por Portugal, Egito, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e agora Catar – e clubes (Sporting, adjunto no Man. United, Real Madrid, Nagoya Grampus, New York MetroStars) foi mais longe num retrato profundo dos problemas do futebol atual na ocasião.

«A Imprensa e as pessoas não valorizam a forma como o futebol das seleções foi altamente prejudicado no período da pandemia [do Covid-19], em termos de treino e competição. Pode dizer-se que o futebol continuou, é verdade, em alguns países com possibilidades e condições para isso. Foi o caso de Inglaterra, e noutros. Mas, em muitos países, o treino e preparação de seleções, sobretudo de seleções jovens, sub-21, sub-23, foi muito prejudicado», é a alerta de quem se afirmou no ofício começando a orientar nas camadas jovens.

«O que vejo hoje é claro: as nações de topo dispararam para um ‘gap’ [intervalo, fosso] ainda maior relativamente a outros países. O Mundial [do Catar-2022] mostrou exatamente isso: o quão distantes as seleções de topo estão do resto do mundo», concluiu Carlos Queiroz, assertivo.

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