Liga dos Campeões Erros meus, má fortuna e um treinador congelado: a crónica do Benfica-Salzburgo
Primeiro quarto de hora devastador: dois penáltis, um golo sofrido e uma expulsãoBenfica continua a sofrer com adversários intensos.
Tudo o que poderia acontecer de mal ao Benfica aconteceu ainda pior naquele primeiro quarto de hora em que a equipa de Roger Schmidt, totalmente perdida no vendaval austríaco, sofreu dois penáltis, um golo e uma expulsão de um jogador pilar da sua defesa. E o mais grave é que neste começo devastador estiveram erros individuais de jogadores que, traumatizados com as suas desastradas entradas no jogo, nunca mais recuperaram, a começar em Trubin, o guarda redes que veio substituir Odysseas Vlachodimos, um inexplicável mal amado cujos desempenhos tantas vezes salvaram o Benfica.
A verdade é que esse primeiro quarto de hora tenebroso marcou toda a história do jogo e condenou a uma derrota tão ameaçadora, quanto perigosa, o campeão português. A partir desse período, o Benfica foi, pelo menos, corajoso. Assumiu por inteiro os riscos que teve de correr, jogou com dez como se estivesse com onze e por isso, sempre que não conseguia suficiente pressão no jogo e sobre o adversário, abriu espaços e, com eles, oportunidades para o adversário matar o jogo.
Erros meus, má fortuna...
Como no célebre poema de Camões, também o Benfica poderá dizer, erros meus, má fortuna. De facto, a equipa somou a erros individuais imperdoáveis a falta de sorte, ou até mesmo com algum azar, porque todos os jogos também podem ser definidos pelas leis do seu próprio destino.
É verdade, pois, que o Benfica tentou emendar a mão, foi generoso e teve caráter, mas não conseguiu concretizar oportunidades de começar a virar o jogo, ou por ineficiência no último remate, ou por mérito do guarda redes adversário.
Impôs-se, depois, a mais conhecida lei do futebol: quem não marca, sofre. E quando o Salzburgo conseguiu fazer o seu segundo golo, aos 50 minutos, o jogo ficou definitivamente jogado e as perspetivas tornaram-se, também, definitivamente sombrias.
Um treinador congelado
É natural que ao assistir àquele primeiro quarto de hora digno de um fime de horrores, Roger Schmidt se sentisse gelado. O pior foi não ter tido reação e de, por isso, ter acabado por ficar... congelado. Difícil de entender que só fizesse a primeira alteração aos 70 minutos de jogo, numa equipa que continuava a querer, mas já não podia. Estranha-se, também, que no momento de substituir Musa tivesse dado um sinal claro de desconfiança nas capacidades de Arthur Cabral que, como se sabe, não custou pouco dinheiro. Pior de tudo, o facto de não ter preparado a sua equipa para a eventualidade de o adversário abordar o jogo à Porto, criando enorme pressão atacante e impondo uma intensidade de jogo que o Benfica continua a não saber acompanhar.
O que não deixará de ser preocupante para os benfiquistas atendendo a que, em breve, o FC Porto será visitante da Luz e deverá repetir a receita que promete resultados. Num grupo demasiado aberto para se hierarquizarem favoritos, a derrota do Benfica, no primeiro jogo em casa, torna o futuro europeu muito enevoado. Perante o cenário que atualmente existe, aumentam as responsabilidades para o próximo jogo em Milão. Não será decisivo, mas uma nova derrota obrigará o Benfica a ter mesmo de ganhar um jogo fora. Não será pedir o impossível, mas é urgente que esta equipa se consolide num futebol capaz de ter vários andamentos no jogo, num futebol com a respiração certa, num futebol com a maturidade europeia que, manifestamente, não tem.