Edward Iordanescu: «A Roménia vai ser a grande surpresa do Euro como equipa»
Edward Iordanescu, selecionador da Roménica, falou em exclusivo a A BOLA (IMAGO)

ENTREVISTA A BOLA Edward Iordanescu: «A Roménia vai ser a grande surpresa do Euro como equipa»

INTERNACIONAL01.06.202407:00

Ninguém dá nada pela Roménia no Euro 2024, mas talvez seja hora de abrir os olhos. Sem grande estrelas chega ao certame depois de uma qualificação sem derrotas. Edward Iordanescu, 45 anos, foi o homem que devolveu o brio à seleção. O apelido diz-lhe qualquer coisa? É filho do mítico Anghel Iordanescu

Ponto prévio: ser filho de um homem que é uma lenda na Roménia e um dos mais respeitados técnicos a nível mundial não traz a Edward Iordanescu mais pressão. De certa forma aliviou esse fardo ao alcançar brilhantemente a qualificação da Roménia para o Euro 2024, depois de o pai o ter feito pela última vez em 2016. Recuperou a autoestima de uma nação que andava desanimada com a sua seleção. Em entrevista exclusiva a A BOLA, explica o que mudou, como mudou e o que se pode esperar da Roménia na Alemanha. Fã de Carlo Ancelotti, é também profundo admirador da escola portuguesa, e criou uma ligação forte com Roberto Martínez.

— A Roménia qualifica-se para o Euro 2024 vencendo o grupo com seis vitórias, quatro empate e nenhuma derrota. O que se pode esperar da sua seleção na prova?

— O facto de nos termos qualificado ao vencer um grupo com a Suíça, Israel ou Kosovo, e de o termos feito sem derrotas, determinou muitas mudanças positivas e muitas mais espero que venham. O Europeu será um desafio fantástico para mim e para os meus jovens jogadores. Tudo faremos para chegar ao próximo nível do nosso compromisso e provar que o nosso potencial é ainda maior do que o comprovado nas eliminatórias.

— Sem ter grandes estrelas ficou à frente da Suíça…

— Implementei uma visão baseada na organização tática, disciplina e análise aprofundada tanto para os nossos adversários como para o nosso próprio desempenho. Estes tornaram-se eficientes ao fundirem-se com a mentalidade de luta, a união, o espírito de sacrifício e a vontade de cada jogador de mostrar a sua melhor versão em cada minuto do jogo, para o objetivo comum. Este é o caminho que vamos manter, tentando melhorar cada parte do nosso projeto!

— Estão no Grupo E com Bélgica, Eslováquia e Ucrânia. A Bélgica é o adversário mais forte?

— A Bélgica é uma grande seleção, com grandes jogadores que têm experiência ao mais alto nível, e valor inegável. Além disso, como equipa, têm experiência internacional com grandes resultados nas últimas décadas, que nos falta, infelizmente. Mas a nossa abordagem baseia-se em tirar o máximo possível de cada jogo, independentemente do nome ou da reputação dos nossos adversários. Tínhamos o objetivo de nos qualificarmos para o Europeu e conseguimos. Antes do último jogo, contra a Suíça, em casa, tivemos a oportunidade de terminar em primeiro lugar no nosso grupo. Na Alemanha, vamos concentrar-nos em mostrar a nossa melhor forma de jogar e aproveitar, ao mesmo tempo, as fraquezas dos adversários. Não temos uma meta para ganhar o grupo. Mas, como mostrámos nas eliminatórias, se tivermos essa oportunidade, faremos o nosso melhor para chegar mesmo ao primeiro lugar do grupo.

— Vê no seu grupo de jogadores um ou mais atletas que podem surpreender no Campeonato da Europa?

— Ter um plantel com muitos jogadores jovens para este nível internacional pode ser, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade. Cabe a cada jogador dar tudo à equipa e através dos resultados transformar o momento numa oportunidade! Construí uma equipa e, como os meus jogadores costumam afirmar, que é uma pequena família. Tudo o que conseguimos até agora foi agindo e reagindo com uma energia tremenda conferida por esta força de grupo. Portanto, se vamos ser uma surpresa, acho que vamos ser uma surpresa como equipa, apesar de termos jogadores com qualidade individual. Esta é a nossa abordagem vencedora!

Crise e renascimento

É um treinador muito jovem. Quando assumiu o comando da Roménia, que desafios enfrentou?

— Tornei-me selecionador da Roménia num momento de grande descrença e falta de coesão, devido aos maus resultados dos últimos anos da seleção. Mas, também, num contexto difícil em que os clubes romenos — e ainda assim é — já não fazem parte da fase de grupos das competições europeias. Isto significa, como efeito, não ter muitos jogadores romenos em clubes de alto nível ou a jogar nas principais ligas da Europa. Depois de uma breve avaliação aprofundada, porque não há paciência no futebol, como sabemos, percebi o que posso fazer melhor e o que devemos fazer, juntamente com o grupo de jogadores que estão dispostos a dar tudo pelo nosso objetivo comum. Tive a certeza de que, passo a passo, as nossas soluções dariam resposta a todos os aspetos negativos que enfrentámos no início do nosso percurso. Ao criar um novo ambiente de disciplina e recuperar o espírito de equipa, ultrapassámos a falta de coesão. Ao entender uma nova abordagem tática e a minha forma de preparar os jogos, ficámos mais confiantes como equipa. E começámos a ter resultados, porque o potencial existia, mas precisava de um caminho e de uma estratégia eficaz. Depois de termos os resultados, ultrapassámos a grande descrença. Os jogadores ficaram mais confiantes, mas, ao mesmo tempo, os adeptos voltaram a aproximar-se da equipa. Também alguns jogadores passaram a fazer parte de importantes ligas europeias, como Ratiu, Moldovan e Hagi na La Liga, Dragusin na Premier League, Dennis Man e Mihaila conseguiram a promoção à Série A. Então, uma série positiva de mudanças!

Além de muito jovem, é filho de um treinador muito respeitado, Anghel Iordanescu. Sentiu, como muitos filhos de atletas ou treinadores famosos, o peso desta responsabilidade?

— É uma responsabilidade especial, mas não a sinto como uma pressão. O meu pai é mais do que um modelo para mim. Tenho a sorte de ser um treinador com uma experiência tão incrível trazida diretamente para mim pelo meu pai. Confie em mim, a maior pressão possível é aquela que coloco em mim quase diariamente! Porque estou focado em tornar-me melhor e aprender continuamente os passos necessários para os melhores resultados.

Antes de si, foi o seu pai quem qualificou a Roménia pela última vez para um Campeonato da Europa, em 2016. Sente esse orgulho?

Estou orgulhoso disso. Espero deixá-lo orgulhoso também, mas, ao mesmo tempo, sei que o seu legado elevou a fasquia de uma forma difícil de ser repetida em pouco tempo. Foi treinador principal da Roménia no Campeonato do Mundo de 1994, Euro 1996, Campeonato do Mundo de 1998 e Euro 2016. Eu estou a começar!

— Quem é o treinador, ou treinadores, que mais o influenciaram ou que considera serem modelos para as atuais gerações de treinadores?

— Sou movido na minha abordagem futebolística pelo compromisso de atingir metas. Fiz isto com todas as equipas que geri. Consegui evitar despromoções, qualificar-me para as competições europeias e ganhar o campeonato nacional. Agora, qualificando a seleção para o Euro 2024. Torna-se óbvio que fui e sou influenciado pelos treinadores que se definem pelo cumprimento de objetivos e por aqueles que atingem este nível constante de desempenho através de uma tremenda organização tática, analisando cada detalhe do jogo, construindo equipas equilibradas com uma mentalidade vencedora. Carlo Ancelotti é um dos maiores a fazê-lo! Tive a oportunidade de assistir aos seus treinos e conversas com a equipa, para compreender as formas específicas como ele analisa tanto a sua equipa como o adversário. Para mim, ele é um marco nesta profissão!