Dragão foi ‘passarinho’ e canário foi raposa: a crónica do FC Porto-Estoril
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Dragão foi ‘passarinho’ e canário foi raposa: a crónica do FC Porto-Estoril

NACIONAL03.11.202323:56

Faltaram ideias a um FC Porto descrente e desinspirado. Estoril brilhante taticamente. Guitane foi pesadelo e Holsgrove carrasco.

Na luta pelo título nacional, o FC Porto, derrotado pelo Estoril no Dragão, somou três pontos aos dois que cedera em casa frente ao Arouca, e passou a contabilizar cinco pontos irrecuperáveis, que podem vir a ter consequências definitivas quando forem feitas as contas finais da Liga. Poucos vaticinariam que o lanterna vermelha iria impor-se ao reduto do FC Porto, que vinha a atravessar um bom momento, traduzido por vitórias seguras e convincentes em Antuérpia e Vizela. Mas a verdade é que, depois de sobreviverem a uma entrada forte dos dragões, que viram Mehdi Taremi permitir a defesa de Marcelo Carné, aos seis minutos, de uma grande penalidade, os canarinhos foram assentando jogo - durante os primeiros 20 minutos agarrados a um 5x4x1 mais conservador - e logo que o FC Porto baixou a pressão (que nunca foi sufocante), em noite em que Francisco Conceição, durante uma hora, até estoirar, esteve muitos furos acima dos colegas em intensidade, foram capazes de colocar uma série de passes verticais, que ultrapassaram linhas e permitiram, especialmente a Guitane, tornar-se num perigo à solta para a baliza de Diogo Costa.

A equipa da linha revelou ontem no Dragão uma plasticidade que lhe permitiu transformar, com intencionalidade, o 5x4x1 num 3x4x3, mantendo os donos da casa, monolíticos, em respeito. 

Na verdade, do outro lado esteve um FC Porto previsível e macio, que não fazia pressão alta como noutras ocasiões (um pouco como se soubesse a música mas se esquecesse da letra), nem se organizava como equipa, permitindo espaços ao contra-ataque do Estoril.

Jogador capaz de exemplificar o desacerto portista foi Taremi, chamado a pisar terrenos ou mais recuados, ou mais lateralizados, onde foi pouco mais do que inofensivo. Como, ao mesmo tempo, Evanilson andou perdido entre o trio de centrais estorilistas, e Pepê mudou tantas vezes de posição, o que transformou a qualidade da versatilidade no defeito da anarquia, restou, enquanto teve gás, Francisco Conceição, o que, sendo individualmente muito, pouco impacto coletivo acabou por ter. Com os dragões sem inspiração na frente, e sem ideias a meio-campo, a pouco e pouco foi crescendo a confiança estorilista, que cada vez que contra-atacava, sobretudo por Guitane, mas também pelos laterais que se projetavam com qualidade, especialmente Rodrigo Gomes, punha a nu intranquilidade da defesa portista, onde Pepe esteve longe do melhor e David Carmo se mostrou por demais inseguro. 

Seabra ganha a Conceição

Ainda com o resultado em branco, e ao contrário do que podia esperar-se, não foi Sérgio Conceição a mostrar-se inconformado, mas sim Vasco Seabra que, aos 61 minutos decidiu dar mais potência ao contra-ataque, com Heriberto e Cassiano. Era o Estoril a gritar, alto e bom som, que queria candidatar-se a mais do que um empate no Dragão. Conceição respondeu pouco depois, passando a um 4x2x4 que embora fosse ousado na teoria revelou-se presa fácil para a organização estorilista, onde os três centrais chegavam para Toni Martinez e Evanilson, enquanto que os laterais e os alas canarinhos empurravam Gonçalo Borges e Francisco Conceição para zonas interiores, retirando largura e aumentando a falta de esclarecimento do ataque portista. 

Quando Holsgrove cobrou superiormente o livre nascido de uma falta de David Carmo sobre Guitane (75), o desespero portista aumentou, mas embora baixasse mais as linhas, o Estoril, que refrescou as alas, nunca perdeu o sentido do contra-ataque, e ainda antes de Sérgio Conceição jogar a última cartada, com Namaso e André Franco, Toni Martinez teve de sacrificar-se e ver um cartão amarelo por ter cortado mais um ataque prometedor dos canarinhos.

Sem ideias, sem convicção e sem soluções, os últimos minutos do FC Porto, que terminou com três defesas, foram de impotência, traduzida em tentativas vãs, de Pepe e Pepê, que não assustaram Marcelo Carné. O Estoril ganhou e ganhou bem, no Dragão.