«Dizia-me que tinha entre as pernas uma p*** maior que a dele. Que era tão feia que não sabia como olhavam para mim»

Futebol Feminino «Dizia-me que tinha entre as pernas uma p*** maior que a dele. Que era tão feia que não sabia como olhavam para mim»

FUTEBOL FEMININO06.07.202310:25

Depois da inspeção do trabalho de Espanha já ter atestado que o treinador da equipa feminina do Alhama, Randri García, protagonizou «comportamento inadequado que afetou a dignidade da maioria das jogadoras (68%)» e que transformou o balneário, convertendo-o num «ambiente laboral hostil», o diário catalão El Periodico falou com algumas das jogadoras que foram alvo do assédio e humilhação às mãos do técnico.

Quebraram o silêncio para dar voz a testemunhos realmente impressionantes, que relatam o temor e sofrimento que sentiram, bem como a ansiedade que ainda toma conta delas de cada vez que recordam tudo o que passaram às mãos de Randri García.

«O que sinto quando penso em voltar ao balneário, que foi tudo para mim, é medo e ansiedade. Começas duvidar de ti mesma. Podes ter a maior autoestima do Mundo, mas quando ouves estas coisas dia após dia também começas a duvidar de quem és, se tens realmente qualidade, sobretudo quando os resultados não acompanham», confessou a jogadora Andrea Carid, que continua de baixa médica.

«Ele usa as nossas fraquezas para impedir que nos revoltemos. Ou para que fiquemos a pensar que a culpa é nossa por nos sentirmos assim», juntou, relatando alguns dos insultos a que diariamente as jogadores do Alhama era sujeitas.

«Chamava-nos de gordas, indiscriminadamente, todos os dias. Era rara a semana em que não havia comentários sobre o físico, sobre o que comíamos ou deixávamos de comer. Deixámos de postar coisas no Instagram porque nos estava a perseguir nas redes sociais: 'Sim, onde estás?', 'o que estás a fazer e com quem?', 'tens de perder peso'.

'Estás tão gorda que nem consegues fazer amor'. Disse-me que tinha entre as pernas uma p*** maior que a dele. Que era tão feia que não sabia como as mulheres olhavam para mim. Era constante. Comentários de cunho político, homofóbico, misógino e racista», relatou outra das jogadoras ao El Periodico, Érica.

Mas porquê tanto tempo até tudo vir a lume? A culpa, apontam, é da hierarquia familiar que gere o clube.

«Quem manda [no clube] é o pai, o presidente, a mulher é a diretora desportiva, a mãe também tem um cargo e ele é o treinador. A quem podíamos contar o que estava a acontecer?», questiona Érica.

Mas há mais razões que levam estes episódios a prolongarem-se no tempo.

«Ficamos sempre à espera que volte tudo ao normal. E esperamos porque queremos ter um futuro no futebol. Não sabemos se esse homem está a dizer a verdade ou não: 'Não vais ter sucesso noutra equipa que não nesta', 'Eu descobri-te, se fores para outro sítio nunca irás jogar o mesmo', 'estás aqui graças a mim'. Mas quando chega alguém de fora que sabe e nos diz 'isso não acontece nas outras equipas', aí dizemos 'já chega'», remata Carid.