Debast «promete no Sporting» mas pode ser vítima da derrota

INTERNACIONAL18.06.202418:00

Jornalistas belgas elogiam reforço dos leões, apontando-lhe um grande futuro; Titular no desaire da Eslováquia, deverá ceder lugar ao recuperado Vertonghen

«A Bélgica nunca perde». O slogan da cerveja que patrocina a seleção está bem visível nos rollup do centro de imprensa em Ludwisburgo, nas imediações de Estugarda, mas nem o melhor marketing supera a realidade. A derrota frente à Eslováquia por 0-1 abanou os pilares de uma seleção que partiu para este Euro 2024 com as esperanças de sempre, mesmo se da geração de ouro que muito prometeu mas nada ganhou (nem mesmo com Roberto Martínez) restem poucos jogadores.

Os Diabos Vermelhos estão numa fase de transição, com a entrada de novos valores, como é o caso de Zeno Debast, central que o Sporting contratou ao Anderlecht e obrigado a assumir a titularidade no centro da defesa face ao estado físico e clínico débil de Vertonghen, Theate, Witsel ou Meunier. «Ele esteve bem, colocando muitas vezes a bola no espaço onde andavam De Bruyne e Lukaku», elogiou Vertonghen, colega do novo leão no emblema de Bruxelas e que deverá assumir o lugar dele diante da Roménia.

«Quando foram divulgados os convocados não pensámos que ele iria ser titular, talvez que no terceiro jogo frente à Ucrânia ele teria hipótese de jogar», explica Yves Taildeman, jornalista do La Dernière Heure que habitualmente cobre o Anderlecht e tem conhecimento aprofundado sobre o jovem defesa. «Tem grande capacidade técnica, ótima capacidade de passe longo, defensivamente ainda tem algum trabalho para fazer mas ele progrediu muito ao jogar com Vertonghen.»

«Ele é muito ambicioso», prossegue o enviado à Alemanha, apontando o traço de caráter que o faz ser diferente em relação aos compatriotas: «Ele tem muita autoconfiança. Não vai ficar muito nervoso ou impressionado num jogo da Liga dos Campeões. Talvez cometa erros no início… nós, belgas, temos a tendência para sermos modestos, mas ele é o contrário, ele diz ‘eu tenho 20 anos, estou pronto, eu vou ter sucesso no Sporting’ e acho mesmo que ele vai conseguir ter sucesso no Sporting».

Jurgen Geril, jornalista do Het Neuwsblad, concorda. O Sporting «acertou» na contratação e Debast também fez «uma boa escolha ao sair para um clube que «aposta nos jovens». Lembra, no entanto, que se trata ainda de um produto inacabado, porque não há muitos anos «era jogava como número 10» e hoje tenta parar os pontas de lança adversários. «[Vincent] Kompany [ex-treinador do Anderlecht] chegou a dizer-lhe: ‘Tu não sabes fazer um carrinho!’ Ele teve de crescer muito nesse aspeto e beneficiou muito de ter Vertonghen ao lado dele», explica.

«Jan [Vertonghen] foi decisivo. Debast tem a tendência de ser agressivo e ele acalmou-o na hora de querer dar sempre o passe decisivo, ele ensinou-o a canalizar as suas emoções. Às vezes mostra-se zangado e expõe a sua desilusão. Vertonghen, com a sua idade sabe como funcionam as coisas», afirma Taildeman.

Sair a jogar

A capacidade ofensiva é uma das suas vantagens competitivas. «Como tem essa formação de médio, é um jogador bom no passe, na construção, ele gosta de subir no terreno», descreve Geril. «Ainda recentemente o vimos a bater cantos, ele que é um central, algo muito invulgar», acrescenta o colega do órgão de origem francófona. Um defesa bom «no passe longo e nos cruzamentos» e que tem outro aspeto fundamental na opinião daqueles que o seguem de forma mais analítica: há um líder a chegar ao balneário dos campeões nacionais. «É gentil, mas líder. É algo que aprendeu. Ele tem uma ligação muito forte ao Anderlecht, foi formado no clube e sente que tem uma responsabilidade muito grande e começou a exercer um papel de liderança, guiando os seus colegas, dizendo-lhes o que tinham de fazer. No Sporting não será logo uma das principais vozes de comando, terá de apalpar terreno, mas se ele se sentir confortável será importante para o clube», assegura Jurgen Geril.

Estreante em grandes provas pela seleção (somava apenas sete internacionalizações), a partida diante da Eslováquia não foi uma boa história para contar e mesmo que o setor defensivo não tenha sido o responsável pelo desaire, antes a incapacidade de finalização (Lukaku à cabeça), o contexto pede o regresso de Vertonghen, capitão e o mais internacional de sempre pelos Diabos Vermelhos (154 jogos). Com 20 anos, Debast tem todo o tempo do mundo para futuras batalhas. Pela Bélgica e a partir deste verão, com Rúben Amorim e puxar por ele.