De pedreiro e empregado de mesa a melhor marcador da Libertadores

INTERNACIONAL01.12.202418:58

Júnior Santos só se tornou profissional aos 22 anos e não fez formação em nenhum clube; a vida mudou após uma chamada telefónica com o pai

Um dos heróis da caminhada gloriosa do Botafogo na Libertadores foi Júnior Santos: o avançado de 30 anos foi o melhor marcador da prova, com 10 golos, o último deles aos 90+7’ da final, que selou a vitória por 3-1 da equipa de Artur Jorge. Foi um destino improvável para o jogador que nunca se formou em qualquer clube e que, há 10 anos, nem tinha a intenção de fazer carreira no futebol.

Nascido na pequena terra de Conceição Jacuípe, na Bahia, mudou-se para a capital do estado, Salvador, aos 20 anos, apenas para ganhar a vida. Depois de ser empregado de mesa, arranjou um trabalho como pedreiro e jogava aos fins de semana, como lazer. No entanto, começou a fazer nome em equipas amadoras e a ser pago pelas exibições.

«No amador cheguei a tirar três mil reais por mês, até abandonei a carreira de ajudante de pedreiro, não queria mais bater massa não», contou ao Globo Esporte. O passo seguinte foi apostar numa carreira profissional e para isso, mudou-se para o Osvaldo Cruz, da 4.ª divisão do Campeonato Paulista, onde uma chamada com o pai lhe mudou a vida.

Momento em que Júnior Santos faz o golo na final da Libertadores (IMAGO)

«Eu pensei em desistir, as coisas estavam bem difíceis, os meus dois filhos estavam na Bahia e eu tinha de mandar dinheiro, mas não conseguia. Liguei para o meu pai um dia e disse que ia parar. Para quem é do interior, São Paulo e Rio de Janeiro é um mundo, você nunca imaginou sair da roça e vir para cidade grande. Meu pai disse que se eu voltasse era para nunca mais falar com ele. Eu fiquei e deu tudo certo.»

Depois de continuar a impressionar, conheceu o seu atual empresário, Edivaldo Ferraz, que lhe arranjou um teste no Ituano, que estava na 4.ª divisão brasileira. Lá ficou e o resto, é história. Foi galgando escalões atuando pelo Ponte Preta e pelo Fortaleza e depois de uma passagem pelo Japão, ingressou no Botafogo, onde se tornou numa das figuras da equipa com Luís Castro e, agora, com Artur Jorge – esta época já fez 20 golos em 48 encontros.

Este antigo pedreiro já tem a medalha de vencedor da Libertadores, à qual agora quer juntar a do Brasileirão. E fará tudo em memória do pai, cuja morte também recordou nessa entrevista ao Globo Esporte.

«Infelizmente quando eu estava em teste no Ituano meu pai sofreu um AVC e perdeu a memória, ele não chegou a ver meu sucesso, não me viu virando um jogador de futebol. Um ano depois ele acabou falecendo. Eu queria que ele tivesse visto a tornar jogador. Sempre me emociono quando lembro isso porque foi muito difícil. Sou muito feliz independente do sofrimento que passei, isso me tornou mais forte.»

O Botafogo tem agora duas jornadas, frente ao Internacional e ao São Paulo, para garantir o título de campeão brasileiro, nas quais Júnior Santos procurará ser, novamente, decisivo.

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