«Chegar à Seleção A é um dos objetivos que estão no meu top-3», assume Iara Lobo
Iara Lobo não esconde o orgulho por chegar ao gigante catalão e assume que ainda tem outros sonhos. (Foto: Miguel Nunes)

ENTREVISTA A BOLA «Chegar à Seleção A é um dos objetivos que estão no meu top-3», assume Iara Lobo

NACIONAL22.08.202409:30

Tem apenas 16 anos, mas foi totalista no último Europeu de sub-17; vestir a camisola da principal equipa das Quinas está, naturalmente, nos seus horizontes; mas há mais: a conquista de uma Bola de Ouro não é utopia, é mesmo um desejo concreto; as referências que tem no seio das craques nacionais e o que projeta para o futebol feminino português

Além do percurso no Sporting, há também um trajeto em várias seleções jovens de Portugal. Recentemente, por exemplo, a Iara fez parte da seleção de sub-17 que esteve presente no Campeonato da Europa, sendo que, mesmo num escalão acima da sua idade, conseguiu o feito de concluir a prova como totalista pela equipa das Quinas. A isto chama-se sair feliz de um Campeonato da Europa, certo?

Sim, feliz, mas não o suficiente. O nosso objetivo era chegar ao Mundial e, como tal, não saio satisfeita com o nosso resultado. Sabendo que poderíamos ter feito mais e que Portugal pode sempre fazer mais, não saio completamente satisfeita. Apesar de, como é óbvio, ter ficado feliz por poder representar Portugal e ter tido a possibilidade de jogar todos os minutos. Relativamente ao facto de ter jogado no escalão acima, eu não olho a isso, muito sinceramente. Estou naquele escalão porque acham que eu devia estar lá. Não importa a idade.

Chegar à Seleção A é um dos grandes sonhos da sua carreira?

Sim, chegar à Seleção A é um dos objetivos que estão no meu top-3 e que eu quero concretizar. Espero concretizá-lo e acho que vou conseguir. Mas também sei que é algo que demora o seu tempo, porque as coisas têm de ir com calma, mas acho que, neste momento, estou no caminho certo. Assim como também acho que deve trabalhar-se mais nas camadas jovens, não subir assim de rajada.

No Sporting, e apesar de ter jogado maioritariamente na equipa B, também conviveu com as jogadoras da equipa principal que são também internacionais portuguesas. Foi privando com elas? Deram-lhe conselhos para a sua evolução?

Claro! Todos os dias. Treinar com a Cláudia Neto não é igual a treinar com qualquer uma. A Cláudia Neto já esteve na Champions, já ganhou a Champions… A Ana Borges, que já foi a um Mundial… São pessoas muito cultas, que sabem muito sobre futebol, e treinar ao lado delas dá-me muito mais conhecimentos do que treinando ao lado de jogadoras da minha idade. Elas são um exemplo e espero que no futuro consiga alcançar ainda mais do que elas. Esse é um dos meus objetivos.

A Iara alinha, preferencialmente, como lateral ou ala direito. Como é que se define enquanto jogadora? Não só do ponto de vista tático, no que concerne ao posto específico que ocupe, mas também ao nível das dinâmicas dentro do próprio jogo?

Considero-me uma jogadora extremamente agressiva dentro de campo. Eu não desisto de nenhum lance. Até podem passar por mim, mas eu vou atrás para recuperar a bola. Para mim, nunca nada é suficiente. Tenho sempre de fazer melhor e acho que essa é uma das minhas principais caraterísticas.

Devido à sua tenra idade, esta nova etapa na sua carreira também não deveria ser possível se não tivesse um bom suporte familiar…

Claro que não. Eu estava a viver com os meus avós, pois mudei-me para Lisboa com 11 anos, mas a minha mãe veio mais tarde e todos eles me acompanham para todo o lado e para todos os jogos. Aliás, quando não podiam ir a algum jogo até me pediam desculpa [risos]. Estão sempre lá para tudo e claro que em Barcelona vai ser mais difícil, porque não vou poder chegar a casa e ter o apoio deles. Mas penso que isso ainda me vai ajudar a crescer mais.

Craque portuguesa ladeada pela empresária e pela mãe. (Foto: D. R.)

E como é que vai ser controlar as saudades de casa e a ausência do mimo que é normal nessa idade?

[risos] Espanha não é assim tão longe de Portugal. Mas, muito sinceramente, ainda não pensei muito nisso [risos].

Voltando ao capítulo desportivo, o que é lhe passa pela cabeça em termos individuais para o futuro?

O universo do Barcelona é completamente diferente do que é o do Sporting, são clubes, ligas e realidades totalmente diferentes, mas, individualmente, o meu objetivo é claro e passa por chegar à equipa A. Muitas pessoas podem pensar que é irrealista, mas, para mim, não é. É mesmo um objetivo. Chegar à equipa A e ser titular. Mas, neste momento, o meu objetivo é ser titular na equipa B. Eu sei que sou capaz e estou confiante.

No Barcelona, e dentro dessa realidade do clube, terá a oportunidade de privar com outra portuguesa, caso da Kika Nazareth. Acha que será bom para si partilhar momentos com ela?

Eu já conhecia a Kika, de vê-la jogar. É uma referência em Portugal e ter uma portuguesa lá será um grande apoio. Acho que poderemos ajudar-nos uma à outra e vai ser bom.

Quais são as suas grandes referências no futebol nacional e internacional?

Uma é a Carole Costa, que foi minha treinadora nas sub-13 e que depois saiu do Sporting para ir para o Benfica. Ela sempre me transmitiu muita confiança. E a posição dela também é uma nas quais eu jogo e por tudo isso admiro-a muito. Também tenho como referência a Ana Borges e a Cláudia Neto, que são dois verdadeiros exemplos para mim e sempre que eu ia lá elas tentavam ajudar-nos e acolher na equipa. A outra jogadora que também me diz muito e que eu já conhecia era a Diana Silva, outra referência que tenho.

Invertamos a lógica. Como é que tudo começou no futebol?

Eu falava com a minha mãe e dizia-lhe que queria ir para o futebol. Nessa altura, jogava com os meus primos e houve um dia que a minha mãe me perguntou se eu queria ir jogar com os meus primos ou com o meu melhor amigo, no Imortal ou nas Ferreiras, no Algarve. Eu respondi que queria ir jogar nas Ferreiras. Os primeiros anos não foram fáceis. Eu dava-me super bem com os meus colegas de equipa [eram equipas mistas], mas não foi fácil porque o mister também não ajudou, não me convocava e dizia que eu devia ir brincar com bonecas. Mais tarde apanhei outro mister, que me disse que era possível e que eu conseguia. Quando eu saí das Ferreiras, aos 11 anos, ele até me deu uma camisola e disse-me que quando eu fosse famosa e jogasse num grande clube que teria de assinar a camisola e devolver-lhe. Ele chama-se Carlos Mateus.

E já assinou essa camisola para lhe devolver?

[risos] Ainda não. Mas vou cumprir essa promessa.

Craque lusa sempre muito sorridente durante a entrevista a A BOLA. (Foto: Miguel Nunes)

Esse início no Ferreiras também foi muito importante…

Sim. Quando eu cheguei ao Sporting não tinha noção do que era futebol. No Algarve jogava por jogar. E era muito bruta. Tanto que era conhecida por trator [risos]. O Sporting ensinou-me o que é jogar futebol, as táticas, os posicionamentos.

«O meu objetivo é ganhar a Bola de Ouro»

Sonha ser campeã nacional, campeã da Europa, campeã do Mundo? Quais são os sonhos escondidos?

O meu objetivo é ganhar a Bola de Ouro. Ou pelo menos chegar lá, a uma das melhores classificadas para a Bola de Ouro. Sei que não é muito comum para uma defesa, mas é um objetivo que tenho. E quero fazer isso para mostrar também às outras defesas que uma defesa também pode ser uma das melhores do mundo.

E se época após época esse objetivo não for concretizado, conseguirá saber lidar com isso sem deixar ir-se abaixo?

Terei sempre o ano seguinte para o conseguir. E é assim que vou pensar, ou seja, falta alguma coisa para eu poder ganhar. Ou que ainda não estava na hora.

 A Seleção Nacional está numa fase em que chega às grandes competições. Quando a Iara chegar à Seleção Nacional, talvez possa ser a altura em que os títulos não sejam apenas uma miragem. Sonha com isso?

Iara quer continuar a elevar bem alto a Bandeira de Portugal. (Foto: D. R.)

As gerações de Portugal que estão para vir são incríveis. Desde as sub-11 às sub-19 temos gerações muito boas. Eu vou ver jogos das sub-11 e penso que na idade delas não sabia fazer metade das coisas que elas fazem. A Seleção Nacional A já demonstra o quanto a evolução do futebol feminino em Portugal está a ser rápida. Mas nós não podemos pensar só em empatar com os Estados Unidos, por exemplo. Nós temos de pensar em ganhar aos Estados Unidos. Claro que estamos a falar do país de onde veio o futebol feminino, praticamente, mas temos de ter esse tipo de pensamento.

Entrevista a Iara Lobo foi realizada nos estúdios de A BOLA TV. (Foto: Miguel Nunes)

O nível que Portugal já alcançou faz com que as jogadoras que lá ambicionem chegar tenham de preparar-se ainda melhor…

O número de jogadoras tem aumentado bastante, especialmente devido ao apuramento para o último Mundial, algo que deu ainda mais visibilidade ao futebol feminino em Portugal. Acho que o crescimento tem sido, de facto, incrível e que o objetivo das jogadoras é chegarem à Seleção Nacional A. Para isso, sim, terão de preparar-se cada vez mais e melhor.