Juventus ‘Carta Ronaldo’ espicaça audiência preliminar do ‘Caso Prisma’
Uma conversa entre três antigos responsáveis da Juventus – Paolo Morganti, Federico Cherubini e Cesare Gabasio -, onde abordam, em 2018, o esquema de manter Cristiano Ronaldo no clube, eventualmente ocultando o verdadeiro valor financeiro da operação e alegadamente passível de fraude, será o centro da audiência preliminar, segunda-feira, dia 27 do corrente mês, da Procuradoria de Turim (Itália) do julgamento da ‘Operação Prisma’, que investiga as fraudes contabilísticas cometidas alegadamente pela ‘velha senhora’.
«Cristiano já assinou» e o que a La Gazzetta dello Sport denomina como ‘Carta Ronaldo’ prometeu fazer correr muito mais tinta e polémica no processo, que já custou à Juve a perda de 15 pontos na atual classificação da Serie A na presente temporada. O documento permitiria à Juve manter as principais estrelas mesmo durante a pandemia do Covid-19, sem as receitas de bilheteira, e serviria para convencer outras estrelas da equipa e alegadamente ‘branquear’ as contas na forma de cosmética contabilística – não refletindo a realidade.
Revela esta sexta-feira o diário desportivo de Milão que os procuradores têm na sua posse as mensagens trocadas num ‘chat’ (grupo privado de conversação) pelo trio sobre a forma como iriam segurar, eventualmente com verbas não declaradas ao fisco italiano, o capitão da Seleção Nacional… e de que forma isso se iria refletir nas contas do clube.
Avança a La Gazzetta dello Sport que, nesse ‘chat’, a 20 de abril de 2021, Gabasio, então diretor jurídico do clube, escreveu: «O primeiro pronto a assinar é Cristiano». Uma referência que a acusação pretende usar como prova de que um modelo de documento fraudulento terá sido, depois, apresentado aos restantes ases do plantel, permitindo maquilhar a contabilidade da Juventus e ocultar milhões de euros.
Três dias depois, a 23 de abril de 2021, Paolo Morganti, então secretário desportivo, enviou duas mensagens, a Cesare Gabasio e ao diretor desportivo, Federico Cherubini, a primeira, adiantam, alegadamente às 13h42: «Cristiano assinou». Um minuto depois (13h43 locais, mais uma hora do que em Portugal continental), Morganti sublinha, em nova mensagem aos outros dois responsáveis: «Há uma cópia de todos os documentos».
A ‘conversa’, diz o diário desportivo italiano, ficou selada com um «bene [boa]» como resposta, de Federico Cherubini, às 13h44 locais. Com base nestas provas, suspeita a Procuradoria de Turim que a Juve terá, assim, chegado a acordo com os futebolistas para uma alegada manobra de ocultação e desvio do fisco de rendimentos de muitos milhões de euros.
Um exemplar dessa denominada 'Carta Ronaldo' terá sido apreendido, durante buscas, no escritório da sociedade de advogados Restano, em Turim… mas não assinada. O que faz toda a diferença.
Os representantes legais de Cristiano Ronaldo sempre negaram que CR7 tivesse assinado qualquer documento com o intuito de burlar o fisco italiano.
De acordo com a La Gazzetta dello Sport, conservam os advogados do madeirense «uma cópia desse ‘acordo’», mas que, ao invés de qualquer prática desviante contabilística, seria, segundo a defesa do jogador agora do Al Nassr (Arábia Saudita)… «uma cópia de um acordo respeitante à renuncia a quatro meses de ordenado, sob a promessa de recuperar [as verbas das quais abriu então, alegadamente, mão] nas épocas seguintes».
«Cristiano Ronaldo, porém, ainda não recebeu tudo de quanto teria direito da Juventus, uma verba de 19,9 milhões de euros», revela a La Gazzetta dello Sport. «Por isso, deu indicações aos seus advogados em Itália para andarem com o processo nos meses seguintes», junta o diário desportivo de Milão.
Curiosidade espicaçada: e o que constará, afinal, nessa ‘famigerada’ missiva elaborada para Ronaldo? De acordo com a imprensa italiana, nela constam «três acordos diferentes passados ao papel».
Na primeira, revela a La Gazzetta dello Sport, a Juve compromete-se a liquidar até 31 de julho de 2022 uma verba de prémios; na segunda, e no âmbito desse acordo, pelo designado «prémio integrativo», junta-se ao bónus de desemprenho na época 2021/22 «uma outra verba de bónus pela permanência no clube na época 2022/23»; por fim, a terceira cláusula relevante, integra os dois acordos anteriores e um terceiro, que, diz o jornal desportivo italiano, se compõe de «um bónus previsto até para o caso de [Cristiano] deixar o clube».
Ou seja, CR7 receberia ficava blindado e garantido quanto a um documento legal em seu poder para posteriormente ser ressarcido da verba alegadamente em causa: iria ganhar por ficar… mas também por sair do clube! E foi este último cenário que efetivamente veio a confirmar-se, ao ir para o Manchester United, em agosto desse mesmo 2021.
A audiência com os juízes Marco Picco, Marco Gianoglio e Mario Bendoni - o quarto elemento do coletivo do tribunal, Ciro Santoriello, estará ausente, por questão de imparcialidade, após a revelação pública de um vídeo seu de 2019 com mensagens de ódio em relação à Juventus – promete mais revelações, na segunda-feira, dia 27.
Do ex-presidente, Andresa Agnelli, a Pavel Nedved, Maurizio Arrivabene e Fabio Paratici, um total de 12 arguidos estarão, também, presentes, para rebater as acusações de fraude fiscal, falsas declarações e ‘cosmética contabilística’ para ocultar milhões nas contas da Juventus de Turim.