China Campeão inédito e da cidade onde surgiu a Covid-19
Uma vitória averbada por 3-0 – mas resultado ‘standard’ aplicado por falta de comparência do opositor – no que deveria ter sido a receção ao Tianjin Jinmen Tiger, no encontro da 34.ª e última jornada da Superliga, valeu ao Wuhan Three Towns, clube fundado apenas em 2013 na cidade onde, em novembro de 2019, surgiu o primeiro caso de positivo a um estranho coronavírus, depois nomeado Covid-19 -, o inédito título de campeão nacional da China de 2022 logo na sua época de estreia na elite do futebol do ‘tigre’ do continente e confere-lhe o direito a disputar a Champions asiática no corrente ano de 2023.
Para um clube fundado há apenas nove anos e com o intuito, então, apenas de formação e moldar jovens atletas, importa referir que o Wuhan ‘Três Cidades’ (tradução de ‘Three Towns’) conquistou, desde 2020, títulos consecutivos… nas três principais divisões do futebol da China. E que as restrições em vigor a maior parte do ano de 2022, pelo recrudescer na pandemia no país, também tornaram a competição atípica, com adiamentos, cancelamentos, jogadores de fora à última hora com teste positivo ao coronavírus.
A emoção reinou até sábado e à 34.ª jornada, com o Wuhan Three Towns a terminar o campeonato com 78 pontos em 34 jogos, fruto de 25 vitórias, três empates e seis derrotas. Mas o Shandong Taishan, com o brasileiro Moisés e Marouane Fellaini no plantel, também acabou a prova com os mesmos 78 pontos.
Foi necessário recorrer ao saldo de golos – critério primeiro de desempate – para prevalecer a equipa de Wuhan como campeã: os 91 golos marcados e 28 consentidos na Superliga – saldo positivo de 63 golos – foram decisivos para erguerem o ‘caneco’, face aos 87 golos marcados e 29 sofridos (saldo favorável de 58 golos). Menos… cinco golos do que o saldo do Wuhan Three Towns, assim consagrado campeão.
A equipa orientada pelo espanhol Pedro Morilla, de 49 anos – que passou pelas filiais do Bétis de Sevilha e do Granada, no seu país -, contou com o romeno Nicolae Stanciu, de 29 anos, e um quarteto de brasileiros – o defesa Wallace, o médio Davidson e os avançados Marcão e Ademilson – entre o contingente de profissionais chineses para a inédita conquista.
Inicialmente virado para a formação, só em 2018 o paradigma do Wuhan Three Towns mudou por completo: vencer e títulos passou a ser a filosofia. Sagraram-se campeões da terceira divisão em 2020, da segunda divisão em 2021 e, no último dia de 2022, conseguiram o inédito título de campeão da China!
As muitas vitórias averbadas por falta de comparência dos adversários, devido a surtos de Covid-19 nos plantéis dos rivais, e a redução drástica do investimento em clubes de futebol na China, também explicam muito da incrível proeza do Wuhan Threen Towns.
Realce para o declínio a pique do Guangzhou FC (antigo Guangzhou Evergrande, até 2021), oito vezes campeão desde 2011, que acabou por descer à segunda divisão, após a retirada da empresa, com a despromoção matematicamente confirmada logo após a 33.ª jornada, a 27 de dezembro de 2022, após derrota com o Changchun Yatai (1-4). Somaram 17 pontos em 34 jornadas, e terminaram penúltimos.
Outras equipas de poderio tradicional na China, como o Shanghai Shenhua e o Hebei foram alvo de duras coimas por atrasos e falhas na liquidação de vencimentos: o Hebei foi mesmo despromovido administrativamente, e irá começar a época no segundo escalão com pontos negativos
O Wuhan Three Towns foi consistente e aguentou a pressão, ou não tivesse liderado a classificação em 32 das 34 jornadas. Mas as numerosas ‘faltas de comparência’ dos adversários maculam, de alguma forma, as conquistas no campo: também o Shandong Taishan não jogou e venceu por falta de comparência (e 3-0) o encontro da 34.ª e última jornada, ante o Beijing Guoan. Ou seja, foi tudo decidido sem jogar.
A edilidade de Wuhan felicitou os insólitos e inéditos campeões nacionais. «Exibiram bem os traços heróicos da cidade heróica e do povo heróico», escreveram no boletim municipal.
Para a história, fica a revelação de Marcão como a estrela da equipa: o ‘gigante’ (1,96 m) avançado formado no Ituano (Brasil) apontou 27 dos 91 golos do Wuhan Three Towns, e sagrou-se o melhor marcador não só da equipa, mas da Superliga.
Marcão suplantou os compatriotas e companheiros de equipa Davidson (ex-Porto de Caruaru, e que militava no Alanyaspor, da Turquia) – assinou 18 golos e ainda protagonizou mais 13 assistências – e Ademilson.
Este último, de 28 anos, ex-São Paulo e Gamba Osaka (Japão) chegou ao clube em 2021 e nesta campanha do título contribuiu com 11 golos. Ou seja, 56 dos 91 golos contabilizados - muitos deles ‘na secretaria’, fruto das vitórias por 3-0 das ‘faltas de comparência’ dos rivais – foram do trio brasileiro.
Também Stanciu (ex-Slávia de Praga, Rep. Checa) sobressaiu num plantel onde, à exceção dos quatro brasileiros e dele próprio, a ‘matéria-prima’ era local: o médio internacional romeno marcou uma dezena de golos e ainda assistiu os companheiros numa dúzia de ocasiões.
O outro brasileiro do grupo, Wallace (ex-Mónaco e Lazio) deu segurança defensiva e Pengfei Xie foi o médio nacional mais em destaque, tendo sido o único a sagrar-se bicampeão: ganhara a Superliga em 2020, então a militar no Jiangsu Suning.
Conquista a dobrar para a martirizada cidade de Wuhan, alvo de prolongados períodos de isolamento por parte das autoridades chinesas desde 2022 para tentar conter o surto e pandemia do coronavírus: é que o Wuhan Changjiang University, outro clube da cidade, conquistou o campeonato nacional feminino.
Os dois troféus moram numa Wuhan que, ainda com a pandemia a grassar, não tem, todavia, e como assinala neste primeiro dia de 2023 a imprensa brasileira (Trivela.Com.Br), sem razões ou sequer poder celebrar por aí e além, devido às preocupações com a saúde.