Cabala, Gyokeres e fome de títulos: tudo o que disse Rúben Amorim
Treinador do Sporting não desarma: queremos muito ganhar a Taça de Portugal; na antevisão do jogo com o UD Leiria deixou elogios ao adversário
- Ainda sobre o que se passou em Famalicão, a não realização do jogo, que impacto é que isso teve na equipa e como geriu a situação?
- Já muito se falou. O importante é perceber que queríamos muito jogar. Atrasou-se a hora do jogo, houve reunião atrás de reunião, devido ao problema da falta de segurança para o jogo. No dia a seguir, foi dito que não era possível, por isso, agora, tem de se arranjar uma data para termos o jogo. O que mudou foi o planeamento. Fizemos uma preparação para um jogo que não houve, voltámos e tivemos de acertar a programação. Assim que entrámos no autocarro focámo-nos logo na Taça de Portugal. Temos de voltar às meias-finais, é muito importante para nós, é um objetivo da época. É um jogo sempre perigoso, onde temos tudo a perder. O que temos a ganhar é passar a eliminatória, que é o que vamos tentar fazer.
- A nível psicológico estar na frente do campeonato é sempre bom, com um jogo a menos, o Sporting agora está atrás do líder, o que muda?
- Não muda nada, depende da perspetiva. Vou falar de mim. Na minha cabeça estamos a dois pontos do primeiro classificado. Queremos manter a posição e melhorar. É como se o jogo não tivesse existido e, depois, lidaremos jogo a jogo, fazendo as contas no fim. Não muda nada. Não tivemos jogo, queríamos jogar e vai complicar um bocadinho o planeamento, mas faremos os mesmos jogos do que os adversários. Preparámos a Taça de Portugal, e é nesse jogo que estamos focados.
- Voltando a Famalicão. Há imagem em que se vê você e o presidente Frederico Varandas a gesticular, era porque queriam jogar no dia seguinte?
- Aquilo devia ser uma zona privada, mas toda a gente tem acesso e apareceu essa imagem. Simplesmente a única coisa que viram é que queríamos saber se o jogo ia atrasar, se poderíamos jogar no dia seguinte. Nós, o Sporting, dissemos 'Queremos jogar, estamos num bom momento, não temos calendário e queremos ganhar os nossos jogos'. Naquela fase eu precisava de saber se iria haver jogo ou não, porque os meus jogadores já estavam a falar com outras pessoas. Já havia jogadores de Sporting e Famalicão a falar de tudo e mais alguma coisa. Queria juntar os meus jogadores, acabar com a brincadeira e ir a jogo. Foi isso que foi decidido nas reuniões onde não estive. Queríamos sempre jogar, fosse de manhã, à tarde ou no dia a seguir, porque não temos calendário, queremos ganhar os nossos jogos e estamos num bom momento.
- E não era possível jogar no dia seguinte?
- O clube dirá qualquer coisa sobre isso. O importante é que se perceba que estávamos dispostos a jogar. Éramos os mais interessados em haver jogo, por todas as razões.
- Houve muitos adeptos a comentar a situação nas redes sociais, destacando o facto de apenas o jogo do Sporting não se ter realizado na Liga e até se falou em cabala.
- O meu foco é passar à frente. Não houve jogo, não sei quanto vai ser, espero que seja bem mais para a frente, mas é normal que as pessoas pensem nisso por ter sido o único, mas eu não penso assim. Acho bem que os polícias lutem pelos seus direitos, mas as pessoas olham muito para isso e isso causa estranheza. Foi o primeiro jogo e depois prepararam-se os seguintes, precaveram-se. Mas ali, Sporting, Famalicão e Liga quiseram jogar. Não aconteceu, vai acontecer mais para a frente. Não vai haver nenhum problema.
- Voltando ao assunto da sua possível saída, falou que se não ganhasse sairia pelo próprio pé. Mas há uma cláusula.
- Percebo a pergunta e que algumas pessoas estejam na dúvida, mas não vou dizer nada sobre a saída ou não. Sou treinador do Sporting, estou muito feliz aqui. Não quero estar a aprofundar.
- Recentemente Klopp anunciou que ia fazer uma pausa, devido à pressão e falta de tempo com a família, De Bruyne também disse que ainda bem que se tinha lesionado para parar. Você tem tempo para desfrutar?
- Consigo desfrutar e desligar. Este ano, é um bocadinho mais difícil desfrutar. Queremos muito ganhar, e, depois, é mais difícil desligar. É difícil ter uma horinha em que não se pense de futebol, mas eu consigo manter-me saudável, porque desligo do futebol. Não leio o que escrevem, que, certamente, é muito bom. Se ler, vou ligar, vou ficar zangado, vou ficar contente, vou pensar que sou melhor do que sou, vou pensar que sou pior do que sou... Tento-me abstrair para conseguir lidar com o dia a dia. Pessoalmente, consigo desligar, porque, quando saio daqui, tento ter momentos com a família. Desfruto da vida, mesmo sendo treinador de uma equipa grande.
- Qual o estado com que Morita se apresentou depois de ter estado ao serviço da Seleção do Japão?
- Chegou bem. Fomos ver os dados dele. Os jogos foram menos intensos do que o normal, pelo que teremos de o fazer recuperar o ritmo, mas como jogou, está preparado. Vai ser convocado de certeza, vamos ver se joga.
- Há contacto com os representantes de Gyokeres no sentido de negociar uma possível renovação?
- Ele tem contrato de cinco anos. Falei com o [Hugo] Viana para salvaguardar essa pergunta. Não há reunião nenhuma para renovar com um jogador que está no primeiro ano de contrato e tem cinco anos. Não estamos a falar com os agentes do Viktor [Gyokeres].
- Já disse que as contas fazem-se no fim: receia que tenha peso jogar este jogo mais tarde?
- Depende de nós. Temos de ganhar os jogos todos, é sempre a ideia. Depende da forma como olhamos, não só para esses problemas, como para a vida. Na minha cabeça, temos menos dois pontos do que o primeiro, mais quatro do que o terceiro e mais nove do que o quarto. Temos é de recuperar o primeiro lugar. Este jogo, para mim, é como se não existisse, mas vai aparecer. Na minha cabeça, queremos ganhar o campeonato e temos dois pontos de atraso. Na minha cabeça, torna-se uma vantagem, porque queremos ir atrás do primeiro lugar, mesmo com um jogo a menos. Não há problema.
- Não tendo havido jogo a equipa teve mais tempo para descansar?
- Vejo o copo meio vazio. Deixa-me desconfortável. Tivemos dois treinos de cargas muito baixas, domingo treinámos mais forte… Precisavam de ter jogado no sábado. Não precisávamos do descanso porque ainda não entrámos numa sequência louca de jogos. Se tivermos de aumentar a nossa intensidade e voltar ao mesmo ritmo, não há problema.
- Qual o ponto de situação de St. Juste?
- A previsão é de que dentro de dias volte a treinar connosco. Está para breve.
- Falou com Diomande para perceber o porquê de não estar a ser opção na seleção da Costa do Marfim?
- Assim que ficou na bancada ou no banco, falámos logo com ele e é mesmo só opção. É uma preocupação grande, não está a jogar e, quando voltar, vai entrar num ritmo com jogos de três em três dias. Não vai ter problemas em termos de lesões, mas vai sentir o ritmo. Vai sofrer mais do que o habitual, claro que estamos preocupados, mas estaria mais se fosse o Morita. Ele sim, sente mais dores. Sofrerá em caixa e concentração, mas vai estar preparado numa semana.
- O que espera do UD Leiria, uma equipa de divisão inferior?
- Jogam num sistema parecido com o nosso. Gosto muito do treinador [Vasco Botelho da Costa], tem ideias muito interessantes. O Jair é o jogador mais influente, o Van der Gaag é um jogador com talento, os três centrais são muito bons na bola parada, temos de manter um ritmo alto. Mostrámos tudo o que fazem e temos horas de trabalho a jogar com este sistema e, nesse aspeto, sou sincero, tenho vantagem porque os meus jogadores são melhores. Temos de meter uma velocidade cima, a responsabilidade é toda nossa, queremos muito ganhar e estar nas meias-finais.