Bryan Ruiz fala pela primeira vez do lance que decidiu a Liga em 2015/2016

ENTREVISTA A BOLA Bryan Ruiz fala pela primeira vez do lance que decidiu a Liga em 2015/2016

NACIONAL05.04.202400:30

Em véspera de um dérbi decisivo, A BOLA falou com o costa-riquenho que, pela primeira vez na carreira (que terminou no ano passado), falou de um momento que o marcou. Poucos se recordam dos seus 18 golos e 21 assistências em Alvalade, mas sim aquele dérbi, em 2015/2016, no qual o Sporting perdeu, por 0-1, e o avançado, a um metro da baliza, atirou por cima. A angústia e apoio recebido após esse lance, uma saída que não queria e a esperança de que a história, amanhã, seja diferente…

— Terminou recentemente uma carreira de 20 anos muito intensa, com apenas sete clubes no currículo e histórias por contar. Aos 38 anos regressaria já amanhã?

— Sim… a minha carreira terminou há pouco mais de um ano e não vou dizer que não sinto saudades, pois estaria a mentir. Mas estou tranquilo, pois foi uma decisão ponderada. Não é por falta de vontade, mas sobretudo pelo meu joelho e as minhas costas. Já na parte final era complicado. Sentia muitas dores. Sinto saudades, sim, mas estou tranquilo pois foi a decisão acertada. Voltar a jogar nunca foi algo que tivesse passado pela minha cabeça.

— O fim deu-se no Alajuelense, na Costa Rica, onde tudo começou e onde se encontra atualmente. Tinha de ser assim?

— Vou ser sincero: não estava assim pensado. Sinceramente nunca pensei que fosse algo que iria acontecer, ou seja, voltar a jogar na Costa Rica. Mas depois da situação que passei no Santos, no Brasil, em que estive um ano quase sem jogar, aliada à situação da pandemia… foi uma opção que eu e a minha esposa entendemos ser a melhor. Estar perto da família, com aquilo que o mundo estava a passar, ficar lá dois anos com a possibilidade de jogar o Mundial do Catar. Tudo pesou. Fiquei feliz com essa decisão.

— Assim que jogou o último minuto, aquele apito final, olhou para trás e sentiu que teria ficado alguma coisa por fazer?

— Sinceramente estou muito tranquilo com o meu percurso. Quando era menino lembro-me de que o meu sonho maior era jogar na primeira divisão da Costa Rica. Isso estava no topo de tudo! E agora, olhando para trás, fiz muito mais do que os meus sonhos. Fico feliz. Mas faltou outras coisas… por exemplo: jogar em Espanha, o que acabou por não acontecer por diversas razões. E não ter a possibilidade de jogar contra o Messi. São duas coisas que posso dizer que ficaram por fazer. Isso e ganhar mais títulos. Como todos os jogadores.

— No Alajuelense somou 182 jogos. O segundo clube da lista é o Sporting (121). Foi uma passagem que guarda num cantinho especial?

— Claro que o Alajuelense leva um carimbo especial na carreira, foi onde tudo começou e acabou, mas todas as equipas onde joguei guardo memórias que ficarão para a vida. O Sporting é uma equipa que levo no coração. Vivi coisas muito bonitas em Lisboa e foi um período marcante. É um clube especial, tenho muitos amigos lá, os meus dois filhos nasceram em Lisboa, por tudo isto, definitivamente, foi marcante.

Não hesitei no Sporting assim que falaram comigo. E ainda bem que chegámos a acordo, pois jogar no Sporting foi uma das melhores decisões da carreira. Depois do Mundial-2014 era importante dar um passo firme. E o Sporting ofereceu-me isso com um estilo de jogo que para mim funcionava muito bem. Foi fantástico

Bryan Ruiz fala com saudade dos tempos em que brilhou com a camisola dos leões (MIGUEL NUNES)

«Sporting foi uma das melhores decisões da carreira»

— Chega ao Sporting em 2015/2016 após uma excelente época em Inglaterra no Fulham...

— Depois do Fulham, assim que terminou o contrato, o meu agente começou a avaliar as possibilidades para prosseguir a carreira. E chegou o Sporting que era uma equipa muito interessante. Não hesitei no Sporting assim que falaram comigo. E ainda bem que chegámos a acordo, pois jogar no Sporting foi uma das melhores decisões da carreira. Depois do Mundial-2014 era importante dar um passo firme. E o Sporting ofereceu-me isso com um estilo de jogo que para mim funcionava muito bem. Foi fantástico.

— Na época de estreia… 13 golos, 14 assistências, a época mais produtiva de toda a carreira. O ponto alto?

— Sim… essa primeira época no Sporting foi incrível. Fizemos um campeonato impressionante, mas, infelizmente, não conseguimos fechar com o título. Mas, pessoalmente, foi muito produtiva. A única coisa que faltou foi o título e tive aquele momento difícil, um jogo complicado contra o Benfica… que por certo falaremos mais à frente...

Bryan Ruiz recorda alguns dos dérbis mais marcantes com a camisola dos leões (MIGUEL NUNES)

— Podemos ir já para aí… O Bryan Ruiz fez muitos dérbis, mas existe um que ficou marcado, a derrota que deu o título ao rival. Aquele lance aos 71’ que acabou por falhar a pouco mais de um metro da baliza… É algo com que ainda tem pesadelos?

— Bem, os jogos contra o Benfica sempre foram especiais. Diferentes de todos os outros. Contra o Benfica tive grandes momentos como a vitória na Supertaça, aquela no Estádio da Luz por três golos… mas claro que o jogo que me marcou muito foi aquele que perdemos 0-1 em Alvalade na reta final da luta pelo título. Foi um jogo onde tive uma falha muito grande. Porque nos manteria na liderança da Liga.

— E sobre aquele lance…

— É uma situação que como se diz habitualmente… acontece uma vez em 100. Já vi Cristiano Ronaldo ou Messi falhar este tipo de lances. Também falham. Todos podem ter um momento daqueles. Mas a situação piorou e foi mais falada porque significou a passagem do Benfica para a liderança. Vencemos os oito jogos seguintes, tal como Benfica. E as pessoas falam e apontam esse momento como aquele que definiu o campeonato. Mas acho que foi um lance que todos os jogadores, ao longo da sua carreira, acabam por viver. Infelizmente, para mim, o Benfica passou para a frente aí e decidiu a Liga. Acho que fizemos tudo para ganhar o campeonato. Mas foi um lance que me marcou, foi difícil, porque sei que muitas pessoas no Sporting gostam de mim, mas muitas outras recordam mais esse falhanço do que os golos, assistências ou jogadas que fiz no Sporting. Mas faz parte do futebol. Mesmo assim, sinto enorme carinho dos sportinguistas e fizemos uma temporada muito boa esse ano.

Recorde aqui o lance:

— Recebeu muito apoio?

— Sim… recebi muito apoio. E se tiver a oportunidade de ver, no que restou dessa época, ainda fiz muitos golos depois desse momento. Infelizmente não chegou para apagar essa falha e sermos campeões. Foi um momento complicado, mas consegui ultrapassar, pois recebi o apoio e ajuda de muitas pessoas dentro e fora do Sporting.

«Dérbi decide campeão»

— Antes deste dérbi decisivo na Liga, o Sporting recebe o rival depois de um primeiro ‘round’ em que acabou por empatar, mas seguiu em frente para a final da Taça. É um tónico importante?

— Este último dérbi foi muito positivo para o Sporting porque demonstrou ao adversário que, em jogos importantes, onde tem de conseguir um resultado positivo, a equipa consegue... É sempre difícil jogar na Luz, mas o Sporting conseguiu demonstrar em casa do rival que consegue segurar resultados quando é preciso. Mostrou uma posição de força. E agora, tal como na Taça, o Benfica tem mesmo de ganhar. Não tem outro resultado. Se não ganha fica com o ano perdido. Espero que o Sporting consiga um resultado positivo para agarrar este título.

O campeonato está numa fase decisiva e acredito que este jogo vai determinar e marcar muito o caminho da equipa que será campeã. Acho que sim. O Sporting está na frente, tem essa vantagem, e este jogo acredito que definirá o próximo campeão.

Bryan Ruiz deu a primeira entrevista desde que colocou um ponto final na carreira (IMAGO)

— E agora? Este segundo dérbi… Até que ponto pode ser determinante para o título?

— Bem… o campeonato está numa fase decisiva e acredito que este jogo vai determinar e marcar muito o caminho da equipa que será campeã. Acho que sim. O Sporting está na frente, tem essa vantagem, e este jogo acredito que definirá o próximo campeão.

— Continua a acompanhar e a vibrar com o Sporting?

— Sim, claro que acompanho. Não digo que vejo os jogos todos, mas estou sempre atento e vejo os resultados, todos os highlights. Tenho ainda muitos amigos em Alvalade, um em especial, o Coates, e fico muito feliz pelo que tem feito. Deu a volta por cima, ganhou títulos, é um enorme capitão e estas coisas eu acompanho. E tenho amigos sportinguistas que mandam fotos, vídeos, o estádio a vibrar…

— Quem o impressiona mais neste atual Sporting?

— O Sporting tem jogadores muito interessantes. Gyokeres tem sido muito importante, porque é um jogador com muito golo. É impressionante. Muito físico, corre a todas as bolas, Pedro Gonçalves é um jogador de enorme qualidade, tem golo e assistências e isso dá-lhe uma notoriedade ainda maior. São os que mais me impressionam.

Bryan Ruiz, que se encontra na Costa Rica, vai acompanhar atentamente o dérbi (MIGUEL NUNES)

— Tem vindo a Portugal com frequência? Gostaria de regressar para festejar o titulo?

— Adoramos Portugal. Os meus dois filhos nasceram em Lisboa e estão loucos por conhecer onde nasceram [risos]. Temos pensado em voltar em breve. Estivemos no ano passado três dias em Lisboa e fiquei em casa de Coates. Estamos arrependidos de não termos comprado casa em Lisboa [risos]. Esperamos voltar ao estádio, assistir a um jogo, mas agora é esperar que Sporting possa ser campeão! Gostava de festejar com eles e aproveitar esta conversa para deixar uma mensagem e um forte abraço para todos.