Benfica: o dia em que Rui Costa perdeu o controlo… a festejar
Último duelo do Benfica com austríacos foi especial para o atual presidente dos encarnados; voltou a jogar na Luz e abriu caminho à qualificação para a Champions
Tinham passado 12 anos e 105 dias desde a última vez que Rui Costa vestira pela última vez a camisola do Benfica na Luz em jogos oficiais. O filho pródigo regressava a casa e, pela frente, tinha uma equipa austríaca, derradeiro obstáculo para os encarnados entrarem na fase de grupos da Liga dos Campeões. Em Viena, as águias empataram a um golo, em Lisboa ganharam, categoricamente, por 3-0. Rui Costa abriu o caminho da vitória, com um grande golo. Mas fez muito mais.
A época 2006/2007, que assinalou o regresso de Rui Costa ao Benfica, do qual tinha saído no verão de 1994, depois de ter sido campeão, começou, então, com o embate contra os austríacos. O empate a um golo na primeira mão suscitou algumas dúvidas, desfeitas com vitória gorda na Luz. Fernando Santos, treinador das águias, fez alinhar o seguinte onze: Quim; Nélson, Luisão, Anderson e Ricardo Rocha; Katsouranis e Petit; Manu, Rui Costa e Paulo Jorge; Nuno Gomes.
«O magistral desenho do primeiro golo encarnado foi o momento mais saliente da conquista quase perfeita, com Manu a centrar ao milímetro, Nuno Gomes a amortecer e Rui Costa a aparecer com suavidade para fazer um golo de sonho», lê-se na crónica de A BOLA.
Feliz em casa
Rui Costa esteve em campo até aos 66 minutos, foi substituído, com queixas musculares, por Kikin Fonseca, já com 3-0. Nuno Gomes (45+1) e Petit (56) tinham também marcado. O maestro, no final do jogo, reconheceu que só a entrada em campo lhe provocara «emoção forte». Melhor ainda foi marcar para os seus.
«Foi uma grande emoção marcar este golo, um golo muito importante que ajudou a passar a eliminatória. Sinto-me em casa, sinto-me feliz. E sinto-me ainda mais feliz porque vejo que as pessoas estão felizes porque eu estou aqui. Tudo farei para que seja sempre assim todas as quartas-feiras, todos os domingos», disse Rui Costa.
Nota 8 A BOLA
Pegou no jogo mal ele começou. E com arte e engenho. O cruzamento (8) para Nuno Gomes foi o primeiro sinal mais de uma exibição de encher o olho. Depois veio o golo (20) num remate de fora da área, violento, rasteiro, e só se viu a bola lá dentro, colada às malhas. Estava dado o mote para a vitória e dos pés de Rui Costa não cessaram de sair passes a rasgar a defesa austríaca, toques preciosos a isolar companheiros, enfim, um manancial de futebol que deu gosto ver. O público retribui-lhe a exibição com uma grande ovação.
Depois de marcar o golo, agarrou na camisola, agitou-a numa excitação espontânea, correu ainda alguns segundos sozinho, com os braços abertos, até ser agarrado por Katsouranis, Anderson, Ricardo Rocha e Petit, que o abraçou mais tempo. Os 58 mil nas bancadas adoravam o que viam.
«Não sendo um goleador, nunca sei bem como festejar. Foi uma grande emoção, emocionei-me muito e quando isso acontece perco sempre um pouco o controlo», partilhou, no comentário ao 19.º golo pelo Benfica, terceiro na nova Luz em jogos oficiais (marcara antes, pela Seleção Nacional, no Euro-2004, contra Rússia e Inglaterra).
Jogadores sem «tomates»
A reação do treinador do Austria Viena, Frenkie Schinkels, deu que falar. «Quando se joga perante 60 mil pessoas, num grande ambiente, contra uma grande equipa, temos de combater e encontrar nisso as nossas forças. Mas não vi nada disso, pelo menos em três ou quatro dos nossos jogadores. Eles não tiveram tomates… Não deram 100 por cento do que podiam e sabiam. E isso é terrível», disparou o Schinkels.
Sem títulos
O Benfica acabou a fase de grupos da Liga dos Campeões de 2006/2007 no terceiro lugar, com duas vitórias, um empate e três derrotas, atrás de Man. United e Celtic, com os mesmo pontos de FC Copenhaga, mas com vantagem que lhe permitiu jogar a Liga Europa, na qual caiu nos quartos de final com o Espanhol. No campeonato, acabou em terceiro lugar. Acabou a época sem títulos.
Boas memórias de austríacos
O duelo desta quarta-feira com o Salzburgo será o nono do Benfica contra equipas austríacas. O saldo é positivo: cinco vitórias e três empates. Com a curiosidade de o Benfica ter encontrado adversários da Áustria quando foi campeão europeu, em 1961 e 1962.
Dezassete anos e 30 dias depois da noite de glória de Rui Costa, os encarnados voltam a receber uma equipa austríaca.
ÉPOCA | COMPETIÇÃO | ADVERSÁRIO | 1.ª MÃO | 1.ª MÃO |
1960/1961 | Taça Campeões (meia-final) | Rapid Viena | 3-0 (c) | 1-1 (f) |
1961/1962 | Taça Campeões (1.ª elim.) | Austria Viena | 1-1 (f) | 5-1 (c) |
1971/1972 | Taça Campeões (1.ª elim.) | Wacker Innsbruck | 4-0 (f) | 3-1 (c) |
2006/2007 | Austria Viena (3.ª pré-elim.) | Austria Viena | 1-1 (f) | 3-0 (c) |