Angel Gomes recorda José Mourinho: «Mostrou que me valorizava como jogador»

Luso-inglês lembrou os tempos em que era treinado pelo português no Man. United e também comentou a saída para o Boavista, onde Vasco Seabra o ajudou a desenvolver-se como futebolista

Angel Gomes, luso-inglês nascido em Londres, completou toda a formação no Manchester United, mas nunca se conseguiu impor na equipa principal, acumulando 10 jogos sem golos ou assistências. Durante pouco mais de dois anos o médio esteve às ordens de José Mourinho, apesar de ser uma altura em que treinava e jogava principalmente pelos sub-23, mas recordou de bom grado esses tempos, mesmo tendo algumas duras.

«Ele achava que eu não tinha jogado à altura [nos sub-23] para merecer um lugar na equipa principal e disse-me logo. Na altura, pensei: ‘Porque é que ele fez aquilo à frente de toda a gente? Não me podia ter puxado para a equipa? Ele só quer uma reação tua, não te deixes perturbar’, mas naquele momento eu não queria ouvir nada. Fui a correr para o meu quarto e telefonei ao meu pai e ao meu irmão. Não havia muito que eles me pudessem dizer. Eu estava quase a chorar. Eu era muito jovem», lembrou, em entrevista ao The Times, antes de revelar que só recentemente é que percebeu o verdadeiro significado das críticas do técnico, que o chegou a estrear na equipa principal, em 2016, altura em que substituiu Rooney no relvado.

«Só depois de ser mais velho é que me apercebi que, com Mourinho, ele está sempre à procura de formas de tirar mais de nós. Acho que o facto de ele ter feito aquilo à frente de toda a gente mostrou que me valorizava como jogador. Se calhar estava a precisar», explicou, comentando, de seguida, a transição de Mourinho para Solskjaer, que queria que ele renovasse contrato antes de o colocar a jogar consistentemente.

«Foi o período mais difícil da minha carreira. Em campo e fora dele, não sabia o que se estava a passar. Falei com Solskjaer. Falei também com os assistentes, porque o Kieran McKenna tinha sido meu treinador nos sub-18. Pareceu-me que eles queriam que eu ficasse e seguisse o fluxo. Queriam que eu fosse emprestado, mas não havia nada definido. Senti que, depois de ter estado lá toda a minha vida na academia, teria havido um plano mais ambicioso para eu progredir. Foi o mais difícil de engolir. Nos últimos seis meses, eu só queria que tudo acabasse mesmo», lamentou, sendo que acabou por terminar o contrato com os ingleses e rumar ao Lille, a custo zero, onde foi emprestado durante uma época ao Boavista.

Angel Gomes a representar o Boavista na visita ao terreno da BSAD, em 2021

«Acreditava em mim, mas, na altura, pensei: 'Onde é que eu me meti...' não sabia até ter uma reunião com o treinador, Vasco Seabra. Ele levou-me para uma sala e começou a passar clips de jogos em que eu tinha feito coisas boas. Ele disse: 'É disto que eu preciso. Vais ser um dos jogadores mais importantes desta equipa. Não quero exercer pressão sobre ti. Não me interessa a tua estatura. Só quero que venhas todos os dias e te divirtas’. Lembro-me de ir para casa nesse dia e de pensar: ‘Ena, que refrescante’. Não consigo exprimir em palavras o quanto ele me ajudou, porque na altura eu estava muito em baixo. A partir daí, adorei», finalizou.