Benfica Ação contra o Benfica: as explicações de César Boaventura
O agente César Boaventura avançou com uma ação contra a SAD do Benfica, pedindo uma indemnização de 984 mil euros (800 mil euros mais juros) pela transferência do lateral-esquetdo Nuno Tavares para o Arsenal, em 2021.
Recorde aqui as explicações do empresário sobre este caso, na entrevista concedida recentemente ao nosso jornal na sua residência, uma vez que se encontra em prisão domiciliária no âmbito da Operação Malapata, suspeito num megaesquema de fraude fiscal e branqueamento em negócios do futebol.
— Luís Filipe Vieira ficou a dever-lhe algum dinheiro?
— Ficou. Da venda do Nuno Tavares. Quem me deve é o Benfica, mas não foi por culpa dele, foi porque tem um diretor desportivo, que era o diretor geral e que foi despromovido e afastado do balneário por dar informações para fora, que não é uma pessoa séria. Estou a falar do Rui Pedro Braz porque ele fez o negócio de Nuno Tavares comigo e não paga.
— Esse negócio é uma comissão de 800 mil euros?
— O negócio do Nuno Tavares, até para informar as pessoas, as novas supostas pessoas que estão dentro do Benfica, e que que não são todas porque Rui Costa já lá estava. O negócio do Nuno Tavares começa com um jogador chamado Mattéo Guendouzi. Eu tinha apresentado esse jogador ao Benfica por dois milhões de euros mas o Benfica não o quis e ele foi para o Arsenal. Em 2021 o jogador despertou interesse no Benfica, viram quem o tinha apresentado e telefonou-me o presidente Luís Filipe Vieira a dizer-me para ver quanto é que o Arsenal queria pelo jogador. Eu conheço bem o dono do Arsenal e o Edu Gaspar [diretor técnico] e liguei a perguntar valores para o Benfica contratar o jogador. Como o Edu estava no Algarve eu fui até lá para falarmos. Pediu-me 16 milhões de euros e como sabia que o Nuno Tavares era para sair tentei envolvê-lo no negócio para baixar o valor. O negócio não se fez porque Guendouzi recusou o Benfica e preferiu regressar a França. Dias mais tarde plantei uma notícia num jornal estrangeiro a dizer que um clube queria o Nuno Tavares. Não era verdade.
— Andou a plantar notícias?
— Plantei uma. É o meu trabalho e eu tenho de vender jogadores. Peguei nessa notícia e falei com o Arsenal a dizer que se quisessem Nuno Tavares tinham de ser rápidos. Perguntaram-me valores e então falei com o novo diretor geral do Benfica.
— Porque é que não falou com Luís Filipe Vieira nessa altura?
— Porque respeitei a pessoa que tinha começado a trabalhar no Benfica na respetiva função. Então mandei mensagem a Rui Pedro Braz que me disse que o Benfica vendia o jogador por oito milhões de euros. Comuniquei os valores ao Arsenal e fiz o negócio. Coloquei Rui Pedro Braz em contacto com Edu e tem aqui a prova das conversas que tive com eles sobre este negócio [entrega folhas com a impressão das conversas]. Faço o negócio entre os clubes por oito milhões de euros. As conversas que tive com Rui Pedro Braz provam que fui eu que fiz o negócio. No dia a seguir, ou dois dias depois, Luís Filipe Vieira foi detido e não recebi a minha comissão. Questionei Luís Filipe Vieira sobre isso e ele disse-me ter sido informado por Rui Pedro Braz de que ele é que fez o negócio e não eu. Uma vez que Vieira foi detido esperei que resolvesse a situação dele e fui falando com Rui Pedro Braz e vi um afastamento. Ou seja, de uma pessoa que sempre foi correta já era um bandido e que tudo o que estivesse ligado a Vieira acabava no Benfica pois quem mandava era ele. Ou seja, o Jorge Mendes fez tantos negócios com Viera e continua a fazer. Nesse caso, já não havia ligação? Funcionários como o Miguel Moreira, Domingos Soares de Oliveira, entre muitos eram da parte do Luís Filipe Vieira e ainda estão dentro do Benfica. O que eu fiz de mal? Fiz um negócio. A quem é que ele pagou a comissão? Ao agente do jogador pagou cinco por cento. Mas e a comissão da venda? A quem pagou?
— Mas você não era o empresário do jogador?
— Não. Mas Jorge Mendes também vendeu Enzo Fernández e não era empresário do jogador. Foi intermediário e o Benfica pagou certamente a comissão a que ele tinha direito.
— Pediu os 800 mil euros a que diz ter direito?
— Sim. Enviei um email ao então novo presidente do Benfica com uma cópia das mensagens e não obtive resposta. Liguei-lhe e Rui Costa disse-me que este assunto tinha de ser esclarecido. Enviei a fatura para a doutora Célia Falé que me mandou uma resposta a dizer que não reconhecia aquilo.
— Não reconhecia porquê?
— Não sei. Não me deu explicações. Disse que não reconhecia a fatura. Então falei com o advogado e como não quero agir judicialmente contra o Benfica, porque tenho muita estima por pessoas do Benfica, inclusive pelo presidente, e porque até hoje o Benfica nunca falhou com ninguém. Nunca ouvi nenhum empresário a queixar-se e só depois de Vieira sair é que há empresários a queixarem-se de que o diretor desportivo, o antigo diretor geral despromovido, só faz negócios com quem lhe interessa. Eu não vou entrar nesse esquema e o que eu quero é esclarecer. Acredito que ainda existe gente séria dentro do Benfica e que vão pagar. Então recorri ao antigo presidente e pedi-lhe para ser minha testemunha para que eu possa receber o meu dinheiro. Então, ele fez, e assinou, uma declaração a explicar exatamente tudo. Essa declaração diz que à data em que ele era presidente do Benfica me deviam a comissão de 10 por cento da transferência do Nuno Tavares. Essa declaração é de 22 novembro de 2022, mas ele refere-se que à data da sua presidência me ficou a dever esse dinheiro.
— Já falou com Rui Pedro Braz sobre tudo isto?
— Eu nunca bloqueei um presidente, um agente do meu telefone e ele bloqueou-me no telemóvel. Rui Pedro Braz fala muito mal de mim a toda a gente e mais alguma porque deve ter o rabo preso, mas não é comigo. A mim deve-me dinheiro. Não é o Benfica que me deve. O Benfica é um clube sério. Sei que o presidente do Benfica é uma pessoa séria. O senhor Rui Pedro Braz é que deve ter alguma coisa a esconder, mas isso não compete a mim. O Benfica é regido pelas pessoas que lá estão dentro. Cada uma tem a sua posição na estrutura e cada um tem de assumir os seus atos e que certamente quem fez o negócio comigo, que lá está, não assumiu. Respeito muito o Benfica enquanto instituição e vou esperar pelo final desta temporada para agir judicialmente, se até à data o valor não for pago. Uma coisa eu vou garantir: não vou pactuar com pessoas de mau íntimo e mau caráter. Eu vou pactuar sempre com pessoas honestas e corretas. Até à data falam muito mal do César, mas o César é a única pessoa que não está condenada com o caso transitado em julgado e que não se escondeu nem fugiu para Vigo. Continuo aqui de pedra e cal. E vou continuar.