CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO A vantagem de ter com quem aprender… (artigo de José Manuel Delgado)
Como tive oportunidade de escrever no editorial da edição de hoje de A BOLA, começar a planificar, em abril, a operação logística que pode desaguar no regresso às competições dois meses depois, parece razoável e fazível.
As várias entidades do futebol, FPF, Liga, Sindicato dos Jogadores, APAF, ANTF - inevitavelmente coordenadas não só com a Direção Geral de Saúde, mas também com o ministério da Educação, que tutela o Desporto e com o ministério da Saúde – deverão estabelecer uma plataforma operacional que crie condições para que a sobrevivência desta indústria seja salvaguardada. Confesso que tenho enorme confiança na capacidade criativa, competência e responsabilidade, de quem está à frente da FPF, e devo dizer ainda que as reservas iniciais que tive relativamente a Pedro Proença se desvaneceram, pela visão que tem demonstrado (pena é que não tenha uma capacidade autónoma de voo mais alargada, agarrado que está, institucionalmente, a clubes a clubes que se agarram à árvore que são – uns eucaliptos, outros pinheiros, uma ou outra bananeira e poucas sequóias – e não conseguem ver a floresta).
De qualquer forma, neste particular do regresso das competições futebolísticas, Portugal terá a mesma vantagem que teve na abordagem à Covid-19: como o mal chegou primeiro e em força a outras paragens, tivemos possibilidade de aprender com os erros alheios, de corrigir ainda em tempo útil algumas trajetórias mal calculadas, e assim chegámos a um ponto em que não registamos os danos dos nossos vizinhos.
Para o futebol, será sinónimo de inteligência observar atentamente os modelos que vão ser implementados por exemplo na Alemanha, quiçá a seguir em Itália, e em estudo avançado em Inglaterra e Espanha. Não virá mal nenhum ao mundo se tivermos a humildade de copiar o que for bem feito e, ao mesmo tempo, ir à procura de melhores soluções, se naquilo que os outros vão fazer antes de nós encontrarmos fragilidades. Porque a fita do tempo, desta feita, tem estado a nosso favor.
Montar uma operação tão complexa como a que nos pode conduzir a termos futebol à porta fechada em junho ou julho, requer capacidade, ousadia e muita responsabilidade. Se for possível colocar em pé tal empresa, dentro de condições sanitárias que mereçam o aval das autoridades de saúde, há que tentá-lo, na certeza de que o futebol, neste momento de tanta fragilidade, será eternamente grato a quem levar esta nau a bom porto.
Um desafio mais, nestes tempos de tantas provações…
PS – A foto que ilustra esta crónica é de um treino do Bayern de Munique realizado na última quinta-feira.