A história do leão que teve final feliz (crónica do Boavista-Sporting)

A história do leão que teve final feliz (crónica do Boavista-Sporting)

NACIONAL30.10.202323:24

Geny, a surpresa que foi trunfo de Rúben Amorim. Boavista chegou a estar na berma do empate. Sporting à beira de ser líder no derbi

Três pontos de diferença para os seus mais diretos rivais na liderança isolada do Sporting, depois da importante vitória no Bessa, onde o Benfica tinha deixado a sua primeira e até agora única derrota. Importante, por ser um jogo tradicionalmente difícil, importante porque superou a pressão de ter de voltar a ser líder e ainda importante porque aproxima muito a equipa do objetivo anunciado por Rúben Amorim, que sonha em chegar ao derbi, na Luz, isolado, à frente do campeonato.

Não foi, porém, uma vitória fácil, nem sequer uma vitória controlada. O Sporting procurou ser uma equipa racional, sem impôr ao jogo um ritmo muito intenso, chegou ao primeiro golo com naturalidade e lógica, numa fase de maior domínio, mas teve momentos em que se viu obrigado a saber sofrer e em que viu o adversário andar nas bermas do empate.

A surpresa de Geny

Rúben Amorim apostou numa surpresa para trunfo maior no jogo. Colocou Geny Catamo como titular e com a particularidade de jogar na ala direita, não tanto como um lateral adiantado no habitual sistema de 3X4X3 dinâmico, mas um verdadeiro ala, o que obrigou uma dupla função de Diomande a fechar o corredor defensivo desse lado e à constante movimentação de Edwards para as zonas interiores do terreno.

Veloz, criativo, audaz, Geny Catamo tornou-se na principal figura desequilibradora do Sporting, oferecendo ao seu treinador a prenda mais desejada, de um golo magnífico, em remate de primeira e numa situação em que apareceu liberto de marcação na área do Boavista.

Em vantagem, no intervalo, o Sporting conseguia um primeiro e essencial objetivo, obrigando o Boavista a fazer as despesas do jogo na segunda parte, tomando iniciativa, arriscando e abrindo espaços para contra ataques letais.

Dois momentos decisivos

Como se veria, o jogo estava longe de estar jogado. Petit mandou a sua equipa jogar mais subida, arriscou, de facto, com uma pressão alta sobre a primeira fase de construção do Sporting e causou evidentes incómodos e momentos de muita intranquilidade.

Surgia, porém, cedo, um lance que poderia ter liquidado, de vez, a ambição do Boavista e o jogo. Um erro de Abascal ofereceu a Edwards uma oportunidade de golo em bandeja de prata. O avançado do Sporting desperdiçou o lance numa finalização caricata.

Pressentiu-se, na altura, que esse acabaria por ser um lance decisivo, caso se mantivesse a tradição futebolística que nos diz que quem não mata acaba por morrer. E assim teria sido se o excelente remate de Bozenik (76 minutos) não tivesse acontecido apenas 27 centímetros à frente do traço mortal do VAR.

E em dois lances se terá jogado, pois, a sorte das duas equipas no jogo. Nada de estranho em futebol.

E Pote mata o jogo

O golo anulado não roubou ânimo nem esperança ao Boavista. A equipa acreditava que, mesmo que não conseguisse virar o jogo, haveria de chegar ao empate. Pressionou mais, obrigando os centrais do Sporting a jogarem longo, sem pretenderem guardar a bola, e abriu o seu ataque com alas junto à linha e mais gente com presença na área.

O jogo estava, pois, em aberto quando Pote, num gesto de maestro da filarmónica de Nova Iorque, fez do cruzamento de Esgaio um golo definitivo. Aos oitenta e cinco minutos de jogo, tudo se resolvia a contento de Rúben Amorim. O golo marcou o fim da discussão. O Boavista desistiu, o Sporting respirou de alívio e conseguiu, enfim, exibir-se. Poderia ter feito mais golos nesse período final, mas seria demasiado cruel, se é que os deuses do futebol alguma vez aceitarão os frágeis sentimentos dos pobres humanos.

No fim da história, uma conclusão feliz para o leão que viu reforçar a sua posição de rei no campeonato. É só à nona jornada? É verdade. Muito jogo ainda está por jogar, mas ser líder anima muito.