A história do canário audaz e dum lobo que era mansinho (crónica)
Jogadores do Estoril tentam tirar a bola a Nico Mantl (Foto Paulo Novais/LUSA)

Arouca-Estoril, 1-1 A história do canário audaz e dum lobo que era mansinho (crónica)

NACIONAL16.03.202519:08

Justiça no resultado chegou no período de compensação, que ainda teve polémica mesmo à beirinha do fim

O Estoril é conhecido como os canarinhos, enquanto os homens do Arouca como os lobos da Serra da Freita. A lei da selva diria que o animal carnívoro teria mais possibilidades de sobreviver mas assim não aconteceu no Municipal arouquense, no qual o canário, em desvantagem desde muito cedo do jogo, nunca se entregou a um destino que parecia traçado e foi recompensado pela audácia no tempo de compensação, através dum penálti indiscutível de Chico Lamba, que até estava a ser dos melhores da equipa de Vasco Seabra, sobre Alejandro Marqués, com o hispano-venezuelano a ficar encarregue de bater o castigo máximo, no qual não deu hipóteses a Nico Mantl.

Estávamos no minuto 90+2 mas ainda haveria tempo para muita polémica, com Henrique Araújo a ainda introduzir a bola na baliza do estreante na Liga Kevin Chamorro mesmo à beirinha do fim, numa jogada em que também há penálti sobre Jason, mas o lance acabaria anulado por fora de jogo do espanhol.

Este é o resumo da fase final do encontro, mas há muito mais para contar. O jogo começou com duas ameaças sérias do Estoril, com Begraoui desmarcado e em boa posição mas a chutar torto e Xeka, num remate violentíssimo, a deixar a trave da baliza de Nico Mantl a abanar muito. Os deuses do futebol pareciam nada querer com o Estoril e no minuto seguinte a Lei de Murphy — «qualquer coisa que possa correr mal vai correr ainda pior» — aplica-se por completo à equipa de Ian Cathro. Bola na direita do ataque dos da casa, Trezza cruza para a área, Chamorro tem uma péssima abordagem, a bola bate em Sylla e entra na baliza estorilista.

O Estoril tem mais posse de bola e começa a acercar-se da área do Arouca, que perde por lesão o capitão David Simão, o homem que costuma definir os ritmos da equipa, entrando Pedro Santos, que até nem esteve nada mal. Do lado dos homens da Linha, João Carvalho está apagado mas Guitane, sobre a direita, começa a aparecer e numa incursão à área contrária remata em excelente posição mas Chico Lamba, com um corte in extremis, impede o empate.

Na segunda parte não se altera o cariz do jogo, o Estoril tem nova oportunidade, desta feita por Begraoui, mas novamente Chico Lamba faz tremendo corte (62'). Ian Cathro, que quer uma equipa com big balls, não está satisfeito e arrisca tudo e coloca a equipa praticamente num 4x2x4 e a equipa consegue o golo no tal penálti de Marqués. Justa recompensa para um canário atrevido e castigo para um lobo que foi muito mansinho no ataque à baliza contrária, fechando demasiado cedo as linhas para tentar segurar a vantagem.

Contas feitas, um ponto para cada um, com o Estoril a continuar tranquilo na tabela e o Arouca à procura dos pontos necessários para a manutenção: tem 29 e com mais cinco, em princípio, salva-se.

A figura: Pedro Santos (6)

O médio entrou para o lugar do capitão David Simão e não sendo tão criativo como esquerdino, soube comandar os tempos de jogo e as movimentações duma equipa que esteve encolhida durante grande parte do tempo. Esta distinção estava para ser entregue a Chico Lamba, que teve dois cortes providenciais a adiar o empate estorilista, mas o internacional sub-21 cometeu o penálti sobre Alejandro Marqués e borrou a fotografia,

As notas do Arouca: Nico Mantl (5); Tiago Esgaio (5), Chico Lamba (5), Fontán (5) e Weverson (4); David Simão (5) e Fukui (5); Trezza (6), Jason (6) e Sylla (6); Dylan Nandín (4); Pedro Santos (6), Puche (4), Yalcin (4) e Brian Mansilla (—)

O melhor em campo: Alejandro Marqués (7)

Quem sai do banco de suplentes para sofrer um penálti e converter o mesmo tem de, obrigatoriamente, ser considerado com o melhor jogador em campo. Na primeira volta já tinha colocado a sua marca no encontro da Amoreira diante do Arouca e o hispano-venezuelano consolidou-se como o melhor marcador do Estoril esta temporada, já tendo assinado por baixo nove remates certeiros só na Liga.

As notas do Estoril: Kevin Chamorro (4); Boma (5), Pedro Álvaro (5) e Bacher (5); Wagner Pina (5), Xeka (5), Holsgrove (6) e Pedro Amaral (6); Guitane (6), Begraoui (5) e João Carvalho (6); Gonçalo Costa (6), Alejandro Marqués (7), Orellana (5), Pedro Carvalho (5) e Salazar (—)

As reações dos treinadores

Vasco Seabra (Arouca)

Houve mérito do Estoril. Jogo muito difícil, mais difícil que fizemos com bola. Não há equipas que não sejam batidas em pressão, mas fomos conseguindo aguentar. O Estoril tem duas ou três situações. Com bola, na primeira parte, não estávamos a lidar bem com a pressão tão alta, não estávamos a conseguir bater a primeira fase de pressão. Só no golo. A equipa trabalhou muito e tenho muito orgulho. Conseguimos lidar muito bem com isso. Fomos desbloqueados em situação de penálti. Não gosto de falar disto, mas na Champions não era marcado. O VAR não seria chamado

Ian Cathro (Estoril)

Tento o máximo não andar nessa conversa de café de se ganhámos um ponto ou perdemos dois. Olhando para o jogo, acho que fizemos grande jogo. Bom futebol. Dá para vender bilhetes para ver nossa equipa. Gosto de ver. Não vale a pena dizer se foi justo ou injusto. Não controlámos todos os momentos do jogo. Temos que aceitar os nossos erros e melhorar. Vai ser esse o nosso sucesso. Vamos querer jogar sempre