As sementes do sucesso
Tribuna Livre é um espaço de opinião em A BOLA, este da autoria Nuno Laurentino, candidato da Lista A a secretário-geral do Comité Olímpico de Portugal
1 — Num dos melhores momentos do Desporto português, como é unanimemente reconhecido, em que se estrutura o desenvolvimento do Desporto a três ciclos olímpicos, é um bom exercício olhar para trás e perceber o meritório caminho que teve de ser percorrido pelas nossas federações desportivas.
Recuando esses precisos 12 anos, e confesso que não é inocente, constatamos que foi precisamente em 2013 que se deu um dos mais violentos cortes no financiamento público ao sistema desportivo, atingindo todas as federações desportivas de forma abrupta, em cerca de 20% do seu orçamento.
Para as federações desportivas, o financiamento das suas atividades regulares corresponde aos meios com que estas estruturam os quadros competitivos, com que projetam as primeiras participações internacionais de jovens promessas e também os custos, cada vez mais desafiantes, que suportam todas as Seleções Nacionais nos diversos escalões, sexos e respetivos planos de preparação. É um trabalho invisível de anos, que significa a base de todo o sistema desportivo.
Os resultados desportivos de uma modalidade são altamente dependentes de previsibilidade, planeamento e oportunidades competitivas, que acolham o trabalho realizado nos clubes, por treinadores e equipas técnicas.
Ora, tendo por referência que muitas federações desportivas dependem, maioritariamente, do financiamento do Estado, este corte nestas rubricas em 2013, motivado pelo período de intervenção da Troika em Portugal, veio suprimir a atividade das federações no centro nevrálgico daqueles que são os meios de estímulo de qualquer início de carreira de alto nível de atletas, treinadores e dos meios de treino a estes disponibilizados. A nossa capacidade de ir a jogo, no cenário internacional dos vários escalões, foi seriamente afetada.
2 — Apenas passados 10 anos, as federações desportivas vieram a recuperar os mesmos índices de financiamento de 2012.
Não sei onde estaríamos sem as consequências destes cortes, pois nunca saberemos quantos atletas se perderam por falta de oportunidades competitivas.
Apesar disto, são inúmeras as modalidades desportivas que, neste quadro de restrições no seu financiamento regular, foram capazes de entregar ao País novos talentos e resultados de excelência no panorama internacional, fruto da persistência do seu trabalho.
Os exemplos são múltiplos, do ciclismo à canoagem, passando pelo judo, para dar três exemplos nas modalidades individuais, e o andebol nas coletivas, que comprovam a diversidade desportiva que atinge os mais altos patamares desportivos europeus, mundiais e olímpicos.
Fundamentais foram os investimentos feitos em infraestruturas especializadas de treino, como os Centros de Alto Rendimento, com as autarquias a assumir um papel central na sua viabilização e no apoio regular.
Quando há falhas nos apoios em momentos críticos da carreira, aliada a uma deficiente conciliação da carreira desportiva e académica, é difícil reter atletas no sistema e fomentamos o abandono desportivo.
Estas debilidades financeiras têm ainda uma outra consequência altamente preocupante em algumas federações, pois a meritocracia, enquanto valor inalienável, não é garantida quando aceitamos que os custos de Seleções Nacionais, que devem ser assegurados em exclusivo pelas federações, sejam suportados pelas famílias dos atletas.
O Alto Rendimento tem implícito um escrutínio internacional constante, por via de classificações ou rankings mundiais, onde os calendários, as viagens e os estágios representam cada vez maior pressão financeira.
Julgar que o financiamento não é absolutamente central na capacidade competitiva das modalidades, sobretudo ao nível do Alto Rendimento, é puro lirismo.
3 — Há um Programa que tem contribuído para atenuar estas debilidades e que projeta o futuro dos talentos gerados nas nossas modalidades. As Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola, as conhecidas UAARE, estão hoje implementadas no país, abrangendo 28 Escolas, envolvendo 719 professores, apoiando cerca de 1400 alunos-atletas oriundos de 355 clubes, distribuídos por 47 modalidades desportivas.
Este Programa, concebido entre os setores da Educação e do Desporto, comporta cerca de um milhão de euros em créditos letivos no ensino público, beneficia do envolvimento e do apoio material por parte dos municípios, induz tranquilidade nas famílias e tem assegurado níveis máximos de resultados e de retenção de atletas no sistema desportivo. Complementarmente, promove o sucesso do pós-carreira.
Citando um exemplo concreto na minha modalidade, o Diogo Ribeiro, bicampeão mundial, é sinalizado com esta necessidade de apoio numa Escola em Coimbra, antes mesmo de integrar as primeiras seleções jovens. Desde então, já em Lisboa, numa escola especializada em Ensino à Distância, veio a concluir o 12.º ano.
Defendo, por isso, um Comité Olímpico ainda mais envolvido no trajeto desportivo que antecede a chegada ou a reentrada de atletas no Programa de Preparação Olímpica. Do seu enquadramento técnico, ao papel do clube, dos meios de treino ao enquadramento escolar e académico, tendo a federação como ligação primordial.
Aprofundar o alcance do Programa de Esperanças Olímpicas com estes princípios deve ser um desígnio assumido.
4 — É colocando o trajeto de carreira dos atletas, e as suas diversas componentes, no centro da nossa ação que me posiciono, integrando uma equipa focada em acompanhar as federações na sua capacidade de gerar e reter talento.
É pelo conhecimento que tenho das modalidades que sinto que posso ajudar, honrando os atletas olímpicos, nesta missão de assumir o cargo de Secretário-Geral do Comité Olímpico de Portugal.
Acredito que a liderança do COP exige uma personalidade que inspire confiança e capacidade de unir a família olímpica em torno de um objetivo comum: o sucesso de todo o desporto português no panorama internacional.
Esta equipa, com passado e provas dadas, sob a liderança de Laurentino Dias, irá cumprir o desígnio de unir todo o olimpismo.