Um cartão vermelho aos pais
Quem tem filhos no desporto deve fazer o teste de ver a série «Ganhar ou Perder», da Pixar, e avaliar os seus comportamentos; 'Para lá da linha´ é uma opinião semanal
Ver desenhos animados nunca é, para mim, um fardo. Na semana passada propus vermos em família a série «Ganhar ou Perder», da Pixar, disponível no streaming do Disney+ e também no YouTube. É sobre uma equipa de softball dos Estados Unidos – como o beisebol, mas com equipas mistas – de miúdos a entrar na adolescência. A série passa-se ao longo de uma semana, entre dois jogos dos Pickles, e cada episódio é contado do ponto de vista de uma personagem e das suas inseguranças e medos na escola ou na vida pessoal: jogador bom, jogadora má, uma mãe, a melhor jogadora, um irmão, jogadora nova, um árbitro e o treinador.
E é este último episódio, baseado na semana do treinador, que devia ser de visualização obrigatória para todas as pessoas que têm filhos no desporto e que resolvem comportar-se com atos que os envergonham: a autoridade do ‘coach’ é posta em causa por pais que querem ser treinadores, pais que estão só a ver. A raiva destes, os seus gritos da bancada, manifesta-se com a transformação em bichos e o trepar do gradeamento a a quebrar o campo protetor do campo, e com disparos, tiros em fogo, na direção do treinador e do árbitro - cujo ‘superpoder’ foi desenvolver uma armadura e um escudo. Pudera.
O trailer:
Muitos pais, feliz ou infelizmente, vão rever-se naquelas atitudes animalescas, de descontrolo, gritos e até oferta de violência física. Acontece todos os fins de semana em jogos de crianças de idade tão terna como dez anos. Pais que querem tirar satisfações com outros pais, até com menores de idade. É um cartão vemelho para eles.
Cada criança que a vir poderá identificar-se também com a miúda que carrega um monstro de suor quando fica ansiosa, com o brincalhão que afinal tem um coração frágil, com a menina que parece mais responsável que a mãe solteira, com a garota que é pressionada por um pai que lhe transmite que nunca está a fazer o suficiente - e aqui a mensagem tanto vale para o softball como para as notas escolares.
Pela minha parte, mostro um cartão branco, aquele do fair-play, a esta série. Quem ficou a ganhar fui eu.