A diferença entre as contratações e os reforços, os «palhaços joguem à bola» e as portas do Olival «abertas toda a noite»: tudo o que disse Sérgio Conceição

A diferença entre as contratações e os reforços, os «palhaços joguem à bola» e as portas do Olival «abertas toda a noite»: tudo o que disse Sérgio Conceição

NACIONAL08.01.202413:07

Treinador escalpelizou o momento que atravessa a equipa, falou de Nico González e Iván Jaime, dos apupos recebidos pelos adeptos e pouco de mercado na conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Estoril da Taça da Liga

-- Que FC Porto podemos esperar depois dos outros jogos com o Estoril? 

-- FC Porto a fazer coisas diferentes do que fez nesses jogos, principalmente no da Taça da Liga. No campeonato em casa tivemos muitas situações para ganhar, mas o que conta são as bolas dento da baliza e o que não se sofre. Mas fazer mais do que fizemos nos últimos jogos com o Estoril.

-- No jogo com o Boavista, analisou o lance com Eustáquio, considera que devia ter sido marcado penálti? FC Porto tem ou não necessidade de reajustar o plantel?

 -- Os lances nos jogos passados são vistos e revistos por toda a gente, não há que falar nisso, mas sim desejar à equipa de arbitragem que seja feliz no jogo de amanhã. Em relação às portas do Olival, estão toda a noite abertas, começamos a chegar às 7 horas, é o trabalho diário que fazemos aqui.

-- A insatisfação dos adeptos teve efeitos nos jogadores e equipa técnica? 

-- O apoio dos adeptos é fundamental e tem sido total ao longo da época. Estou aqui há 30 e tal anos e sempre foi igual. Muito apaixonados pelo clube, querem vitórias em todos os jogos... Sabemos que é assim. Não deixaram de nos apoiar no último jogo, isso é de louvar e é isso que esperamos amanhã na Amoreira. O jogador tem de ouvir aplausos, alguns assobios, alguns nomes que saem da bancada, é natural de adeptos apaixonados que gostam do clube. Não é só no FC Porto, quando se ganha é tudo bom, quando se perde nem tanto.

-- FC Porto tem de fazer coisas diferentes, quais são essas coisas? Que falhou nos jogos com o Estoril? 

-- Falo do último jogo da Taça da Liga, a atitude competitiva que temos de ter, tem de estar sempre presente porque senão os adversários conseguem equilibrar os jogos. No jogo com o Boavista, muito agressivo, muito organizado defensivamente, num bloco mais baixo, ocupando o seu terço defensivo, o que não aconteceu nos outros jogos, com o Gil Vicente e com o V. Guimarães. As equipas mudam, os treinadores têm as suas estratégias e nós só temos de ser fiéis ao que somos. Se a atitude estiver lá, a boa agressividade no jogo, disputa constante pela bola, presente nos duelos ofensivos e defensivos, isso faz depois a diferença. Quem ganha mais duelos no jogo ganha os jogos. Essa é a base. Depois temos de ter uma outra situação no nosso jogo para tentar explorar algumas fragilidades do Estoril e ter atenção em algumas situações que nos criaram problemas. O Estorl tem um grupo de jogadores com qualidade, a verdade é que só perderam com o SC Braga e o Sporting desde outubro. Nós temos de pensar em tudo isso, nas tarefas que cada um tem de ter para sermos mais competentes.

-- Sente que o Nico González está já num patamar que lhe pode dar os minutos que desejava? 

-- Faz parte do percurso. O processo de adaptação, evolução do jogador, sou eu e a equipa técnica que avaliamos diariamente. Ando aqui há muito tempo, não sou cego. O Ivan Jaime, por exemplo, não fez pré-época. Quando o metemos ao nível dos colegas magoou-se. Meter o Iván Jaime para depois de 20 minutos não poder jogar mais... As pessoas não sabem de alguns pormenores que se passam aqui. Quando eles estão prontos, a reagir bem, a treinar sem nenhuma limitação, quando percebem o que queremos deles, aí fica mais fácil metê-los na equipa. Uma coisa é ter contratações, outra são reforços. São reforços a seu tempo. Gostaria de ter Messi e Ronaldo no seu melhor, esses seriam reforços. Não é só no FC Porto, é em todas as equipas. Sei que o adepto tem muita pressa porque noutras equipas esses jogadores davam respostas positivas, mas aqui no FC Porto é diferente. Com todo o respeito pelo Famalicão, o Nico veio do Famalicão, o Nico do Barcelona, onde jogava pouco. Metê-los porque somos simpáticos ou um jovem porque vem da equipa B? Não é por aí. Olho para os melhores, para os treinos. Todos podem ter vontade de ganhar, mas não têm mais do que eu.

-- Após o jogo com o Boavista, como avalia o atual momento da equipa?

-- Não vou falar das 17 vitórias seguidas na Taça, mas podia falar. Há coisas a melhorar, claro que sim. Por isso somos eternos insatisfeitos, podemos fazer mais e melhor. Se as oportunidades tivessem entrado, se tivéssemos ganho 3 ou 4-1 no Bessa, se calhar não tínhamos os 'palhaços joguem à bola' que tivemos no final do jogo. Faz parte. O futebol é isso. Queremos estar em primeiro, mas somos das 16 melhores equipas da Europa. Queríamos estar na final four, na liderança do campeonato, mas a verdade é que estamos a 5 pontos. Com isto não quero dizer que a exigência é menos amanhã.

-- Falta de consistência da equipa, há quem fale em crise de identidade. Saída de Otávio é um rombo? 

-- O FC Porto foi perdendo jogadores de grande qualidade e não foi por isso que deixou de se reinventar, sempre com o objetivo de ganhar. Se há crise de identidade sou que tenho. A equipa está lá, tenta meter cá para fora o que pedimos. Estamos aqui para trabalhar. 

-- A saída de Otávio trouxe mais dificuldades? 

-- Falamos de dois jogadores importantes [com Marega] que estavam aqui há alguns anos comigo. Mas não podemos pegar por aí, temos ali gente que pode corresponder, não de igual modo, mas encontrar equilíbrio e estabilidade com aqueles jogadores que temos à disposição. Não podemos dizer que quando ganhamos as coisas estão bem e que quando empatamos, perdemos essa dinâmica.

-- Como vê o apagão de Galeno no campeonato?

-- Não é culpa do Galeno, é do treinador. A culpa é sempre do timoneiro e eu assumo-a.

-- Como viu o comportamento do Estoril em Alvalade, onde foi goleado, relativamente aos encontros com o FC Porto?

-- Todos os jogos têm histórias diferentes. Temos de perceber que contra nós as equipas são agressivas, super dedicadas. A equipa do Estoril em Alvalade teve 11 remates, sete cantos, teve algumas situações que eu não vi acontecer noutros jogos, mas o Sporting levou o Estoril a errar. Os jogos são todos diferentes e cada treinador é que pode responder por essa questão. O que podemos controlar é a atitude competitiva no máximo, o ritmo alto, a intensidade, a agressividade, isso é inegociável na nossa equipa. Porque do outro lado estão sempre adversários muito moralizados.